28 de abril de 2016

Não sou racista, mas...



Então parece que 2016 são os novos anos 80, com o belo do racismo a ser moda outra vez. Bem, dizem que as modas são cíclicas e antes o racismo do que voltarem a usar-se permanentes e fatos de treino fluorescentes. O preto dá bem com tudo, já o cor-de-rosa choque com verde marinho só dá bem com o centro comercial ao Domingo à tarde.

As últimas semanas têm sido profícuas para quem gosta de expressar o seu ódio por pretos. Ou africanos, como alguns dizem pensando que nascer na Amadora é nascer em Luanda. Sim, estou a falar da história dos kebabs e também do programa "E se fosse consigo?". Abriram os portões das cavernas e vieram vagas de grunhos a invadir as caixas de comentários dos sites de notícias, o recreio dos tristes, com a conclusão de quem não tem mais inteligência do que a necessária para ter reflexos Pavlovianos: a culpa é de serem pretos! Sabemos que ainda há racismo quando vândalos brancos são só vândalos sem educação, e vândalos pretos são «pretos de merda que deviam ir para a terra deles» sendo que a terra deles, provavelmente, é a Linha de Sintra ou a Margem Sul.

Isto não é uma questão de raça, de cor, ou de se ouvir muita kizomba, embora acredite que possa fazer mal ao cérebro.

Todos temos preconceitos e não há mal nenhum nisso, já a forma como deixamos que esses preconceitos afectem a forma como agimos e pensamos é que nos define. Aliás, para mim o preconceito está directamente ligado à falta de inteligência. Tenho a convicção de que foi um mecanismo de sobrevivência que o nosso cérebro desenvolveu quando ainda éramos australopitecos incapazes de um raciocínio mais complexo: comíamos um, dois, três frutos pretos estragados e passávamos a achar que a cor preta era má e que até as amoras sabiam mal. Esta "lógica" serviu-nos na altura para evitarmos potenciais perigos e jogar pelo seguro, mas hoje já fomos à Lua e mandamos robôs a Marte e se calhar já podíamos deixar de ser estúpidos. Com o racismo o mecanismo é o mesmo: há quem tome a parte pelo todo e ache que encontrou o padrão do vandalismo na cor da pele, mostrando que apenas tem a inteligência de um chimpanzé filho de primos direitos.

É um facto que o vídeo é chocante para quem não vive na Buraca, já que para mim aquilo é uma sexta-feira, com a diferença de que só houve um ou dois tiros. Sim, a culpa parece ser do grupo de pretos, mas deixem-me fazer agora de advogado do diabo: como é que tudo começou? Tenho aquele defeito de não me armar em juiz sem saber os factos, embora saiba que se está na Internet é porque é verdade e nem precisamos de investigação nem tribunais. Imaginem que o Curdo disse, na sua simpatia domingueira, «Isto está fechado!» e eles dizem «Mas era só para comer um kebab!» e o gajo responde «Vê lá é se queres bochecha de porco, ó preto.» e gera-se a confusão. Decerto estarão lembrados do caso do Nélson Évora na discoteca Urban, caso com o qual desde logo me identifiquei por também já ter sido alvo de racismo ao entrar em muitas discotecas quando me barram a entrada porque tenho um pénis. Já sei que devem estar a pensar que isso é discriminação sexual e não racismo, mas enganam-se! Foi racismo porque fui discriminado pela parte do meu corpo mais africana. Não me estou a gabar: é africana porque é magrinha, tem fome e moscas. Mas bem, tudo pode ter começado por algum comentário ou atitude racista do Curdo e daí ter-se despoletado a acção violenta por parte do grupo, ainda que sem razão, obviamente. Aliás, um deles andava armado e não me parece que quem anda com uma 6.35 comprada no bairro e a leva para sair à noite seja boa rés. É um anormal que devia estar preso.

«EM LISBOA SÓ SE VÊSSE ESTAS SITUASSÕES COM PRETOS!!!» li nessa selva que são as caixas de comentários do Facebook. A base é a educação e a igualdade no acesso a ela. Se vives num gueto, não tens acesso à educação e tens de trabalhar 12 horas por dia para ganhar o ordenado mínimo, ou menos, e não tens acesso à educação e, por isso, tens 8 filhos e não tens tempo nem recursos para os criar e educar, sim, alguns deles vão dar em gandins. Por muito que nos custe admitir, mais do que as pessoas, temos um sistema que discrimina porque corta as pernas logo à nascença consoante a cor que tens. Um preto nascido no bairro, classe baixa, que ainda são a maioria, não vai sonhar da mesma forma que um branco classe média, que são a maioria. Não vai achar que é capaz de tirar um curso superior, seja porque lhe incutiram desde cedo que não tem capacidade, seja porque precisa de ir trabalhar para ajudar a família a sustentar-se, ou seja porque vivia num meio com más companhias e viu que traficar droga era uma fonte fácil de rendimento e que a sociedade nunca lhe tinha dado o suficiente para ele lhe respeitar as regras. Não achem que estou aqui a dizer que deviam ter atenuantes nos castigos ou que não deveriam, de todo, ser punidos pela lei os que atacaram o dono da loja dos kebabs. Deviam ser presos e julgados e o gajo que tinha uma arma devia ficar preso uns bons anos. O que digo é que compreendo a raiz do problema que leva pessoas a comportarem-se assim, o que não as desculpa de nada.

Por cada preto do bairro que assalta com uma pistola, há 100 brancos de fato e gravata que nos roubam a todos.

A maioria das pessoas desculpa o seu racismo dizendo que «Os pretos também são racistas com os brancos!», como se essa acção-reacção não fosse a base da maioria dos problemas do mundo e não fosse toda ela uma premissa pueril de «Também já não queria ser teu amigo.» que leva a que só se gere mais ódio. Engraçado é que as pessoas que dizem isto provavelmente nunca sentiram esse racismo na vida. «Ah, mas uma vez fui assaltado por um preto!», dizem sem perceber que isso não é racismo, é criminalidade e se por acaso o assaltante preto só assalta brancos é porque a sociedade é ainda desigual e é muito mais provável um branco ter mais dinheiro na carteira do que um preto. A não ser que tenha acabado de assaltar alguém, claro. Mas sim, claro que há muito racismo ao contrário, mas uma coisa é racismo proactivo, outra é o racismo reactivo, enraizado por séculos de discriminação. São ambos maus, atenção, e ambos sinal de falta de inteligência, a questão é que não são comparáveis e talvez seja pela maioria não perceber a diferença que dificilmente vamos ver o fim do racismo. Não é que que os brancos tenham de carregar a cruz da escravatura e do colonialismo e andar a pedir desculpa pelos males que os antepassados andaram a fazer. Não vou pedir desculpa de nada, temos pena, mas vou perceber que isso deixa marcas que não são 100 anos que apagam.

Posso falar com conhecimento de causa porque sofri muito racismo por ser dos únicos brancos das turmas por onde passei e por ser dos poucos brancos a jogar à bola no ringue da Buraca. Fui discriminado porque as crianças são más e rejeitam tudo o que é diferente. No 5º e 6º ano, eu era o diferente, a minoria, o branco, o pula. Era tanta maldade que chegaram a votar em mim para delegado de turma! Vejam bem o preconceito das crianças que só por eu ser branco partiram do princípio que tinha de ser responsável. Não quero estar aqui a comparar escravatura com ser delegado de turma, até porque nunca fui escravo e não posso ter a certeza, mas entre levar chibatadas no lombo e ter de carregar as bolas de basquete para o campo, não sei o que é pior. Ademais, quem gosta de jogar basquetebol? Não era, certamente, o único branco da turma.

Não tenho problemas em assumir que a maioria da criminalidade na minha zona é feita por pretos. Não tenho problemas em dizer que 99% das vezes que fui assaltado quando era miúdo foi por pretos. Não tenho problemas também em constatar que sou inteligente e que nunca deixei que a minha experiência num contexto específico toldasse a minha forma de ver o mundo. Percebi cedo que o problema não era a cor da pele, mas sim o contexto socioeconómico da zona e que era óbvio que um bairro problemático com pessoas maioritariamente pretas seria um incubador de criminosos pretos. Basta mudar geografia para termos a mesma taxa de criminalidade, mas perpetrada por brancos, também eles no mesmo contexto socioeconómico.

«Não sou racista, até tenho um amigo pre… neg… escu… de cor, pronto.» 

Mentira, 99% das pessoas que diz isto não tem amigos pretos. No máximo, um mulato que conheceram uma vez num jantar de aniversário, ou apertaram a mão do Mantorras no fim de um jogo. E reparem, também não tenho nenhum amigo preto. Pelo menos assim mesmo amigo do peito, embora conheça vários e fale regularmente com alguns. Mas, também, não tenho nenhum amigo loiro, por exemplo. Está no mesmo patamar. Quando alguém larga a frase que tem um amigo preto, para justificar a sua falta de preconceitos, é o mesmo que dizer «Nem sou machista, até tenho uma mulher lá na cozinha.».

