As minhas orações vão para todos aqueles que estão em fase de exames neste momento. Os que estão na faculdade, mas principalmente aqueles que estão a fazer os exames nacionais que lhes darão acesso, ou não, ao ensino superior. Infelizmente, já passei essa fase há alguns anos e, embora tenha saudades dos tempos de estudante, são recorrentes os pesadelos que tenho em que ainda me falta uma cadeira para terminar o curso no Instituto Superior Técnico.
Durante a época dos exames, e durante aquelas duas ou três horas de tortura, podemos identificar diferentes tipos de alunos que lidam com esta fase de formas diferentes. Aqui ficam alguns.
O MacGyver
O famoso aluno que deixaria Leonardo Da Vinci corado com as suas invenções, não para melhorar a humanidade e haver progresso, mas para levar cábulas para os exames sem ser apanhado. No meu tempo eram aqueles relógios xpto que davam para escrever texto e que os professores nem sabiam da sua existência, papéis escondidos em todas as partes do corpo escritos à mão com Arial fonte 6 pontos que só uma visão microscópica conseguiria descodificar. Se os carteis de droga fossem inteligentes contratavam estes alunos como mulas para transportar os estupefacientes. Um aluno calão iria encontrar forma de transportar dois quilos de coca sem que ninguém desse por ela. Isto até teria o ponto positivo de vermos os serviços de fronteiras e segurança dos aeroportos a contratar os professores desempregados. «Pensava que ia ser colocado na Preparatória da Damaia, mas felizmente fiquei colocado no aeroporto de Lisboa. Muito mais calmo.» Este tipo de aluno que copia nunca vai poder queixar-se da corrupção dos nossos políticos.
O safoda
Aquele que já sabe que vai chumbar e que, por isso, está em estado de paz consigo próprio. É uma espécie de doente terminal que já aceitou que a morte é inevitável e diz sentir uma paz interior como nunca. Devido a essa paz, está tranquilo à porta da sala do exame e faz piadas com aquele ar sobranceiro de quem sabe tudo e nada o pode apanhar desprevenido. Costuma fazer perguntas difíceis aos colegas cá fora só para os enervar, normalmente essas perguntas são difíceis porque ele não sabe nada e inventa coisas que ninguém sabe porque nem são da mesma disciplina. Por norma, entrega o exame em meia hora com um sorrisinho maroto na cara que faz com que haja gente a pensar «Fogo, ganda boss, já fez tudo!». Na verdade, só escreveu o nome. Os bons alunos e marrões rogam-lhes pragas, mas no fundo uma parte deles desejava ter aquela liberdade que só se consegue quando já não há hipóteses de ter sucesso.
O AVC
Está sentado num canto à espera que abram a porta da sala para ir fazer o exame. As suas pernas tremem e os seus pés batem no chão como se ele se estivesse a preparar para fazer um exame de sapateado no Conservatório. Leva, frequentemente, os dedos ao pulso e ao pescoço para medir as pulsações porque sabe que está em sérios riscos de ter um enfarte e/ou um AVC. As unhas já foram todas ontem à noite, durante a directa alimentada a café e Red Bull, hoje vão as peles dos dedos que rói quase até expor os corpos das falanges distais.
O Fernando Santos
É o tipo de aluno pragmático e que se foca naquela nota mínima que precisa ter. É para tirar 9.5? Ele estudou apenas a matéria necessária para isso. Uma vez, no IST, tinha tirado 19 no primeiro teste de análise matemática III e fiz as contas e percebi que já tinha passado porque não havia nota mínima por teste e já tinha a média de 9.5. O que fiz? Não fui ao segundo teste. Sou muito forte a fazer contas e sendo que era uma cadeira de matemática, acho que devia ter tido pelo menos um valor extra por essa decisão. Enfim, o ensino não valoriza o que realmente tem valor.
O zombie
Sim, é o tipo de aluno que não dorme há quatro noites, movido a café, ecstasy, e a chapadas da mãe sempre que o apanha a fazer outra coisa que não estudar. Negligencia os amigos durante toda a época de exames e hiberna, qual hásmter que tenta meter nas bochechas toda a matéria que conseguir. Vemo-lo no dia do exame e parece que esteve a viver na rua durante as últimas três semanas. Começou a tomar vitaminas para o cérebro na altura dos exames com a falsa ilusão de que isso o vai ajudar a compensar o défice de atenção. Se há coisa que o zombie faz é estudar. Ele estudou, muito. Leu a matéria toda várias vezes, fez apontamentos, fez exercícios, foi às aulas de dúvidas, teve explicações, tudo. Fez tudo aquilo, mas esqueceu-se que as directas queimam a moleirinha e que o cansaço é o pior dos inimigos de um estudante. Invariavelmente, o exame corre-lhe mal e todo um turbilhão de emoções, alimentado pela privação do sono, vem ao de cima. Vai para casa e adormece enquanto chora em posição fetal no banho.
