7 de fevereiro de 2018

Filmes que marcaram a minha adolescência



Estava a ver o filme Tekken, baseado no jogo de Playstation com o mesmo nome, no canal Hollywood, e dei por mim a pensar que aquilo era capaz de ser o pior filme de sempre: actores péssimos, falas ridículas, realização amadora - excepto num ou outro plano a focar o rabo de uma das personagens femininas - e cenas de acção que deixavam muito a desejar. Depois, lembrei-me dos filmes que adorava em miúdo e percebi que eram quase todos iguais àquele. Enquanto as mulheres são influenciadas durante toda a infância por filmes da Disney que lhes dizem que basta serem bonitas e casar com um príncipe para serem felizes para sempre, os homens têm, para além desses príncipes, referências e exemplos diferentes. Os filmes que os rapazes vêem, colocam-lhes a pressão de terem de ser heróis: de terem de ser fortes e saber lutar, de terem de conseguir proteger as donzelas e, noutro tipo de filmes, de terem a pila grande.

Lembro-me de ir ao clube de vídeo e vasculhar por todos aqueles filmes os que eram de artes marciais e ofereciam uma boa hora e meia de porrada mal coreografada. Basicamente, se a capa ou o título tinha "ninjas" era para alugar. O ninja americano? Vi. Os três ninjas? Vi três vezes. O Ninja do Anal? Esse o meu pai disse que não era para a minha idade e pensei que fosse por ter demasiado sangue e violência, o que, pensando bem, era capaz de também ser verdade. Os anos 80 e 90 foram feitos do que aos olhos de hoje seriam maus péssimos filmes de acção, mas que marcaram uma geração e se tornaram icónicos. Um bom, ou mau, filme de acção dessa altura tinha de ter uma série de clichés incontornáveis:
  • Armas com balas infinitas. Num filme que já não me lembro qual, contei 21 tiros disparados de um revólver de seis balas.
  • Herói a babar e escorrer sangue, mas que no final arranja forças porque se lembra da mãe, do pai ou da nossa senhora e se levanta e acaba com o adversário;
  • O golpe final do último combate deve ser um pontapé rotativo no ar, especialmente no caso do Van Damme e do Chuck Norris;
  • Uma frase que ninguém diria quando mata o vilão principal;
  • Caminhar em câmara lenta enquanto algo explode em pano de fundo ou correr de algo prestes a explodir e mergulhar para a frente;
  • Carros que batem noutros e levantam voo.

Todos os filmes tinham um ou mais destes bonitos clichés. Nessa altura, o realismo era coisa secundária e se na filmagem ficava bem um carro a explodir depois ao passar por cima de um fósforo apagado, então era para adicionar à acção. Deixo alguns dos filmes desse género que me lembro com mais carinho.

Commando - 1985
Há muitos filmes em que a premissa é: raptaram a filha ao homem errado. Taken, mais recentemente, é um deles e é um excelente filme de acção, mas completamente adaptado de Commando. Ninguém mais errado do que o Arnold Schwarzenegger dos anos 90 para se raptar a filha. Talvez a maior estrela de acção de todos os tempos, fazia filmes em série em que a premissa era ele a matar tudo o que mexia, desde terrestres a alienígenas. Em Commando, o Arnold arma-se até aos dentes e distribui fruta a torto e a direito, matando 81 pessoas neste filme, o que dá quase uma média de uma morte por minuto durante o filme. Valente! É aquele tipo de filme que ainda hoje, se estiver a dar na televisão, fico a ver até ao fim. Marcou tanto a minha infância que perdoo os cerca de 987 erros, desde logo o facto de que se fosse realista, um gajo daquele tamanho ficava cansado nos primeiros cinco minutos do filme. O filme custou dez milhões a produzir em que nove devem ter ido para o Arnold e o restante foi gasto em explosões e figurantes que dão três mortais encarpados à retaguarda quando levam com um tiro. Se é para morrer, é para dar tudo e receber dez pontos do júri.

Força Destruidora - 1988
Talvez seja o filme de porrada que vi mais vezes. Numa altura em que as artes marciais mistas ainda não existiam, toda a gente gostava de pensar se o karaté ganharia ao boxe ou se um mestre de kung fu seria capaz de derrotar um segurança do Urban. Este filme trouxe-nos isso, num torneio sangrento em que cada concorrente tinha a sua especialidade. A do Van Damme era fazer a espargata, claro, habilidade que ele faz questão de mostrar em todos os filmes e que lhe veio a ser útil para ganhar uns trocos no anúncio da Volvo depois de estar um bocado na mó de baixo. Em Força Destruidora, a tradução que alguém em Portugal achou que ficava bem face ao título original Bloodsport, Van Damme faz-se acompanhar de um amigo gordo que também é lutador, embora não seja de sumo. Van Damme limpa toda a gente e no final o chinês grandão mau que fez de chinês grandão mau em todos os filmes que participou, joga sujo e manda-lhe pó para os olhos. O que ele não sabia era que Van Damme tinha sido treinado por um velhote que já desconfiava que ele ia ficar cego um dia e era ensiná-lo a lutar de olhos vendados ou dar-lhe um cão guia. Optou pela primeira e deu jeito. Com um pontapé rotativo no ar, claro, Van Damme lá ganha o torneio e papa a gaja. Clássico. Depois deste, o Van Damme fez mais cerca de 73 filmes iguais, mas passados em cenários diferentes. Depois, meteu-se nas drogas, no álcool e nas prostitutas e ficou na merda. Depois, fez o único bom filme da sua carreira, JCVD, que é muito bom e onde acho que merecia ter tido, pelo menos, uma nomeação para os Oscars. Não estou a gozar, se não viram vejam que é mesmo bom. Juro. Ninguém acredita, mas é verdade. Moral da história: se queres ser bom actor, dá nas drogas todas e perde tudo.