«Porque é genético e os negros são mais burros e mais propensos à violência.» dizem alguns porque uma vez viram um estudo na Internet. Só para efeitos de reflexão vamos admitir que sim. Vamos admitir que a evolução foi diferente em cada uma das raças e que tal como o Pastor Alemão é mais inteligente do que o Chihuahua, também nos humanos uma parte da inteligência é determinada pelos genes, coisa que acredito que seja, e que há uma diferença substancial entre os pretos e os brancos. E então? Mesmo que fosse? Isso dava-lhes menos direitos? Uma criança branca que nasça com défice cognitivo também tem menos direitos? É menos pessoa só por ser mais burra? E o que fazemos com o resto dos brancos burros, que são a maioria? Vamos discriminá-los? E o que é inteligência, já agora? Mede-se pelo QI? Então e a inteligência emocional? Há quem diga que a inteligência se mede pela forma em que conseguimos adaptar-nos a uma situação e sobreviver preservando o que nos rodeia para coexistirmos em harmonia. Se formos por aí, os brancos são os mais burros, que andam a destruir o planeta enquanto ainda existem muitas tribos de pretos que vivem em sintonia com a natureza. Será que ser inteligente é ter um iPhone ou é saber trepar a uma árvore para apanhar cocos? É por aí que a questão da inteligência entre as várias raças ou etnias não leva a lado nenhum. Não digo que não se façam por questões de investigação científica, mas trazer essa discussão para a esfera pública como motivo para se discriminar A ou B, é só estúpido. Aliás, façamos o seguinte: um estudo de inteligência entre quem se assume e/ou tem comportamentos racistas, e os restantes. Se calhar aí tínhamos um resultado bastante conclusivo e podíamos todos começar a discriminar com base no número de QI que lhes tatuariam na testa. Aliás, eu aqui me confesso: eu discrimino pessoas burras. Sei que é errado porque é genético e cultural e muitas não têm culpa, mas foda-se o que eu odeio gente burra que se acha inteligente.

Racismo não é achar que somos diferentes. Racismo é achar que devido às diferenças que temos, temos direitos diferentes.

Há quem não perceba isso. Tal como machismo não é achar que as mulheres conduzem pior do que os homens. Machismo é achar que as mulheres por conduzirem pior não deviam ter o direito de tirar a carta de condução. Tal como algum branco dizer que não se sente atraído por pretas, ou vice-versa, não é racismo. É a mesma coisa que não achar graça a loiras, ou a morenas, não é racismo, é uma preferência. Por isso, também não achem que para não se ser racista tem de ser-se politicamente correto e tratar tudo com pinças. Quem faz isso é porque na verdade discrimina e precisa de eufemismos para apaziguar a sua consciência.

Muitos lembram-se da frase emblemática de Martin Luther King e acham que o sonho dele já se cumpriu só porque na lei diz que não se pode discriminar. Infelizmente, recordo-me mais vezes da frase de uma criança numa reportagem antiga num país africano que dizia «Nunca sonhei porque... não é fácil.»

PS: Já sei que me vão ofender devido a este texto só porque disse que os Pastores Alemães são mais inteligentes do que os Chihuahuas.
Ler mais...

26 de abril de 2016

Gravidez na adolescência: aborto ou novas oportunidades?



É com pesar que anuncio que a rubrica "Doutor G explica como se faz" de hoje será a última. De abril. Pumba a criar suspense logo assim sem pedir licença. Agora a sério, vai mesmo ser a última de Abril e Maio. O Doutor G vai fazer um mês sabático porque Maio vai ser um mês com muita coisa a acontecer, desde gravações de sketches, a vários espectáculos de Stand Up Comedy (já agora, se forem do Porto, Caminha ou Chaves, podem ver aqui as datas), e outras surpresas que vão surgir em breve. Tudo isto a juntar ao facto de trabalhar oito horas por dia, como o comum dos mortais. Mas para que é que me estou aqui a justificar? Em Maio não há Doutor G e pronto. Se refilarem muito também não há em Junho, só para aprenderem. Vá, vamos lá então às questões de hoje.


Caro D.G leio o seu blog desde do primeiro dia e devo admitir que os assuntos que aborda me tem ajudado na vida sexual. A minha dúvida é esta: namoro com uma rapariga à mais de um ano, facto que para mim é espantoso, visto que já me tinha resignado nos meus 22 anos de vida a ser ou o irmão do namorado ou a ser o "amigo gay" embora respeite quem seja, nunca fui homosexual. Adoro a minha namorada mas devido a trabalho da parte dela e universidade longe de casa da minha parte a luta greco romana nunca se proporcionou, já tive relações sexuais com outra pessoa fora da relação mas com ela ainda não foi até à meta, andamos a experimentar fetiches mas nada de mais. O que recomenda para o funaná se realizar?
Eddy, 22, Lisboa

Doutor G: Caro Eddy, se lês o meu blogue desde o primeiro dia então já não devias cometer o erro «à mais de um ano». Quando dizes que tiveste relações com outra pessoa fora da relação, espero que tenha sido antes de namorares, caso contrário é muito bem feito que com ela nunca chegues à meta e fiques sempre de água na boca. No entanto, porque estou de bom humor, vou partir do princípio que não a traíste. Quando dizes que andam a experimentar fetiches, vou partir do princípio que um desses fetiches é não fazer sexo. «Tu sabes o que me deixa louca? Não pinar. Fico doida de tesão quando não pinamos.», é o fetiche que estou a imaginar. Isso e fazer tricot com a pila. De qualquer das formas, a universidade e o trabalho não são desculpas para a ausência de funaná pelado, já que na tua idade e nos primeiros tempos de namoro, basta uma aberta de cinco minutos para haver aguaceiros na zona Sul. Sugestões:

  • Dizeres-lhe «Tenho um fetiche que gostava mesmo de realizar, que passa por introduzir o meu pénis na tua vagina. Agora.»
  • Marquem um hotel e jantar romântico;
  • Excita-a o suficiente para ela querer fazer sexo.
Quando tratares do assunto depois manda email a dizer como correu e, para ter a certeza que não te esqueces, vou fazer um inception e dizer-te que mal comeces a praticar o coito com a tua amada, vais lembrar-te de mim e pensar «Já está! Não me posso esquecer de enviar email ao Doutor G!». Vai ser estranho, aviso já.


Caro Doutor G. preciso de ajuda, a situação é a seguinte: o que é que significa precisar de espaço e tempo para pensar nas coisas? Andei com um rapaz durante um ano e uns meses, tudo estava a correr bem até que num dia a criatura em questão decidiu que precisava de um tempo para ele porque estava com muito problemas! Ora a minha questão é, devo esperar que ele resolva todos os problemas que tem ou devo partir para outra? Durante o "tempo" não nos devemos falar nem nos preocuparmos um com o outro ou faz parte?   
P, 22, Leiria

Doutor G: Cara P, para melhor responder à tua pergunta, tomei a liberdade de elaborar o seguinte gráfico:

Agora é fazeres o que quiseres com esta informação.


Boa tarde Doctor G, tenho vergonha daquilo que sinto, começou a alguns anos atrás na Alemanha mas pensei que tinha passado, agora que reencontrei o meu amigo Mário o desejo voltou. O meu desejo pode ser pouco comum mas agora que sei que não estou sozinho decidi desabafar consigo. Tenho uma vontade enorme de ter relações sexuais com amimais, mais precisamente com um pouquinho da Índia que tenho aqui em casa. Como poderei ultrapassar esta situação?  
Anónimo, 28, Viseu

Doutor G: Caro Anónimo, no meio da tua doença mental, o que mais me choca é haver um porquinho-da-índia chamado Mário. Primeiro, a não ser que possuas um pénis do tamanho de um esparguete cortado em três, não vejo como será possível a prática do coito com um roedor de pequeno porte sem que o bicho faleça. Segundo, queres mesmo ficar com a pila com um cheiro almiscarado? Se a tua dúvida é real e não estás só no gozo, algo que não me admirava porque em questões de fetiches marados, seja o que for que nos passe pela cabeça, há sempre pelo menos duas pessoas no mundo que gostam. Cocó numa taça polvilhado com purpurinas? Há um site para isso. Sexo com obesos mórbidos barrados em chantili com canela? Há um site para isso. Sexo numa banheira cheia de vomitado de três dias ao som de Agir? Valha-nos deus, mas sim, há certamente um site para isso. Acho que todos os fetiches são válidos, desde que feitos sozinhos ou com consentimento de todos os envolvidos. Agora diz-me, o Mário deseja-te? Tem usado minissaias e maquilhagem provocadora? Tem-te feito olhinhos enquanto ajeita a cama feita daquele material que parece cotão do umbigo de uma idosa acamada? Tem guardado cenouras baby nas bochechas como que um innuendo ao deep throating? Se achas que ele está afim, então força nisso, mas não percas a oportunidade de sair à rua todo nu com um porquinho-da-índia a fazer de preservativo! Vais ficar uma lenda de Viseu que vai fazer com que até Viriato seja esquecido.