O simulacro
O simulacro é aquele tipo de aluno que vai ao exame da primeira fase só para ver como é. Não estudou nada, sabe que não vai passar, mas ainda assim gosta de ir fazer um teste em cenário real. Recebe o exame, lê as perguntas todas de uma vez e percebe que iria chumbar com um grande e redondo zero. Levanta-se passados vinte minutos e entrega o teste de consciência tranquila de que nem vai ter de esperar pela nota. Muitos destes alunos viciam-se nesta sensação e acabam por utilizar a 2ª fase como simulacro para a época especial.
A piriguete
É aquela colega que vai com tudo para o exame. Algumas vêm directas do Urban com a mesma roupa com que estiveram a roçar em virilhas alheias naquela pista secundária que, toda a gente sabe, é onde estão as mais porquitas. Ela sabe que vai chumbar a não ser que o professor tenha uma erecção e isso lhe retire o sangue do cérebro e o faça responder às suas dúvidas durante o exame sempre com uma resposta demasiado relevadora. «Olhe, professor, não estou a perceber este enunciado.», pergunta enquanto enrola o cabelo, trinca o lábio, e manda o peito para a frente como se estivesse a acabar uma prova de atletismo e quisesse ficar em primeiro no photo-finish. O professor, básico como todos os homens, embasbaca-se e diz «Ahhh, hummm, ohhhhh, então a resposta é 10.». Mulheres jeitosas e que não têm pudor em usar o corpo como arma são os seres mais poderosos do mundo.
O raspadinhas
O raspadinha confia que a sorte protege os audazes. Vai para o exame com 10% da matéria estudada a pensar que se tudo correr bem, esses 10% vão preencher mais de metade do exame. Quando recebe o exame e lê as perguntas e percebe que aqueles 10% são capazes de lhe dar para passar, faz uma festa como se tivesse ganhado o Euromilhões! Responde a perguntas cuja cotação total vale dez valores e acende uma velinha à Santa Casa da Miseritcórdia a pedir que não se tenha enganado em nada.
A suricata
É aquele aluno que passa o exame todo de cabeça no ar a olhar à volta com ar assustado. Fica em pânico quando vê que está toda a gente concentrada a fazer o exame e assusta-se ainda mais quando vê que na pergunta dois escreveu duas frases e pensava que estava certo, mas vê alunos que já vão em duas páginas de resposta para a mesma pergunta. Começa a entrar em paranoia quando o professor o vê de cabeça levantada a olhar em redor «Será que ele pensa que estou a copiar? E se me anula a prova? Também não sei nada, ao menos assim tinha desculpa para ter zero!».
O padrões
Este tipo de aluno é aquele que nos exames de escolha múltipla está constantemente a tentar encontrar padrões nas respostas. Quanto maior o grau de ignorância dele em relação à matéria, maior é a paranoia, qual John Nash que pensa que vê padrões onde eles não existem. Eis um exemplo do que lhe passa pela cabeça enquanto está a tentar resolver o exame: «Hum... nas outras duas a resposta era "C", por isso já sei que esta não é "C". Aliás, ainda não saiu nenhuma que fosse "A". Estranho. O professor não ia fazer um teste inteiro sem nenhuma resposta "A". Deve ser esta que é a resposta mais longa e toda a gente sabe que quanto mais longa mais completa e maior probabilidade de ser a certa. Graças a Deus que este teste não tem aquelas respostas "todas as anteriores", isso é jogar baixo demais! Bem, estou aqui a detectar um padrão: "B C C A". Cá para mim o professor meteu todas assim, ou gerou isto num computador que tem este algoritmo. Fogo, é isso mesmo! Sou grande boss! Inteligência não é decorar matéria, é saber ver estas coisas.». No fim, as respostas eram todas "A" porque há professores que são traquinas.
Boa sorte a todos e não se esqueçam: se chumbarem a culpa é só vossa. Essa merda não é assim tão complicada.
PS: Clica aqui para dicas para escolher um curso superior
Boa sorte a todos e não se esqueçam: se chumbarem a culpa é só vossa. Essa merda não é assim tão complicada.
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