14 de agosto de 2015

10 tipos de personagens nas praias portuguesas



Acabei de vir de férias do Algarve e estive atento ao que se passava à minha volta. Identifiquei dez tipos de personagens que encontramos em qualquer praia portuguesa.

O poster
O poster é aquele gajo que vai para a praia pausar o seu cenário barraquê: tatuagem tribal no braço; Liliana em árabe, nome de quem ele pensa ser a sua filha; aqueles calções curtos e fluorescentes à Cristiano Ronaldo ou, caso não tenha tido tempo de os comprar, puxa os seus para cima, arregaçados a mostrar os quadríceps depilados. O poster nunca larga os óculos escuros da moda nem para ir para a água. Fica ali, a molhar os pés e a contemplar a linha do horizonte e a infinitude do universo. Isso e os rabos das gajas que passam, obviamente. Os posters, por norma, vão em bando, sem mulheres, e ficam sempre com um escaldão nas costas porque são incapazes de pedir a um amigo que lhes passe creme, com medo de lhes começar a apetecer um folhado de salsicha e estragar a dieta de batidos de proteína. O poster faz danças de acasalamento em pleno areal que passam por dar toques na bola, jogar às raquetes a atirar-se para o chão, ou a fazer rasteiras aos amigos e mostrar-lhes os truques que aprendeu a ver o UFC.

O gangue das poderosas
As poderosas são as fêmeas naturais dos posters. Vão à praia como quem vai para um casamento, casamento esse que parece o do Toy ou o da Luciana e do Yannick. Vão maquilhadas, cheias de brincos e pulseiras, e de sandálias de salto alto para empinar o seu rabo que, invariavelmente, vai destapado com com um bikini fio dental de cortinado, todo enfiado na gaveta. Nota-se que é um gangue porque todas têm uma tatuagem tribal ao fundo das costas, mostrando que são fieis às sua raízes. Quando vêem alguma criança que se esqueceu do ancinho, prontificam-se a ajudar com as suas unhas de gel pontiagudas, capazes de escavar na areia molhada até ao núcleo da terra. Depois, retiram a areia que ficou presa nas unhas utilizando o piercing do umbigo ou da língua. Passam a tarde toda a tirar fotografias aos pés, às pernas com o mar em pano e fundo e a tirar selfies para actualizar o perfil do Facebook de cinco em cinco minutos, acompanhadas de frases em brasileiro. Tiram, também, fotos a mostrar o rabo "sem querer", com citações ao género "A melhor curva do corpo de uma mulher é o seu sorriso", mostrando que confundem os conceitos de fio dental com fio dentário.

O Marcelo Rebelo de Sousa
Este personagem é o que leva o livro da moda para a praia. Portugal passou a ter mais leitores de praia há uns anos com o Código Da Vinci e esta moda voltou a surgir em força com a morte do Saramago, onde muita gente foi a correr comprar os seus livros para levar para a praia, não fosse ele aparecer em forma de ectoplasma e assombrar as casas de férias do Algarve. Este é aquele tipo de pessoas que escolhem o livro sem critério, olhando para o top FNAC e tirando da prateleira o que tem a capa mais bonita. Pode ser um José Rodrigues dos Santos, uma Margarida Rebelo Pinto ou um, Deus nos livre, Gustavo Santos com os seus títulos sugestivos: "Agarra o agora" e "Ama-te a ti mesmo", todos eles parecendo livros de auto-ajuda, mas à masturbação. Esta personagem só lê uma ou duas páginas de cada vez e vai alternando com a Revista Maria para descansar o cérebro em sobreaquecimento. 

O grupo da Linha de Sintra
Este grupo é uma espécie de best of de posters e poderosas. Neste grupo todos têm tatuagens, muitas das quais parecem aquelas que saíam no Bollycao, feitas por catálogo e sem qualquer significado a não ser o de mandar aquela pausa. Obviamente, neste grupo cheira a ganza e ouve-se música num rádio tijolo a pilhas ou num iPhone ligado a umas colunas, que o progresso chega a todo o lado, mesmo à linha de Sintra. Música, como quem diz, porque normalmente é uma kizomba comercial ou música electrónica trance, dubmix step, in tha nice fucking shit. Neste grupo fala-se alto e ouvem-se muitos "Cáralhos", com acento esdrúxulo e tudo, sem qualquer tipo de problema se há crianças à volta ou não. Para além de asneiras também se ouvem outras palavras feias como "Jéssica", "Carla", "Wilson" e "Sandro Miguel". Se eu fosse vendedor de bolas de Berlim, bastava-me cronometrar mais ou menos uma hora desde que começa a cheirar a ganza, para voltar lá a passar. Com a larica do THC acabavam-me logo com o stock e ia para casa mais cedo.