Boa noite Doutor G, desde o 1º ano da faculdade que sempre me interessei por um rapaz da minha turma. Somos um bocado opostos no sentido em que ele nunca sai à noite nem bebe (por causa do ginásio lool) e diz que o meu único defeito é fumar. A verdade é que me tem despertado tanto interesse que confesso ter uma enorme vontade de lhe dar a volta à cabeça e ver do que é que aquele menino é capaz. Não tenho noção da experiência dele no campo amoroso, mas como receio que seja pouca uma vez tomei a iniciativa de o convidar para um copo, meia na brincadeira. Ele insistiu em saber a que horas era. No dia seguinte deu a entender que se tinha cortado porque supostamente achava que era uma saída em grupo. Desde há 2 semanas que apesar de estar sempre com ele na cabeça, falamos pouco por sms (mas bastante pessoalmente) porque sinto que isto está a perder a piada. A minha pergunta é, será que devo dar-lhe para trás e esperar que tenha aquele efeito íman que incrivelmente costuma resultar nos homens? Ou definitivamente ele está numa de micro-ondas (gosta, aquece, aquece, mas nunca vai passar disso)?
S, 21, Porto

Doutor G: Cara S, já dizia um sábio que «um corpo definido e musculado é atraente até nos lembrarmos que o ginásio é o hobbie dessa pessoa». Desconfio sempre de pessoas que não saem à noite nem bebem. Dito isto, sê mais directa e diz-lhe o que queres. Se ele rejeitar, diz que tens batidos de proteína em tua casa e que lhe dás aminoácidos à boquinha enquanto ficas por cima que é para ele não entrar em catabolização. Se ele rejeitar, esquece e parte para um gajo que se embebede contigo na noite porque provavelmente vão ter histórias muito mais interessantes para contar aos netos.


Querido Doutor G, deixa-me que te diga que és sexualmente atraente, pelo que te fazia. Fácil. Namoro há 5 anos com o meu namorado e sem queixas. Excepto uma: A pila é pequena. Eu gosto mesmo é de salsichão e tive o azar de me apaixonar por uma Sicasal Kids. De frango. Percebes o dilema, não percebes? Pelas tuas mãos diria que não sabes o que é uma pila pequena ;). Pena seres hetero. Voltando ao assunto que me traz aqui, deves perguntar-te: «Mas se não tavas satisfeito, porque não saíste logo na primeira oportunidade e só abordas o assunto passados 5 anos?». A verdade é que eu não gosto de ser o passivo da relação, pelo que sempre pensei que uma pila pequena não ia fazer mal nenhum até porque o tamanho não iria nunca interessar. Mas ainda temos o problema do sexo oral. Parece que estou a chupar uma amostra de um Chupa Chups. E mamar um salsichão dá-me gozo... Nos últimos meses anda-me a apetecer saltar a cerca para chupar um calipo digno de ser vendido na Makro só para satisfazer esta sede, mas ao mesmo tempo não o quero trair. O que devo fazer?  
Tiago, 27, Lisboa

Doutor G: Caro Tiago, obrigado por constatares o óbvio. Relativamente à tua dúvida, posso apenas teorizar sobre o assunto, já que a minha experiência empírica com pénis é reduzida. Diz um estudo que o tamanho do pénis apenas importa em relações de longa duração, já que numa one night stand come-se a chicha que houver, mas a longo prazo começa a apetecer ver o prato cheio. Este estudo foi feito com mulheres mas calculo que com casais homossexuais o resultado seja o mesmo. Por acaso sempre foi uma questão saber se o sujeito activo apenas recebia sexo oral ou também o fazia no pénis do sujeito passivo. Sempre calculei que dependia de relação para relação e aqui está a prova. Sendo que não queres trair o teu namorado, aqui ficam algumas opções:

  • Fazer sexo com óculos fundo de garrafa para parecer que tudo é maior;
  • Encher a boca de carne picada antes do felácio para dar aquela sensação de preenchimento;
  • Usar como preservativo um porquinho-da-índia depilado e amputado. Em gíria de humor, isto chama-se uma Call Back. Sou muita boss.
  • Usar a técnica do ninho de vespas que os antigos aldeões utilizavam como implantes mamários dos pobres;
  • Passares os dias a chupar um esparguete cozido para enganares o cérebro quando estiveres com o teu namorado. É tudo uma questão de perspectiva.
De nada.


Namoro com um rapaz já faz 5 anos. Ainda sou nova e boa aluna com os meus objetivos bem definidos. Um desses objetivos será entrar na faculdade para o curso que sempre quis. Mas (tem de haver sempre um mas) aconteceu que engravidei e descobri na semana passada. Toda a gente ficou feliz (menos eu), e o meu namorado quer muito esse bebé. Como ainda só estou grávida a dois meses não se nota barriga nenhuma e gostava de casar pelo registo civil, tendo em conta que assim que acabar a faculdade, gostaria de casar outra vez mas com uma festa incluída, coisa que neste momento não é possível. O problema é que ele diz que não quer casar e que para sermos felizes com esta criança não é necessário apressar as coisas. Mas "um dia" quer casar comigo. Será que ele não me ama como eu pensava que sim? Ou será que ele tem razão e devo acabar a faculdade e só depois casar?
Anônima, 20, Setúbal

Doutor G: Cara Anónima, dizes que és boa aluna mas tens 20 anos e ainda não entraste para a faculdade... Algo não bate certo, a não ser que só tenhas entrado para a primária aos 8 anos porque estiveste de licença de maternidade desde os 6. Toda a esta dúvida é nova para mim, acho mesmo que é a primeira vez que alguém me contacta devido a uma gravidez indesejada. Por questões deontológicas não vou sugerir o aborto ou a queda "acidental" das escadarias da estação de metro Baixa-Chiado. Pelas rolantes, em sentido inverso, só para termos a certeza que o feto descola mesmo da placenta. Não percebo como é que o teu maior problema não é o facto de estares grávida, mas sim o do teu namorado não querer casar para já! Bem sei que ser mãe aos 20 anos em Setúbal é tarde, já que quando trabalhava aí o que não faltavam eram miúdas com dentes de leite a puxar o carrinho de bebé. Ainda assim, acho que a tua preocupação deve ser apenas e só teres a estabilidade necessária para dar a essa criança as condições que merece. Casar é um contrato e o amor não se prende com assinaturas. Concentra-te na gravidez e no teu futuro e o resto logo se vê. Se ele nunca quiser casar contigo mas quiser ser sempre o teu namorado e um bom pai do teu filho, qual é o mal? Fossem todos assim! Seja como for, não o podes obrigar a casar... a não ser que ameaces fazer um aborto! Assim, seja qual for o resultado, ficas a ganhar. Sou um génio do mal.


Boas doutor G, namoro à 9 meses com uma rapariga e somos muito felizes, mas acontece que eu gostaria de criar um facebook em conjunto e desativar os nossos, mas ela acha isso uma "piroseira" e diz que isto não é uma atitude de confiança de minha parte. Ela propõe que ambos tenhamos acesso às nossas conta e que isso dará à mesma coisa de criar o facebook em conjunto, mas a mim tem diferença. Achas que ela me tem algo a esconder? Devemos criar o tal facebook? Que devo fazer? 
João, 23, Porto

Doutor G: Caro Pedro, o que deves fazer é simples: deixar de ser um conas! Mas qual é o homem que quer criar um Facebook conjunto? Isso é ideia de gaja que tem como escritores favoritos o Pedro Chagas Freitas e a Margarida Rebelo Pinto! Aliás, não sei em que ponto da relação é que alguém sugere isso! É preciso confiança e intimidade, isso não nego. Estou a imaginar esses casais no sofá a ver a Única Mulher:

- Sabes amor... tive aqui uma ideia. - diz ele.
- Diz meu fofuxo. - diz ela.
- Oh, se calhar vais achar que é parvo.
- Oh mor, não acho nada. Diz lá.
- Estava a pensar que podíamos fazer uma coisa juntos...
- O IRS?
- Não. Um perfil de Facebook!
- Ai amor, também já tinha pensado nisso. Fomos feitos um para o outro! Fica "Sandro e Kátia" ou "Kátia e Sandro"?
- Podíamos fazer um chamado Katiandro!
- Boa, mor! Tu és genial! Isso é bom nome para o meu salão de nails.
- E também posso usar quando eu acabar o curso das novas oportunidades de DJ. Já estou a imaginar: DJ Katiandro no Via Láctea em Famalicão!
- És tão top, mor.
- Top és tu.
- Somos os dois. Katiandro é top.

Sim, é isto que eu imagino. Moral da história: não, a tua namorada não tem nada a esconder só porque não quer ter um perfil conjunto de Facebook. Tem é bom gosto. E, já agora, terem acesso aos Facebooks um do outro, faz tanto sentido quanto terem um chip e uma GoPro na testa em live stream para o telemóvel da outra pessoa. Ou bem que confiam, ou bem que é para dar tudo.


