3 de setembro de 2015

Fui a uma discoteca... sóbrio.



No passado Sábado cometi o erro de principiante de ir a uma discoteca da moda, em Lisboa, sem ter bebido o suficiente para adormecer um elefante que frequenta os Alcoólicos Anónimos. 
Um erro que alguém tão experiente quanto eu não deveria cometer. Devo confessar que fui de arrasto, como quase sempre acontece quando vou a discotecas, longe de serem o meu habitat natural. Não me interpretem mal, gosto muito de me divertir à noite e de dar o meu pezinho de dança. Claro que não me apanham a fazer o eskema! Se aconteceu foi numa noite da qual eu, felizmente, não tenho memória. Discotecas, para mim, nunca são o objectivo da minha noite, mas sim o sítio onde se acaba porque ainda se acha que é cedo para ir para casa e está tudo fechado sem serem os estabelecimentos de alterne.

Tinha ido jantar fora com a minha namorada e ela, depois de alguns copos de vinho, teve essa brilhante ideia. Eu, como excelente namorado que sou, bebi um gin de penalti e lá fomos. Segundo erro de principiante: ir à discoteca quanto se tem namorada. Uma namorada levar o cônjuge ao talho dançante é como alguém levar um vegan ao Chimarrão, só para ver, a fazer pirraça. O vegan faz por não olhar para a chicha, mas por dentro há uma parte dele que está a salivar para afincar o dente numa maminha com alho. Fui também com uma minha amiga que levou um gajo que se via que estava ainda mais contrariado do que eu. Os sacrifícios que um gajo faz para ter sexo. Venham-me cá depois falar da igualdade e o cacete, sabem lá o que os homens passam só para conseguirem sentir quentinho entre as virilhas. Estivemos quinze minutos na fila para entrar, um senhor de envergadura conseguida através de químicos disse-nos que eram 15€ a cada um, inclusivamente as mulheres.

Viu-se na cara delas a satisfação por vivermos numa época de igualdade de géneros! Tinham "Vitória do feminismo" estampado no rosto.

Mal entrámos, fui ao WC e dei graças a Deus nosso senhor por ter tido a ideia de fazer os homens com pila, porque a fila no das mulheres era maior que a da Primark em dia de saldos, embora elas tivessem mais dentes. Qual não é o meu espanto, quando estou com o trombinhas na mão a efectuar o meu xixi e vejo mulheres a entrar, descontraidamente, para utilizar as instalações destinadas a quem tem pénis, e não estou a falar dentro do corpo. Mas que merda vem a ser esta? Se fosse ao contrário eu queria ver a escandaleira que iria ser! Eu prefiro estar de pila na mão ao lado de mulheres do que de homens que tentam esgueirar o olhar para fazer medições, mas mesmo assim é indecente. Os WC's dos homens em discotecas já são o nojo que são que só faz sentido as mulheres lá irem se for para limpar. Já agora, um aparte, qual é o problema mental que algumas pessoas têm que as impede de puxar o autoclismo nas casas de banho públicas? É pessoal que se sente frustrado e pouco másculo e que a única oportunidade que tem de ser armar em gangster e abraçar a thuglife é a de não perder dois segundos a carregar num botão?

Bem, lá fiz o que tinha e passado vinte minutos lá chegaram as meninas e fomos para a pista. Entre vários, «com licença», «peço desculpa» e «chega para lá ó boi», lá conseguimos chegar ao meio. Se desligassem a música e me dissessem que aquilo era a carruagem do metro em hora de ponta, eu acreditaria. Tanta gente e todos tão apertados e esmagados que até os refugiados sírios iam achar desconfortável. Não dava para dançar! Ali ninguém dança! Ali está tudo com o copo balão de gin na mão, a fumar com a outra com o máximo de cuidado para não vazar a vista a ninguém e a olhar uns para os outros enquanto abanam subtilmente a cabeça. O segredo para que as pessoas não se queixem nos autocarros e nos metros é simples: metam música, luzes e mudem os nomes: «Vou apanhar o Urban51 e depois apanho o metro pela Linha do Lust. Para casa venho no expresso do Pão com Chouriço.». Os únicos que tinham espaço para se mexer eram os da zona vip. Invariavelmente, homens feios acompanhados de gajas boas. É bom ver que o amor ultrapassa as barreiras todas, especialmente a fita que separava aquela zona da dos pobres mortais. Vi lá mulheres que tinham claramente o taxímetro a contar e com ar de quem estava em tarifa 3. Se é para estar sentado, a beber e conversar, num sítio com música, acho mais inteligente ficar em casa. Ir para uma discoteca é para ir para a molhada! Se não é como ir ver um concerto de death metal e pedir para ficar sentadinho num camarote. Claro que isto é tudo inveja por eles não estarem como eu, qual sardinha claustrofóbica enlatada.