O que não tira a roupa
Há sempre alguém num grupo de pessoas que não tira a roupa, embora por razões diferentes. Há sempre um cinquentão que vai de calças de ganga e pólo, ao qual eu dou o nome de "o meu Pai". Há sempre um gordinho ou uma gordinha que deixou que a sociedade lhe vestisse um colete de forças que não conseguem tirar com medo de passar vergonhas. Há também os programadores, que metem creme factor 50 na cara e nas mãos e que nunca tiram a roupa com medo de perder o seu bronze informático e, com ele, a credibilidade em futuras entrevistas de emprego: "Você diz aqui que é programador avançado de C++... Com essa cor só acreditava se fosse indiano! Você é um aldrabão!". Há, depois, algumas mulheres que aparentam ter uma relação peso-altura dentro do normal, mas que optam por nunca tirar a roupa. Estas, obviamente, apanham no lombo e estão cheias de nódoas negras. Se tiverem de burka é apenas uma questão cultural e religiosa e não devemos brincar com isso.

O Mário Soares
Felizmente, há quem não ligue a essas parvoíces do culto da imagem padrão que a sociedade nos tenta impor. Acho muito bem que uma mulher tire a roupa mesmo quando a balança marca o red-line. Acho óptimo que se sintam confortáveis com o seu corpo e exibam toda a sua xixa no esplendor de um fio dental, ou de um bikini normal que parece um fio dental, tal a escala e perspectiva distorcida dada pelo naco de picanha. Volto a afirmar que acho muito bem e cada um usa o que quer, mas, como é óbvio, essa liberdade também me permite que vos diga que parecem o Mário Soares com umas cuecas na cabeça e as bochechas ao pendurão. Parecem aqueles rolos de carne aos quais se atou um cordel antes de ir ao forno e estão ali com a carninha toda arrepanhada que até é capaz de fazer mal e cortar a circulação. Nunca fazem qualquer tipo de desporto na praia a não ser para correr atrás do senhor das bolas de Berlim a quem pedem sempre duas, uma para a viagem, e sempre com creme. 

Os lambões
Há sempre um casal que acha que a praia é o melhor local para trocar carícias, especialmente abaixo do nível da cintura. Estão ali deitados só numa toalha, juntinhos, ela com a perna por cima dele, a dar beijos todos molhados e com as línguas de fora a entrelaçarem-se quais tentáculos capazes de fazer inveja a qualquer pescador de polvo. A real magia acontece quando eles se tapam com a outra toalha, em pleno sol a pique do meio dia, como quem está a sentir uma aragem fresca no umbigo e, mais vale prevenir que as constipações de Verão são muito perigosas. Começam então as ondulações debaixo da toalha, como quem fez alergia ao sol e precisa, urgentemente, de ser coçado por uma mão amiga. Pensam que estão a ser discretos, mas toda a gente percebe que eles estão ali com as mãos cheias de areia a esfoliar as peles mortas das zonas íntimas. Este espectáculo termina com ela a levantar-se e a ajeitar o bikini e a ir ao mar lavar-se, enquanto ele fica virado de barriga para baixo a fazer de avestruz. Sempre que vão colocar o chapéu de sol e o ferro espeta logo, é porque acertaram num local onde outrora esteve um destes lambões.