Doutor G regressa em Junho, se Deus quiser. Pelo que sei, Deus deve querer porque ele era dado ao regabofe e à javardeira. Até lá, podem sempre ir enviando as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Partilhem e façam muito amor à bruta, que de guerras o mundo já está cheio.
Ler mais...

25 de abril de 2016

Portugal precisa de um Salazar



Já passaram 42 anos desde a revolução dos cravos e apesar de Salazar ter morrido quatro anos antes, é impossível dissociarmos o fim do Estado Novo da morte desse que foi o seu grande obreiro. Todos os anos 25 de Abril é o dia em que muitos se juntam para em coro dizer «O que faz falta a este país é um Salazar.», mesmo alguns jovens que nunca coexistiram com o seu ídolo, criando assim um paradoxo ao demonstrar que o nosso sistema de educação poderá estar pior. Tal afirmação pode parecer digna de um doente com a síndrome de Estocolmo que se apaixona pelo seu captor e se esquece das constantes violações e castrações, mas aqui ficam as reais vantagens que teríamos com "o maior português de sempre" de volta ao poder.

Greves
Com Salazar nunca teríamos o problema constante das greves do metro e de outros trabalhadores da função pública. Ninguém ousaria fazer greve em busca de condições de trabalho melhores sem temer as consequências. Não é como agora que tanta gente sem vontade de trabalhar acha que pode paralisar os transportes públicos e prejudicar quem quer ser alguém na vida! Esses gatunos que reivindicam melhores condições de vida tinham os dias contados com Salazar, até porque todos sabemos que no tempo da outra senhora, a principal razão para ausência de greves era o facto de todos os trabalhadores viverem muito bem e sem quaisquer razões de queixa.

Fado, Fátima e Futebol
Com Salazar no poder nunca teríamos visto a constante perda dos principais valores da sociedade portuguesa. Infelizmente, o lema de outrora «Fado, Fátima e Futebol» é hoje «Kizomba, Teresa Guilherme e arbitragem». Perdeu-se o amor à pátria e isso vê-se no facto do fado ter sido considerado Património Cultural Imaterial da Humanidade: no tempo de Salazar o fado seria apenas de Portugal e nunca um património do resto do mundo. Muitas eram as virtudes do professor, mas a de manter para os portugueses o que era deles talvez fosse das suas melhores. Sem Salazar nunca teríamos tido Eusébio porque nos dias de hoje ele teria jogado pela seleção de Moçambique, a não ser que se naturalizasse brasileiro e depois daí se naturalizasse português. No tempo de Salazar tínhamos o pantera negra, hoje temos o pantera vesgo, Éder.

Kizomba
Aliás, a quebra do império português trouxe com ela vários problemas para Portugal. Entre os quais, a pandemia da kizomba, algo que nunca teria florescido em Portugal se ainda figurasse Salazar como chefe de estado. Ele era conhecido pelo seu excelente gosto musical e pela intolerância a letras de mau tom e de cariz político. Artistas que cantassem «Agora não me toca», num claro desafio à autoridade vigente, seriam imediatamente convidados a uma carreira no Tarrafal e Portugal seria um local com menos poluição sonora.

Angola
Já que falamos nas ex-colónias, é de ressalvar que os grandes problemas que vemos a acontecer em Angola seriam impossíveis com a mão de ferro do Professor Doutor António Oliveira Salazar. Com a face do Estado Novo a comandar os destinos de Angola nunca teríamos activistas presos como o Luaty Beirão. Estariam mortos. Se fossem presos, ao menos faziam-nos o favor de não tornar isso em notícia de abertura de telejornal como se a "libertinagem" de expressão fosse algo importante. Uma greve de fome no estado novo nunca seria notícia, já que era o que a maioria dos portugueses se via forçado a fazer ao jantar. Por falar em liberdade de expressão, apesar de muitos apelidarem como censura o fantástico trabalho de filtragem de qualidade que Salazar fazia, é óbvio que essa triagem só faria bem a Portugal. Era uma triagem honesta e feita de forma directa, e não como a real censura que agora se vê que passa por fazer pressão a jornalistas e cronistas para que não comentem assuntos incómodos, como Angola, curiosamente.

Crise
A melhor qualidade do professor sempre foram as Finanças e é mais do que óbvio que com Salazar no poder, Portugal nunca teria o défice descontrolado nem teria necessitado de pedir ajuda externa. Salazar ia fazer com que o povo se unisse e se voluntariasse a passar fome e a não ter sapatos para que Portugal pudesse avançar! Com António nunca haveria crise, nem que fosse porque utilizar essa palavra seria proibido e seria mais do que normal a maioria viver com pouco para alguns se banquetearem e passarem a vida em orgias abafadas pela moral e os bons costumes. A crise é apenas uma visão deturpada e uma dificuldade de olhar em perspetiva: há sempre alguém pior do que nós e é por isso que dizer-se que estamos em crise é ofensivo. Salazar sabia como falar ao povo para que este se conformasse na sua mediocridade. Deus haveria de os recompensar.

Ajuntamentos
Portugal precisa de um Salazar para repor a ordem na via pública. É inadmissível a desordem que se vê no Bairro Alto, no Cais do Sodré e em todas a zonas de diversão noturna. Não admira que cada vez mais se aprovem leis que fazem com que se vá destruindo esse cancro da vida urbana que é o barulho e a sujidade nessas zonas que estão acordadas até de manhã e com elas mantêm de olhos abertos os moradores sérios e que têm de se levantar cedo ao Domingo para ir à missa. Festas e jantares de grupo seriam todos corridos a gás lacrimogéneo.

Amizade com a Alemanha
Com Salazar no poder Portugal nunca se teria subjugado aos caprichos da Alemanha de Merkl. No tempo da 2ª Guerra Mundial, todos sabemos da mestria de António que conseguiu manter-se neutro apesar da sua admiração por Hitler. Salazar soube ficar à parte de um conflito e ainda receber várias toneladas de ouro nazi para os cofres cheios de Portugal. Isto enquanto fez por perseguir e não valorizar quem contornou a lei com o objectivo, reprovável e egoísta, de salvar milhares de vidas, como foi o caso de Aristides de Sousa Mendes. Era nestes pequenos detalhes que se via a diplomacia salazarista bem como demonstrava ao povo que cumprir a lei era mais importante do que tudo o resto, algo que se perdeu nos tempos de hoje em que qualquer pirralho acha que pode desafiar a autoridade.

Mocidade portuguesa
Por falar em pirralhos, já olharam bem à vossa volta? Já viram o estado da nossa juventude? Trocaram os uniformes militares e o respeito, pelos chapéus SWAG e a música importada. Com Salazar, as crianças estavam bem entregues ao cuidado da mocidade portuguesa e as escolas tinham obrigatoriamente que incluir a educação baseada nos valores morais do catolicismo. As crianças deviam saber cantar o hino e não os hits da Cidade FM. É por essa mesma razão que numa geração se passou de «Quis saber quem sou, o que faço aqui» para «Ela é linda, ela é special.»

Abstenção
Um dos grandes problemas da democracia é a abstenção e o desinteresse do povo nas escolhas que podem moldar o destino do país. Com Salazar era menos um problema a assolar Portugal já que as eleições de nada serviam. Era menos uma preocupação na mente dos portugueses e menos uma desculpa para justificar os males da nação. Era como termos um pai que sabe o que é melhor para nós e nos convence de que não temos capacidade para fazer escolhas inteligentes.

Revolução
Salazar seria, sobretudo, positivo para Portugal porque nos daria esperança num futuro melhor para todos. Salazar dava-nos o desejo de mudar! Portugal é um país que precisa de almejar uma revolução! Precisa que lhe pisem os calos e lhe digam para estar calado, para que tenha forças para sair do marasmo e sair à rua de cravo e ferradura na mão. Os portugueses andam adormecidos e sem forças para se revolucionarem outra vez e Salazar faz falta por isso. Com um Salazar, todos, ou quase, teríamos o desejo latente de sermos Salgueiro Maia e nos revolucionarmos. Teríamos Amália na voz e José Afonso no ouvido. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, o verniz iria estalar e nos iríamos revoltar. Nos dias que correm, sem um ditador como Salazar, a esperança está em que isto não piore e se assim for já nos conformamos. Ninguém quer ser revolucionário porque isso não dá likes no Facebook nem seguidores no Instagram. Ninguém censura músicas porque as músicas que se ouvem na rádio são inócuas nas suas letras. Com Salazar no poder teríamos mais jovens a querer ser Zeca Afonso e menos Justin Bieber. 

Por tudo isto, será que se perderam os valores e o respeito, ou apenas se perdeu o patriotismo bacoco e a idolateração às figuras do estado e da religião? A resposta é óbvia, mas seja como for, deixou de conseguir-se alimentar a ignorância de um povo burro e roto com «Fado, Fátima e Futebol» e passou a dar-se-lhe de comer «Pimba, Teresa Guilherme e Arbitragem». A diferença é que agora podemos escolher o que queremos comer e podemos refilar se a comida vier estragada.
Ler mais...