Delta Force - 1986
Para mim, Chuck Norris era só no Walker - O Ranger do Texas. Se isto não é o nome de série mais americano de sempre, não sei qual é. Nos filmes, meh, nunca gostei muito. Sempre achei que tivesse ar de tio e não de lutador, apesar de entre todos, ser o único que teve uma carreira de competição de sucesso nas artes marciais. Ainda assim, nunca gostei dos filmes dele. Tal com o Van Damme, acabava sempre com os vilões com um pontapé rotativo no ar, com a diferença de que o Chuck o fazia em calça de ganga e sapato de engraxar. Classe.

Rambo - 1982
O gajo que inspira toda a gente que vai jogar paintball e que acaba por ser o primeiro a morrer. Primeiro, andar na selva de tronco nu é a pior estratégia de camuflagem de sempre; depois, na vida real, as balas acabam e os adversários, mesmo que cegos, conseguem acertar uma ou outra bala. Nunca fui fã do Rambo e nem me lembro do filme, mas aposto que é isto: um ex-militar decide ter uma vida pacata a pescar ou a fazer renda de bilros, mas dá por si a ter de pegar em armas e ir salvar alguém. Varre um exército inteiro, têm uma faca grandona para aviar malta e para cortar chouriços e queijos pelo caminho, e salva toda a gente. Fim.

Karate Kid - 1984
Um panhonha choninhas aprende a lutar karaté para papar uma gaja que usava permanente. É isto. Diferente dos restantes, já que a acção aqui era secundária, mas a premissa é exactamente a mesma. Foi o melhor que aconteceu a muitos pais do mundo inteiro que depois disto metiam os filhos a lavar e encerar o carro e arrumar a loiça e diziam que era treino de karaté. Todos nós, depois de ver o filme, tentávamos fazer aquele pontapé em que ele parece uma garça com vontade de cagar. O golpe mais inútil de sempre numa luta real. Enquanto estás a levantar a perninha feito flamingo a pisar areia quente, já levaste com uma cabeçada à Cais do Sodré das ventas. 

Kickboxer - 1989
Van Damme a fazer de Rocky que pode dar pontapés. Ganha tudo. Fim.

Máquinas de Guerra - 1992
Com Van Damme e o outro herói de acção, muitas vezes esquecido, e que fazia, muitas vezes, de mau da fita: Dolph Lundgren. O Governo usa corpos de soldados para criar máquinas de guerra perfeitas: soldados alterados geneticamente que não sentem dor e têm bué força e cenas. Acaba como acabam todos os filmes do Van Damme: à porrada, mesmo tendo dezenas de armas de fogo disponíveis ao lado. Já estou no set «Vá, Jean Cláudio, agora pegas na metralhadora e matas o loiro e fechamos isto, ok?» e ele «Tenho uma ideia melhor... pontapé rotativo no ar, que tal?».

Menções honrosas:
  • Steven Seagal: Nunca fui muito fã do Steven. Sempre achei que um homem de rabo de cavalo não podia ser o herói que eu precisava na minha adolescência. Lutava como quem estava a enxotar abelhas e tinha um olhar de quem não está a conseguir identificar as letras da última linha no optometrista.
  • Jackie Chan: as lutas era muito bem coreografadas e ele não usava duplo o que o deixou em coma uma ou outra vez.
  • Bruce Lee: os seus golpes eram tão rápidos que tiveram de ajustar a velocidade das câmaras de filmar no filme Enter the Dragon para os conseguirem captar. Se fosse num filme porno era uma curta metragem. Morreu porque fez alergia a um ingrediente de um analgésico para a dor de cabeça. Andou o Van Damme a dar na droga anos e este 

E pronto, os filmes da minha adolescência foram muito isto. Era porrada ou tubarões. Bem, podem deixar nos comentários outros filmes dentro deste género que vos marcaram. Se quiserem umas dicas de filmes realmente bons para ver, podem ver estas sugestões que fiz em 2014. Porra, este blogue está a ficar velho.




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