O frango do churrasco
Há sempre alguém, normalmente proveniente de países do norte, que a meio do dia já apresenta uma coloração que nos dói só de olhar. Já não é aquele típico vermelho vivo, mas sim uma cor de sangue pisado, já roxo e de pele encarquilhada que é óbvio que vai doer. Aquilo é carne que já está podre e cozinhada ao mesmo tempo e que já nunca mais lhes vai servir para nada. Não é um escaldão, é uma queimadura de terceiro grau para a qual não há creme hidratante e Aloe Vera que alivie. Aquilo é, basicamente, um cancro instantâneo e aquela pessoa vai falecer em poucos dias, ou pelo menos, vai desejar que isso aconteça de cada vez que for tomar banho e passar a toalha porosa naquela carne viva. Já tenho os testículos arrepiados só de pensar.


O queixinhas
Todas as praias têm um queixinhas. Pode ser homem, mulher, novo ou velho, o queixinhas é uma personagem transversal a todas as raças, credos e estratos sociais, sendo, no entanto, predominante nos mais elevados. O queixinhas diz que a água está fria, que está vento a levantar areia, que está muita gente, que está muito barulho, que há muitas mamas de silicone, que no tempo dele não havia bikinis a mostrar o rabo todo, que a cerveja já está a ficar quente, etc. Uma vez, vi um casal a queixar-se de tudo, desde as algas do mar até aos grãos de areia que não eram simétricos. O filho, vira-se para eles e diz "Podem parar de se queixar um bocadinho? Aproveitem a vida, há pessoas que a única vez que viram a praia foi para entrar num barco cheio de outros refugiados que depois naufragou e morreram todos". Ficou um ambiente estranho e a mulher disse "Lá está você com essas coisas, Bernardo.", enquanto passou a língua num dedo para continuar a folhear a revista Caras. Gente que trata os filhos por você não lambe, passa a língua. O problema é que a eles, em muitos síitos, ninguém lhes passa a língua, uma das razões de serem assim, palermas.


A família
A típica família portuguesa é uma das espécie autóctones a todas as praias nacionais. Sejam emigrantes ou não, o padrão é sempre o mesmo. Muita gente a falar alto, 37 chapéus-de-sol e 12 pára-ventos, todos montados qual obra prima da engenharia cigana. Mal assentam o acampamento, as tias velhas começam a gritar com os putos para virem pôr protector solar, enquanto os homens começam a abrir a geleira e a tirar as caricas com os dentes. Muitos desses homens usam bigode, têm um chapéu panamá a tapar a careca e, claro, usam uma cuequinha de banho a mostrar o enchumaço da tomatada com os pelos todos a brotar pelas virilhas quais ervas daninhas em campo selvagem. As mulheres da família fazem uma espécie de concurso masterchef, cada uma com a sua geleira a dar a provar as iguarias que passou a noite anterior a confeccionar. É sandes com ovo mexido, é croquetes e rissóis, é tupperwares com feijoada à transmontana, há de tudo e claro que não pode faltar o melão e melancia cortados aos cubinhos. Aí de quem disser à tia Júlia que a quiche da tia Clotilde está mais saborosa que a dela. "Pois, mas a tia Clotilde nunca trabalhou nem criou dez filhos com um ordenado mínimo". E pronto, está o caldo entornado e passam o resto do dia a discutir as desavenças antigas da família. O pior das famílias na praia são as crianças mal educadas. Ontem, na praia da Batata, em Lagos, assisti a uma cena daquelas dignas de um tutorial "Como não ser pai". Uma miúda, com os seus doze anos, estava farta de perguntar quando é que podia ir para a água. Os pais disseram-lhe "meia hora" e ela de dois em dois minutos voltava a perguntar, até que, vendo que ainda faltavam 20 minutos, começou a chorar, a estrebuchar e a rebolar-se na areia, num espectáculo que parecia algo saído do Cirque du Soleil ou de uma discoteca cheia de doentes epilépticos. Gritou e grunhiu qual javali a jogar à cabra cega num quarto cheio de pioneses no chão. Isto durou meia hora, todas as pessoas na praia a olhar para ela, a mãe a ignorar, o pai claramente a querer dar-lhe uma chapada com uma pedra da calçada, mas a não o fazer porque actualmente é mal visto bater nas crianças em público. Foram embora, com ela de arrasto aos berros e o irmão mais novo a dizer "Vamos embora? Olha Mariana, muito obrigado... por nada". Depois os cães é que estão proibidos de entrar nas praias... enfim.




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