21 de abril de 2016

Pessoas que não sabem usar WCs públicos


Sei que à primeira vista há assuntos muito mais importantes a acontecer em Portugal, como os Panamá Papers, a compra do Banif ou o namoro da Sara Sampaio, mas penso que hoje trago-vos um assunto não menos relevante: a etiqueta das casas de banho públicas. Sim, bem sei que já muito se disse sobre ela, mas acho que é um assunto que merece mais destaque! Para mim, o grau de avanço da civilização mede-se pela forma como nos comportamos em WC’s públicos. E, a ver pela amostra, estamos ainda muito aquém de chegar a um patamar desejável de evolução e civismo.

Um dos comportamentos que deveria ser passível de uma coima é aquele perpetrado por pessoas que acham que os demais gostam de ter público enquanto se aliviam. Felizmente, a maioria das casas de banho está preparada para lidar com estes energúmenos, mas há algumas, normalmente no local de trabalho, em que o arquitecto não pensou nisso. Falo daquela situação em que estamos sentados no trono, a contemplar o nosso infinito reino, e há um gajo que entra no WC para usar o lavatório ou o urinol. Até aqui tudo bem, não temos direito de exigir o monopólio do local.

O problema é quando essa pessoa sai e, em vez de deixar a porta como a encontrou, fechada, opta por abandonar o WC e deixar a porta toda aberta.

Ficamos ali sentados, a ouvir tudo o que se passa lá fora. Sentimo-nos como um cão na rua a defecar na relva enquanto ouvimos os carros a passar e as pessoas a conversar no open space. Quando trabalhava na Novabase isto era uma constante. Não bastava o facto de o WC ser perigosamente perto da zona de trabalho, e da copa, fazendo com que por vezes todo o andar cheirasse a cozido à portuguesa que ficou dentro de uma toalha molhada guardada no sótão durante dois anos. O piso 5, onde estava o pessoal das telecomunicações, era o pior. Não sei o que é que aquela gente comia mas não me admirava que fossem ratos mortos no sentido inverso à digestão. Não sendo suficiente o facto de termos que efetuar o envio de faxes no local de trabalho num wc tão exposto, como ainda vinha a sempre um anormal que entrava e deixava a porta aberta. É gente com mestrados Bolonha mas que não fez a cadeira da boa educação.

Há uma situação que tenho observado em vários WC’s públicos mas que nunca vi ninguém a fazer-lhe referência. Não sei se tenho tido azar ou se é algo realmente comum, e estou a falar de macacos do nariz colados nos azulejos. Mas que merda é esta? Somos ainda chimpanzés que fazem esculturas e pinturas rupestres com as mucosas do corpo? Quem é esta gente que após proceder à limpeza do canal nasal, acha que o WC é uma espécie de museu onde deve expor os seus troféus, qual caçador de javalis que ostenta orgulhosamente a cabeça da sua matança? Estarão essas pessoas a tentar comunicar algo? Terá a forma como dispõem as suas sapas alguma espécie de padrão com mensagem subliminar? Ou serão só porcos? Imagino estas pessoas a falar de decoração de interiores com os amigos:

- Então, já acabaste as obras?
- Já, mas agora tenho de ver se compro papel de parede.
- Não te metas nisso! Eu vou lá a casa dar-te duas de mão de sapas do nariz que fica que é um mimo. O verde até vai dar vida à sala e condizer com as almofadas. Podias era ter falado comigo o mês passado. Estava com uma constipação que de cada vez que metia a unhaca no nariz trazia nacos. Tinha-te forrado a parede em dois dias.
- Mas metes um a um ou espirras para a parede?
- Depende ser queres um estilo mais Pollock ou mais realista.

Façam como as pessoas normais: tirem o macaco e limpem ao papel higiénico; façam uma bolinha com o indicador e o polegar e atirem para longe; comam. Tudo menos minar as paredes, portas e puxadores! Isso façam em casa da vossa mãe que não vos deu educação.

Por vezes penso que estou no WC de um congresso de idosos com Parkinson.

Estou a falar, obviamente, da da quantidade de pingas de urina no tampo da sanita. O que leva um homem, adulto, com algum grau de educação a esquecer-se disso tudo no momento em que entra numa casa de banho pública? Qual é o mecanismo no cérebro que passa de pessoa que em casa tenta não sujar para um expressor de urina? Parecem aqueles regadores públicos que deitam mais água para a estrada do que para a relva! É por pirraça, desleixo, ou apenas e só falta de educação? Nem estou a falar de casas de banho de discoteca em que um gajo já bebeu um copo e quer é ver se consegue ensopar o papel higiénico todo ou encher o suporte do piaçaba de urina de cerveja. Nesse caso ainda compreendo, todos os homens soltam o carroceiro do século XV que têm dentro deles quando bebem um copo a mais. Agora, no dia-a-dia? No local de trabalho? Num centro comercial? Cambada de gente porca que muitas vezes nem puxa o autoclismo. Aposto que são as mesmas pessoas que não metem o pisca na estrada. São pessoas que lhes custa mexer dois dedos e preferem agir como um bando javardos que não respeitam a convivência em sociedade e o respeito pelo próximo.

Por falar em autoclismo, quantas vezes já vi o que parecia ser uma lontra bebé, que caiu num poço de ácido, agarrada às paredes da sanita? Não era caso de quem puxou o autoclismo mas aquilo nem foi para baixo e a pessoa não reparou. Nada disso, estava lá papel e tudo a provar que aquele atrasado mental nem se dignou a fazer o mínimo exigível e que qualquer criança aprende a fazer desde que deixa de usar o penico. Uma vez, há uns 12 anos, na estação de comboios da Pampilhosa cometi o erro de principiante de ir à casa de banho na estação. Deparei-me com uma visão que nunca mais esquecerei: todo o chão tinha uma mini cheia de urina, com 3 a 4 centímetros de profundidade, e enquanto puxo as calças para cima para que as bainhas que nunca cheguei a fazer não ficassem ensopadas, vi algo digno de um filme de terror. Marcas, castanhas, de mãos e dedos nas paredes! Se fosse sangue parecia que alguém tinha sido assassinado ali e se agarrava às paredes enquanto se esvaía em sangue. Infelizmente, não era sangue. Era cocó. Algum maluco ou algum pobre coitado que não tendo papel achou que a melhor solução seria limpar com as mãos e depois raspá-las na parede. Má decisão. Gostava de saber como terá sido o resto da tarde desse senhor.

Outra coisa que me faz confusão são os pelos espalhados pelos tampos da sanita. Mas que calvície púbica é esta? Se optam por ter um frondoso relvado genital é convosco, mas se vêem que estão a espalhar pelos por onde passam, como se Hansel e Gretel quisessem encontrar o caminho de volta para a braguilha, limpem essa merda, ok? Limpem o tampo da sanita, não custa nada. Se for no urinol, puxem o autoclismo. Ninguém quer chegar-se a menos de um metro das folhas do vosso bonsai caduco.

Outra coisa: barulhos. Não estou a falar dos barulhos que não conseguimos evitar, seja de flatulência ou do impacto dos nossos dejetos na água. Isso tudo bem, não estou a pedir que sejam como uma tia que tenho que faz uma espécie de silenciador com várias camadas de papel higiénico para que os gases não se oiçam. Estilo assassino que utiliza a almofada como silenciador da pistola, estão a ver? Uma espécie de hitman do metano. Isso tudo bem, agora fazer gemidos e grunhidos para expulsar o demónio da cavidade? Há mesmo necessidade disso? 

É desnecessário ter de ouvir o que parecem ser barulhos de um mudo amordaçado a quem estão a bater uma contra a sua vontade. 

Já ouvi um gajo que falava sozinho «Ahhhhh, foda-se. Isto está tão difícil. Estou a desfazer-me. Ahhhh, ohhhh. Deus me ajude.». Pelos gemidos seguintes não me parece que Deus tenha ouvido as suas preces. A juntar a estes barulhos estão aquelas pessoas que acham que a retrete é a cadeira do call center. Para quê atender um telefonema que não é importante sentado na sanita de um WC público? Aos berros, sempre aos berros, que é como estas pessoas falam.

