7 de maio de 2018

Todas as opiniões são válidas



Quantas vezes, a meio de uma discussão, alguém que está prestes a perdê-la recorre à famosa frase "Todas as opiniões são válidas!". Torço logo o nariz e digo que isso é mentira. A outra pessoa refila e reafirma que sim, que todas as opiniões são válidas, ao que respondo "Então, mas a minha opinião é que nem todas as opiniões são válidas, mas se tu és dessa opinião, só tens de aceitar e respeitar a minha, já que todas as opiniões são válidas." Abre-se um buraco negro continuum espaço-tempo, a pessoa fica com um nó no cérebro e eu anuncio o check-mate.

Todas as opiniões podem e devem ser dadas, mas temos de aceitar que nem todas são, igualmente, válidas.

Por exemplo, dizer que a opinião de um físico teórico sobre mecânica quântica é igualmente válida à de um taxista sobre o mesmo tema, é palermice. Tal como o seria dizer que a opinião do físico sobre gajas bêbedas na noite é tão válida como a do taxista. Há assuntos para os quais é necessária uma especialização para se opinar em conformidade. No entanto, não quero com isto dizer que as opiniões, mesmo que estúpidas, não possam nem devam ser expressas; pelo contrário, penso que devemos incentivar os ignorantes a verbalizar a sua opinião para sabermos quem evitar, seja numa discussão ou na vida.

As pessoas queixam-se que as redes sociais vieram dar voz a todos os opinadores de sofá, mas, a meu ver, isso é excelente para a sociedade. Claro que custa ler centenas de observações homofóbicas e racistas numa qualquer caixa de comentários de um jornal online; custa, especialmente, devido aos erros ortográficos que, coincidência ou não, andam de mão dada com as opiniões abjectas. Andámos anos a pensar que as pessoas estavam mais civilizadas, mas com as redes sociais percebemos que estávamos errados e isso é bom! Agora que sabemos que essas abéculas ainda existem, aos magotes, podemos parar de varrer a ignorância para baixo do tapete e fingir que está tudo bem.

Por aqui se vê que a velha máxima de "Temos de respeitar as opiniões dos outros!" também é falsa. Foi por nem todos respeitarem as opiniões dos outros que se fizeram revoluções, se desafiaram dogmas, e a humanidade foi evoluindo. A opinião de um racista não deve ser respeitada nem é válida, apesar de ele ter todo o direito em ser racista e em dizer que o é. Se todas as opiniões fossem respeitáveis, teríamos um diálogo deste género:
- Acho que fazer sexo com crianças só lhes faz bem e as prepara para a vida.
- Pronto, eu discordo, mas são opiniões e temos de respeitar.
- Sim, sim, vamos concordar em discordar.

Aliás, as sentenças judiciais seriam muito mais simples:
- O senhor assassinou a sua mulher?
- Sim, senhor doutor juiz.
- E qual o motivo?
- Deixou queimar o arroz.
- E acha que isso é motivo suficiente para cometer homicídio?
- Ora bem, na minha opinião, é muito mais do que suficiente.
- Agora é que me complicou aqui o sistema porque na opinião da lei o que o senhor fez foi um crime, mas, agora, se você me diz que na sua opinião ela mereceu e, como tão bem sabemos, todas as opiniões são válidas, o julgamento terá de ficar sem efeito porque deu empate.

Se todas as opiniões fossem válidas, teríamos problemas no ensino:
- Pedrinho, em termos biológicos quantos géneros existem? - pergunta o professor de biologia.
- Na minha opinião, existem todos aqueles com os quais a pessoa se quiser identificar.
- Olhe que não, Pedrinho, em termos biológicos, existem apenas dois.
- Buh, fascismo! Nazismo! Capitalismo!

Bem sei que estou aqui recorrer ao exagero com situações que nunca aconteceriam na vida real (cof cof), mas posso dar-vos um exemplo mais realista e prático: na decoração cá de casa é notório que nem todas as opiniões são válidas. Tenho legitimidade para expressar o meu descontentamento face ao elevado número de almofadas que ocupam o meu sofá, mas, no entanto, essa minha opinião não é tão válida como a da pessoa que comprou as almofadas.

É atrás destas máximas de "Todas as opiniões são válidas" e "Temos de respeitar as opiniões dos outros" que se escondem algumas pessoas que não têm outros argumentos para perpetuar algo que está ultrapassado eticamente. Por exemplo, andam aí a rodar uns vídeos de uns estudantes de Évora em que enaltecem a garraiada.

Desde logo, achei inteligente meterem os bois e as vacas a falar para a câmara.

Depois, o "Quem não gosta não vê", variação das frases acima referidas, só se aplica quando valores básicos não estão em causa. Eles têm legitimidade para expressar a sua opinião? Claro que sim. É uma opinião válida quando colocada ao lado do que dizem biólogos e veterinários e face ao que a comunidade científica nos diz sobre o sofrimento animal? Não me parece. Talvez seja precipitado julgar esses estudantes apenas por uma opinião que pode estar inquinada por todo um contexto social e cultural, mas sou assim: julgo as pessoas. Bem sei que há quem afirme que "Não devemos julgar ninguém", mas quem diz isto são as pessoas que mais julgam os outros. Claro que devemos julgar os outros, é o que fazemos no dia a dia, sempre que observamos ou contactamos com outras pessoas. A humanidade nunca se tinha desenvolvido se não nos julgássemos a toda a hora. Cenário: estás num beco escuro e na tua direcção avança um homem, com uma faca na mão, e com uma cabeça decepada na outra e diz-te "Olhe, desculpe, precisava de uma informação". Se optares por não o julgar com base na primeira impressão, e decidires não fugir porque ele até pode ser boa pessoa, mereces, um bocadinho, que a tua cabeça seja a próxima a ser usada como porta-chaves.

Mas pronto, isto é só a minha opinião.




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