Estava um artista a cantar no palco, um rapazito novo, estrangeiro, a fazer covers de música electrónica e de dança. Em termos de nível de carreira, é o mesmo que alguém que toca covers de Nel Monteiro em casamentos, só que com menos damas de honor desesperadas e bêbedas. A certa altura, ele pergunta se havia no público raparigas chamadas Maria. Claro que havia! Convidou-as a subir ao palco para dançar com ele uma música e, depois de algumas subirem, foi-lhes perguntando:

- What's your name? - pergunta ele feito engraçadinho depois de já saber que eram todas Maria.
- Maria! - diz uma delas.
- And yours? - pergunta a outra.
- Maria! - claro.
- Just kidding with you! - diz ele todo pimpão antes de perguntar à última - And yours?
- Mariana.
- What?
- Mariana.
- Ok.

Foi isto. Há gente que  faz tudo para ter os seus cinco minutinhos de fama. Se fosse comigo levava logo dois berros ao ouvido «Didn't I ask for girls with the name Maria? But are you parva? Get off my stage, vaca!» e com isto dava-lhe um épico pontapé no traseiro para que ela fosse fazer crowdsurf e sentir mãos alheias por todo o seu corpo. Ela tinha ar de quem ia gostar. Enquanto ele ia cantando e elas dançando todas desengonçadas, parei ali no meio, olhei em redor e observei todas as pessoas no meu canto de visão. Quem me viu ali estático deve ter pensado que os ácidos me estavam a fazer efeito, mas infelizmente não.

Vi mulheres que à primeira vista pareciam que estavam apenas de soutien mas afinal vi melhor e era um top de fazer inveja a muita stripper da Margem Sul. Nada contra, as mulheres vestem-se como querem mas depois não venham com escândalos se eu abrir os provadores de uma loja de lingerie para ver se precisam de ajuda. Há quem diga que quem vai assim vestida é uma badalhoca que só quer é festa, mas é o contrário meus amigos: quem vai assim para a noite, vai vestida para fazer inveja às mulheres e para rejeitar homens. Também vi homens com decotes, em V, até ao umbigo para a mostrar a tatuagem tribal que representa algo muito importante na vida deles: o dia em que conseguiram finalmente juntar dinheiro para fazer uma tatuagem tribal. Vi um gajo a pedir a uma rapariga que lhe batesse na mão. Ela rejeitou. Ele insistiu e ela deu-lhe a tal palmada. Nisto, ele começa a dançar ao género de breakdance mas como se tivesse esclerose múltipla avançada. Ela revirou os olhos e virou a cara. Ele foi-se embora com o rabinho entre as pernas. Vi um gajo a tentar seduzir uma rapariga, bêbeda e abandonada num canto pelas amigas. Pelo ar dela o português sóbrio já não devia ser muito bom, então no estado que estava pouco ou nada conseguia verbalizar de forma gramaticalmente correcta. O rapaz parecia pouco importado com isso, tal como os leões, estava a atacar a gazela mais frágil do grupo e que tinha ficado para trás.

Vi gente a mamar-se da boca como se fossem antílopes a chafurdar numa poça de água depois de atravessar o Sahara.

Aquilo é gente que quer ter a certeza que o herpes não fica só num. Se os olhos são o espelho da alma, a língua é o piaçaba do corpo. Depois de ver isto tudo, fui beber mais um gin de penalti. Depois disso fomos embora, ainda cedo porque até a minha namorada achou que ir para ali, naquele dia, afinal não tinha sido assim uma ideia tão brilhante quanto isso. Fomos de táxi, só os dois porque entretanto tínhamos perdido a minha amiga e o seu amigo e os telemóveis estavam sem bateria. Como sempre, fiz as perguntas da praxe ao motorista:

- Então, o negócio anda bom? - perguntei.
- Tem dias, no Verão é sempre melhor, mas é uma confusão. - diz ele, um rapaz na casa dos trinta.
- Pois, à noite então, imagino. - digo eu a puxar para a javardeira.
- Nem queira saber amigo, nem queira saber. - diz ele caindo no isco.
- Já teve problemas?
- Já apanhei um susto mas nada de grave. Elas... elas é que são o perigo!
- Então?
- Então? Estão aí todas bêbedas e oferecem-se. Peço desculpa à menina, mas é verdade. O-fe-re-cem-se. Está-me a compreender? - diz ele com olhar safado.
- Querem pagar a corrida em géneros? - retribuo.
- Pois, e depois um gajo nunca sabe. Tenho um colega que está preso, porque aceitou um... pronto... aceitou que lhe fizessem amor com a boca e afinal a rapariga era menor e depois foi dizer que ele é que a violou!
- Pois... e como é que está o câmbio? - digo eu armado em engraçadinho.
- Como assim?
- Então, quanto era a corrida pela qual ela ofereceu um broche?
- Eu sei lá, mas acho que era para Sintra.
- Fina.
- Fina. Nem mais. Fina.

Chegámos a casa e fomos à nossa vida. Antes de adormecer, estava deitado a pensar que tinha bom material para escrever sobre esta noite. Depois de rever os detalhes na minha cabeça para depois não me esquecer, fez-se luz: estou velho. Nunca mais me apanham numa discoteca sóbrio, eu ainda tentei inebriar o meu corpo, mas apesar de ainda ter bebido alguma coisa ele achou que o estava a fazer apenas por gosto e nem alegre fiquei. Lembrei-me então de uma frase que um bêbedo me disse um dia no Bairro Alto: «Começar a beber para parar antes de ficar embriagado tem um nome: desperdício de dinheiro». Ainda dizem que não há génios.




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