Nem vou falar do facto que é de mau tom escolher um urinol ao lado de um que está a ser usado quando há outras alternativas. É como estarem dez passadeiras livres no ginásio e irmos para aquela ao lado onde está a correr uma rapariga de seios voluptuosos. Nunca é de forma inocente que os homens fazem isso e é uma parvoíce, até porque a posição privilegiada seria de frente e não ao lado. Por isso, custa-me a perceber os homens que optam pelo urinol que está junto do que eu estou a utilizar. Não sei se será uma questão evolucional em que os homens das cavernas tinham de sair da gruta e ir urinar em conjunto, quais gazelas sabendo que em grupo aumentam as suas probabilidades de sobreviver caso apareça um predador. Neste caso, acabam por ser essas pessoas a passar a imagem de predador porque a única razão para tal atitude é ansiar a proximidade a pénis alheio. Ali naquela distância que dá para dar uma mirada de soslaio só para ver a cor e a textura do prepúcio. Pior são os que acham que é o local ideal para iniciar uma conversa. Não há razão para isso. Somos dois estranhos a urinar no WC público e ao contrário dos elevadores, o silêncio não só não é constrangedor como é recomendável. Pior, os comuns desbloqueadores de conversa podem ser perigosos, já que falar do tempo, por exemplo, pode ser mal interpretado: «Está fresquinho, hoje.» é automaticamente tido como «Esse pénis possui uma dimensão diminuta.».

Muito mais haveria a dizer, especialmente sobre as casas de banho femininas que eu bem sei (não me perguntem como nem porquê) que são uma espécie de matadouro de vão de escada do Intendente. São pensos, tampões e sangue espalhado pelo chão. Por fim, peço desculpa a quem teve de ler isto à hora de almoço, mas era um assunto que tinha de ser falado. Espero que partilhem para que possamos despertar consciências.
Ler mais...

19 de abril de 2016

Deve fazer-se sexo quando o Benfica joga em casa?



Acordaram hoje ansiosos pela nova sessão do "Doutor G explica como se faz", não foi seus malandrecos adeptos da javardeira com classe? Pois bem, então se calhar não vamos perder mais tempo e vamos lá aconselhar pessoas com problemas do foro amoroso, sexual, e, às vezes, psicológico.


Boa tarde Dr.G, tenho 33 e tenho um relacionamento de 2 anos com uma mulher da mesma idade e não passa um dia em que ela não convoque o meu soldado para longos combates dentro e até fora da nossa trincheira. Então qual o problema pergunta o Dr.? O problema é que no próximo mês ela vai dar formação pela empresa de quase 1 ano na Argentina... e agora que ela não aguenta um dia sem bater continência ao meu general, irá ela resistir a 1 ano sozinha a limpar a latrina á mão? Nunca tive nem tenho nenhum motivo para desconfiar dela, mas 1 ano sozinha a 8000 km não irá mudar  isso? O que o Dr. pensaria na minha situação?
Anónimo, 33, Lousada

Doutor G: Caro Anónimo, não te vou mentir, pessoa (homem ou mulher) habituada a ter sexo diariamente vai precisar de muita força de vontade para não pular a cerca durante um ano. Nem te quero assustar ao dizer que ela vai estar no país do tango, com calor e homens latinos a cobiçarem el culo da tua senhora. Nem vou estar a dizer isso que é para não ficares ainda mais preocupado. Mas o mesmo se aplica a ti, que toda a gente sabe que Lousada, a par de Ermesinde, é a terra onde há mais gajas boas! Bem, mas se há pessoas que conseguem deixar de fumar, haverá certamente força de vontade para passar um ano a tocar à campainha de satã sem precisar que lá vá o Quasimodo dar as badaladas por ela. Utilizem as novas tecnologias para atenuar a distância:

  • Fotografias badalhocas sem nunca mostrar a cara porque nunca se sabe o dia de amanhã;
  • Um vibrador comandado remotamente;
  • SMSs javardas como «Tirava-te as cuecas com os dentes», «Fazia-te uma limpeza à carpete mas dificilmente seria a seco», e «Estou a deixar o pó das prateleiras acumular para seres tu a limpar quando chegares.» Esta última não é uma metáfora, é mesmo para lhe fazeres crer que não a vês apenas como um objecto sexual mas também como dona de casa. Ela vai adorar.
Seja como for, se ela tem mesmo de ir, nunca vais saber se ela vai ser fiel ou não, por isso, estares preocupado com isso é a mesma coisa que limpar o rabo ao contrário: só prejudica.


Olá Dr. G. Namorei 5 anos com um rapaz e a relação teve sempre altos e baixos, porém continuo a gostar dele, apesar de saber que ele está numa relação e que já não gosta de mim (isto se alguma vez gostou). Entretanto mudei de ares e envolvi-me com um fulano que acho que joga no outro campo, mas tudo bem ficamos amigos. De seguida conheci um homem mais velho que eu 7 anos mas também não me suscitou interesse. E por fim conheci um búlgaro mais novo que eu quase 10 anos, esse sim suscita-me interesse mas tenho medo de dar o passo seguinte, pois não quero apaixonar-me e voltar a sofrer. O que faço?    
Anónima, 27, Braga

Doutor G: Cara Anónima, a tua alcunha devia ser Planeta deAgostini ou Panini, tal são os cromos e fascículos que andas a coleccionar! Tens o ex-namorado, que é aquele cromo de antiga glória, chamemos-lhe Chalana; tens o gay, chamemos-lhe Calado; tens o Búlgaro, Balakov; e agora andas a tentar um jogador da formação menor de idade qual olheiro de Pina Manique, campo onde joga o Casa Pia. Só te falta o cromo brilhante que sou eu, mas infelizmente já não vai dar. Quanto à tua pergunta, acho que deves ir em frente e dar o passo seguinte, mas espera que ele faça 18, a não ser que ele seja preto porque assim podes alegar em tribunal que pensavas que ele era como o Renato Sanches e tinha ido de bicicleta sem rodinhas fazer o registo na Loja do Cidadão. Perdão, na Loja dos Seres Humanos que Convivem em Sociedade. Ufa, que me livrei de ser acusado de machista! Assim só me acusam de racismo.


Caro Dr. G, tenho uma amiga, de quem sou muito próximo há vários anos, entretanto ambos tivemos outras relações mas sempre houve uma química. No entanto há 2 anos acabei com a minha namorada da altura e ela com o seu namorado também, e fomos estando juntos, "curtindo", mas isto muito espaçado normalmente quando saiamos á noite ou assim, mas uma das vezes com muito álcool á mistura a coisa aqueceu e ela acabou por perder a virgindade comigo. Depois disso estivemos mais algumas vezes juntos mas nunca mais houve "brincadeira". Há 5 meses atrás começamos a namorar, e TAMBÉM NÃO HOUVE, o que não foi por falta de tentativas minhas, mas havia sempre uma desculpa, como não ser o momento adequado. Há 1 mês atrás ela acabou comigo e disse que o motivo para acabar era não ser “amor”, sinceramente também não sentia que fosse, mas estou doido para lhe saltar para cima outra vez! Ainda por cima neste ultimo mês depois de termos acabado ela tem parecido bastante interessada, mas como acabou comigo tenho medo de arriscar alguma coisa agora, o que devo fazer?? Sim sou um coninhas, ando há 4 anos para lhe dar uma bem dada e ainda não dei.  
João, 21, Porto

Doutor G: Caro João, tu és o verdadeiro amigo do peito que até tira a virgindade às amigas e confessa que está doido para lhes saltar para cima sem uma única vez referir que está com receio de estragar a amizade de longa data que vos une. Sim senhor, um macho à antiga! Tiraste-lhe a virgindade e depois nunca mais houve sexo; namoraram 5 meses e não houve sexo; ela acabou contigo. Não achas que esta sequência de acontecimentos quer dizer que se calhar não lhe deste uma boa primeira experiência e ela não quis repetir? Deixa-te disso e resigna-te à condição de amigo cinzentão que me parece que para colorir tens menos jeito do que um daltónico.


Olá Dr. G. Acho que já disseste num dos consultórios que namorada com período ainda vale o bem-bom. Abençoado. O meu namorado não faz sexo comigo quando estou com o período (sim, estou sempre depilada e não, não tenho muito fluxo). Ora isto só de si chateia-me, nunca foi problema com os outros. Chateia-me mais quando ele se esquece e avança no foreplay, eu acho que lhe passou a mariquice e alinho e depois acontece que estou nua e de repente uma de-boner! Ora, quando isto acontece eu não consigo evitar sentir-me rejeitada. Imagina: estás completamente nu e pronto para dançar o vira, ela olha para ti e de repente passa a vontade! Pior quando é ao contrário, porque com as mulheres é ver um majestoso pénis paralelo ao chão a passar a apontar flacidamente para baixo. Mexe na auto-estima! Há maneira de contornar isto? De o fazer ser menos nojentinho com isto? Não vou forçar ninguém a sexo mas também não quero mazelas no ego! Tão pouco alinho em negar sexo, isso era meter-me a mim de castigo.
C, Lisboa, 26

Doutor G: Cara C, não avises que estás com o período! Deixas que ele avance sem nunca lhe dizeres que estás a jorrar sangue pela escotilha dos bebés, e quando ele retirar o seu majestoso pénis e vir que está cheio de sangue só tens de dizer «Não estou com o período. Deves ter rebentado alguma veia, ou assim.» só para ver a cara de pânico dele. Outra técnica, embora mais rocambolesca, é acondicionares meio quilo de arroz na patareca que, para além de servir como tampão orgânico (podes usar integral se tiveres daquelas mariquices do glúten), servirá para quando ele iniciar o cunilingus ser servido com uma bela cabidela. Se ele refilar só tens de gritar «Comes o sangue da galinha e o meu tens nojo? És nojento! Faço-te o jantar e é isto?». Bem, agora mais a sério, há homens e mulheres que não gostam de fazer sexo com o período e embora sejam palermas, há que respeitar. Façam no banho e no fim tira umas fotografias e envia para uns amigos a dizer «Socorro!». No banho limpa-se bem e a água diminui o fluxo e não há razão para ele ter tanto nojinho. De qualquer das formas, podem sempre fazer amor no rabo e na boca, e utilizar as mãos e os dedos, não? Se me vais dizer que ele não gosta disso, então o problema se calhar é outro. Homem ter nojo de fazer sexo com a mulher nos dias de menstruação, é o mesmo que ter medo de seringas e querer ser cirurgião. Podes mandar estampar esta frase numa tshirt para usares por casa naquelas alturas do mês.


Boa noite Doutor G, em Março do ano passado conheci uma rapariga pela namorada de um amigo meu, e em Junho namoramos cerca de 1 semana. Nesta semana fomos do 8 ao 80. Ao início ela dizia que queria uma relação séria e que gostava muito de mim e blá blá blá. Acontece que tivemos a nossa primeira noite de amor, e passado dois dias ela acabou comigo.. Até pensei que não tivesse gostado da minha performance sexual, mas ela teve dois orgasmos durante o acto e eu vi-a nela que estava a gostar mesmo muito, e por consequência (ou não) não me ejaculei.. Agora namoro com outra pessoa (6 meses), e o sexo é mesmo bom, de ambas as partes.. Contudo esta situação ainda hoje não me sai da cabeça, o que acha que pode ter sido? Até porque eu não fiz nada de mal daí para a frente, ela ficou diferente desde esse dia.  
Anónimo, 20, Viana do Castelo

Doutor G: Caro Anónimo, quando alguém me diz que namorou durante uma semana dá-me logo vontade de dar duas excelsas bofetadas à João Soares. Isso é o mesmo que eu dizer que fui médico durante trinta segundos quando descobri no Google que o caroço que tinha nos testículos afinal não era cancro e era só um pelo encravado. Depois, deixa-me dizer-te que a expressão «não me ejaculei» é dúbia: não ejaculaste ou estavas a tentar apontar para o teu umbigo e falhaste o alvo? Quando à tua dúvida, respondo com outra pergunta: se estás feliz com a nova namorada, o que interessa as razões que a outra teve para te deixar? Sejam elas quais forem, parece que te fez um favor. Agora já te ejaculas todo seja lá qual for esse fetiche nojento que tens.


Olá Dr, estou numa relação há 5 anos, vivemos juntos há 3 anos e amo o meu namorado. Posso até dizer (sem correr o risco de exagerar) que somos almas-gémeas. Ele trata-me tão bem, faz-me rir, é o meu melhor amigo e a melhor pessoa que eu conheço. O único senão é debaixo dos lençóis, temos altos e baixos. O problema é que me apaixonei pelo primo dele há quase 2 anos, quando ele foi passar uns dias lá a casa. No ano seguinte, ele voltou e mal o vi comecei a tremer e o coração batia tão depressa. Não conseguia ignorar o que sentia, mas podia ignorá-lo e foi o que tentei fazer. Quando o meu namorado não estava perto de nós era quando ele era mais meigo e gostava de me provocar com brincadeiras, o que me fazia pensar que talvez sentisse algo por mim. Por exemplo, quando eu lhe fiz um favor lá em casa ele disse-me que eu era "o anjinho dele" e tocou-me nas costas; houve outra situação em que lhe fiz um elogio e ele abraçou-me pela cintura, em jeito de agradecimento; e outra situação foi na despedida dele em que estávamos sozinhos e ao darmos um abraço de despedida ele disse "Gosto muito de ti". Entre outras coisas... Quando ele foi embora fiquei de rastos e chorei imenso pela falta que ia sentir dele e por querer o impossível. Sei que posso estar a ver coisas onde elas não existem, mas acha que ele sente algo por mim? Eu sei que é errado o que sinto, mas não consigo esquecê-lo e ao mesmo tempo sinto-me mal pelo meu namorado que não merece isto. Não contei a ninguém com medo que o meu namorado descubra e guardar isto está a dar cabo de mim . O que me aconselha?  
Anónima, 24, Lisboa

Doutor G: Cara Anónima, sempre que me enviam dúvidas que começam com «somos mesmo felizes e amo-o muito» já sei que vem merda a seguir. Meu dito meu feito «amo o meu namorado... o problema é que me apaixonei pelo primo dele há quase dois anos.». Arre foda-se, ó Anónima! Mas que amor vem a ser esse? Isto do quanto mais prima mais se lhe arrima não é válido para os primos dos namorados. Uma pergunta: quando dizes que lhe fizeste um favor lá em casa, esse favor não foi aspirar-lhe o colo com a boca, pois não? É que normalmente os homens tendem a gostar de mulheres que aspiram e a chamar-lhes "meu anjinho". Já agora, «meu anjinho»? Mas que merda é esta? Qual é o gajo que vai passar uns dias a casa do primo e depois vai abraçar a namorada dele pela cintura e chamar-lhe "meu anjinho"? Que foleirada. Para te apaixonares por um gajo desses também não deves ser muito boa da cabeça, deixa-me que te diga. Bem, acho que deves deixar o teu namorado, obviamente, e parece-me também óbvio que o primo quer saltar-te para cima. Se vai querer mais do que isso? Não sei, só Deus saberá e Ele é um gajo que não me responde às mensagens como faz à Alexandra Solnado. Enfim, Deus sempre teve filhos e enteados, basta olhar para África. Agora, pondera o seguinte:

  1. Deixas o namorado;
  2. Começas a namorar com o primo;
  3. Juntam-se todos na consoada de Natal;
  4. O teu namorado diz para o primo «Fiz filhoses mas não é para fazeres como fizeste com a Anónima e ir lá comer sem pedir autorização.»
  5. O primo responde «Ela diz que gosta mais do meu tronco de Natal do que do teu.»
E gera-se toda uma discussão com metáforas culinárias de Natal. É capaz de ficar um ambiente estranho, mas faz o que quiseres, sua anjinha safadona.


Olá Dr. G, este ano entrei para a faculdade numa zona longe de casa e conheci logo um rapaz que desde o início me chamou a atenção. A tensão entre nós aumentou mas nunca aconteceu nada, nem uns beijinhos, porque ele tem namorada! Escusado será dizer que fiquei super embeiçada por ele, mas o fato de ele ser comprometido impede-me de avançar. Ele por vezes mostra-se interessado, por outras não. Não sei o que é que ele quer. Será que me achou piada por ser eu novidade? Tenho receio de avançar porque sendo do mesmo curso tenho receio que as coisas fiquem tremidas (sou muito choninhas, não sou?), mas ao mesmo tempo tenho uma vontade louca que as coisas resultem. Que devo fazer? 
Anónima, 19, no meio de nenhures

Doutor G: Caro anónima, tens mesmo a certeza que encontraste um homem que não se enrolou contigo porque tem namorada? Um homem fiel? Isso é mais raro do que uma foto focada do Big Foot, um vídeo HD de um OVNI, ou um político competente! Já ligaste para as Tardes da Júlia para contar a tua história na rúbrica «Parece que é mentira mas a sério que não é!»? Bem, o meu conselho é o seguinte: se ele por vezes mostra interesse e noutras não, então deixa que ele tome o primeiro passo se quiser. Porquê? Por um lado não ficas com fama de piriguete que rouba o homem das outras; por outro ficas com a certeza que ele te quer mesmo e não foi só porque o encostaste contra a parede e ele cedeu porque é um homem e os homens são todos uns porcos. Seja como for, se ele tomar a iniciativa e se enrolarem vais ficar sempre a pensar se ele vai fazer o mesmo contigo. Ah, esquece! Nós somos sempre diferentes e especiais.


Gostaram? Não? Pfff, coninhas. Como sempre, continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. Menos de 1000 caracteres, se faz favor, e não há cá dúvidas respondidas só por email que o Doutor G, como qualquer javardo, não tem qualquer código de sigilo profissional.


Partilhem e façam muito amor à bruta, que de guerras o mundo já está cheio.

Ler mais...

18 de abril de 2016

Tipos de assalto na Buraca: dicas e quebra-gelos.



Como qualquer criança que nasceu e cresceu na Buraca, foram várias as vezes que me assaltaram e muitas mais as que tentaram, mas que consegui evitar. Fugir, pronto. Crescer na Buraca é uma aprendizagem constante sobre como detetar o perigo e fui desenvolvendo o meu sensor aranha capaz de antecipar uma intenção de assalto ainda antes do próprio gandim decidir que ia praticar mais um roubo. Os criminosos vão passando o conhecimento uns para os outros e embora chumbassem a todas as outras disciplinas, passavam com distinção à de "Técnicas Laboratoriais de abordagem criminosa". Para os menos experientes nestas andanças, talvez pareça desnecessária uma boa abordagem e pensem que é como novelas da TVI escritas sem conhecimento de causa onde o meliante grita sempre «Isto é um assalto!» antes de o perpetrar. Não é assim que acontece na vida real onde o fator surpresa é essencial para quem faz carreira no crime. Tal como no engate, a frase de abertura é importante para causar uma boa impressão e para fazer com que a presa baixe a guarda e facilite a conquista, neste caso, a carteira. Partilho convosco as técnicas para quebrar o gelo mais utilizadas na minha zona:

Tens horas?
50% dos assaltos na Buraca começam com esta simples pergunta. Mesmo que na altura ninguém tivesse telemóvel e se visse perfeitamente que não tinha relógio no pulso, muitas vezes era abordado por pessoas que valorizam a pontualidade nas suas vidas e que precisam de saber sempre que horas são. O diálogo era mais ou menos o seguinte:

- Tens horas?
- Não, não tenho relógio.
- Então passa a carteira.

Ficava sempre a pensar se o assalto era uma espécie de vingança por não ter horas que lhes dissesse e que tudo aquilo poderia ter sido evitado se os meus pais me comprassem aquele Casio que dava para meter cábulas para os testes que eu já lhes havia pedido inúmeras vezes. Como criança curiosa que era, quando finalmente me compraram um relógio, aliás, quando o meu pai trouxe um daqueles Swatch manhosos que saiam nos leites Parmalat lá do armazém, decidi testar a minha teoria:

- Tens horas?
- São quatro e meia. - digo exibindo de forma orgulhosa o meu Swatch.
- Ainda bem. Quatro e meia é mesmo aquela hora do assalto. Passa a carteira. E o relógio também.

Vendo agora... talvez fosse previsível.

Deixa dar uns toques.
Ahhh, uma das técnicas de assalto mais utilizadas na minha bela localidade. Um simples pedido que num mundo ideal, onde não há crianças que nascem com estigmas e sem as mesmas oportunidades do que as outras, seria apenas um pedido para se juntarem a um jogo de futebol num alegre convívio. Como o mundo não é assim perfeito, longe disso, este pedido servia como a predileta abordagem ao roubo de bolas de futebol. Foram várias, perdi-lhes a conta, as bolas que não voltaram para casa, pelo menos para a minha. Era simples e rápido:

- Deixa dar uns toques.
- Toma.
- Vá, agora saiam do campo que a gente quer jogar com esta bola nova.

A outra técnica, mais cobarde, quando eles eram menos do que nós, era chutar a bola para cascos de rolha e dizer «Deixa estar que a gente vai buscar.». Não mentiam: iam mesmo busca-la, mas não voltavam.

Orienta-me 50 cêntimos.
Ainda nem o 50 cent tinha aparecido no panorama do Hip Hop, já havia vários assaltantes na minha zona que tinham a alcunha de 50 cêntimos. Eram rapazes empenhados e que todos os dias às nove da manhã lá estavam no caminho para a Escola Secundária D. João V na Damaia a trabalhar na portagem. Foi a primeira vez que vi uma SCUT que costumava ser gratuita a passar a ter custos. Havia quem levasse 50 cêntimos já de propósito para o pagamento, evitando todo aquele desconforto quando se chega à portagem e vemos que nos esquecemos da carteira em casa: juramos a pé juntos que só reparámos naquele momento e que não foi por mal. Óbvio que nos deixam passar, mas sabemos que mais cedo ou mais tarde vamos pagar. Havia um dos portageiros do gueto que nunca roubava mais do que o valor que tinha pedido mesmo que visse mais moedas na carteira. Aliás, ele levava tão a sério a profissão que só cobrava mais aos miúdos gordos: «Camiões pagam mais.» dizia-lhes enquanto lhes roubava o dinheiro e a um pouco da autoestima.

Fiu fiu!
Fiu fiu? Sim, um simples assobio ao longe era sinal que ia haver stress. O assobio ia crescendo de intensidade e aumentando a cadência caso optássemos por ignorá-lo. Cada vez mais perto, sabíamos que estavam no nosso encalço pessoas fofinhas que nos queriam roubar. Se continuássemos a ignorar, o assobio transformava-se num «Ohhh, tu aí! Tou-te a chamar-te! Espera aí, não é para te fazer mal!». Fazia lembrar aquela cena do filme Marte Ataca em que os extraterrestres vão dizendo no megafone «Viemos em paz! Não tenham medo!» isto enquanto destroem e matam tudo por onde vão passando. Perante esta abordagem, tudo dependia da distância que nos separava do coito nesta apanhada do crime. Se víssemos que conseguíamos chegar a segurança a tempo, mal ouvíamos o primeiro assobio era como se estivéssemos na linha de partida dos 100 metros e fosse dado o tiro de partida. Era correr pela vida sem nunca olhar para trás! Às vezes os mais gordos eram apanhados e lá tinham de pagar portagem por todos. Quando eles já estavam muito em cima e sabíamos que iria ser impossível fugir-lhes a única forma de nos livrarmos deste assalto era pagar-lhes para não nos assaltarem. Há quem chame a isso um roubo.

Onde é que compraste esses ténis?
Esta pergunta era a pior que se podia ouvir porque ninguém gosta de ir descalço para casa. Raramente era uma pergunta inocente vinda de um rapaz que gostava de moda e calçado e trazia sempre no bico a cobiça dos ténis alheios. Era nestas alturas que eu agradecia só ter roupa comprada na feira de Benfica:

- Onde é que compraste esses ténis?
- Na feira dos ciganos.
- Hum mas isso é Nike.
- Não é. Repara bem… é Niko.
- Xii, ténis de merda! E quanto é que calças?
- 45.
- Esquece, só calço o 41.

Terminava ele deixando escapar as suas reais intenções. Nunca me roubaram roupa, vá-se lá saber porquê, mas havia mitos urbanos, quais histórias de terror de acampamentos religiosos, que contavam que eram várias as pessoas que ali na zona tinham sido roubadas e deixadas completamente nuas na rua. Era um medo bem real que pairava sobre as nossas cabeças. Ambas as cabeças.

Orienta-me um night.
Esta abordagem para o assalto é mais recente e era usada quando já era mais velho. Isto porque os criminosos sabem que pedir um cigarro a uma criança é de mau tom. Assaltar, tudo bem, agora induzir um petiz inocente a fumar é que não. Há limites até para quem faz do crime o seu melhor amigo de infância. Lembro-me de sair da estação da Damaia a vir do Instituto Superior Técnico e ser abordado por um rapaz:

- Orienta-me um night.
- Não fumo, diz que mata.
- É. Isto também – diz-me enquanto tira um facalhão do Rambo, do bolso.
- É. Mas isso mata mais depressa.
- Haha ya. Passa a carteira.

Podem pensar que isto é traumatizante, mas acreditem que não. Não se esqueçam que estava a chegar do IST e isso sim, deixa traumas para a vida.

Tass bem?
Este era o pior tipo de assalto. Era o assalto em que não nos roubavam apenas valores materiais mas um bocadinho da inocência. O "tass bem" era feito por alguém que julgávamos ser uma pessoa de bem, com quem já tínhamos jogado à bola ou trocado algumas conversas. Na ingenuidade da idade achávamos que éramos amigos, mas a certa altura, éramos abordados na rua com um «Mekié! Tass bem?». Alegres e confiantes, estendíamos a mão e quando dávamos por ela, o cabrão estava a meter-nos a mão nos bolsos em busca de uma moeda amiga. Talvez isto tenha-me deixado marcas e seja uma das razões pelas quais parto sempre do princípio que todas as pessoas são mal-intencionadas até que me provem o contrário. Uma vez, ao ser assaltdo por um "tass bem" por um gajo com quem era habitual jogar à bola, no dia seguinte ele vem ter comigo e entregou-me o que me tinha roubado no dia antes. «Toma aí, desculpa a cena de ontem, mas estava com uns sócios meus e eles obrigaram-me a roubar-te.». Agradeci e percebi que muitas vezes as pessoas responsáveis pelos males do mundo são aquelas que estão na sombra a dar as ordens.


Não sei nos dias de hoje estas técnicas se mantêm ou se a era digital também já chegou aos assaltos da Buraca. Caso os assaltantes ainda não tenham adaptado as novas tecnologias para a abordagem criminosa, deixo aqui algumas sugestões:
  • Orienta-me aí o móvel para sacar uma selfie;
  • Orienta-me aí 50 likes;
  • Deixa dar uns swipes;
  • Diz-me aí o teu Insta para te dar um follow;
  • Deixa ver a versão do Android do teu móvel.

Depois, para além de levarem o dinheiro podem também roubar a password das redes sociais que hoje tem muito mais valor do que o telemóvel, a carteira e o relógio.
Ler mais...