7 de fevereiro de 2017

A mochila pesada dos meninos e bombas na escola



Com a polémica do peso das mochilas que os putos têm de levar para escola, lembrei-me de como seria o diálogo entre os pais de uma dessas crianças com os pais de uma criança pobre num país em guerra:

- O pior na escola do meu filho é que tem uma mochila que pesa horrores. - diz a mãe do Martim.
- O pior na escola do meu é que caem lá bombas, de vez em quando. - responde a mãe do Sayid. 
- Pois, mas é que o meu Martim tem de levar tantos livros, mais cadernos... aquilo dá cabo das costas. Espondilose na certa.
- Pois, o meu também anda mal das costas por causa dos estilhaços de uma bomba que rebentou na aula de matemática.
- Sim, mas e nos dias de educação física? Com tanto peso já está a ficar com uma marreca.
- Pois, o meu filho não tem educação física. Não precisa porque já andam sempre a correr a fugir das bombas.
- Credo! Não me diga que tem de correr com a mochila às costas?!
- Não... o meu filho não leva livros para a escola.
- Sorte a dele! Têm lá cacifos, é?
- Não, nenhum aluno tem livros porque não há dinheiro. Usam o livro do professor.
- Que sorte! O meu tem dias em que tem oito disciplinas! Um livro por cada uma! Faça as contas.
- O meu só tem duas disciplinas porque os outros professores morreram com as bombas.
- Credo! Não me diga que ficou com furos entre as disciplinas!?
- Não, furos tem o telhado e as paredes... por causa das bombas.
- Menos mal, não há nada pior do que andarem por lá com furos a perder tempo.
- Estou a lembrar-me de algumas coisas piores...
- Sim, realmente, pior é terem furos e andarem com a mochila pesada de um lado para o outro! Se, ao menos, lhes dessem uns carrinhos de mão para transportar aquilo...
- Olhe, na escola do meu filho têm lá muitos.
- Então, mas se não levam livros para a escola... que mal-empregado.
- Pois, mas dá jeito para carregar os corpos que morrem com as bombas.
- Pronto, mas o ideal até era umas mochilas com rodinhas ou assim.
- Pois, lá na escola do meu filho isso não dava muito jeito.
- Então? Tem muitas escadas?
- Tinha algumas, mas é mais porque as rodas ficariam presas nos bocados de parede e de telhado por causa das bombas.
- Às vezes até me apetece dizer ao Martim para não levar os livros todos! Se levar falta de material, paciência! Mas se ele aparece lá com a mochila vazia as outras crianças olham logo de lado.
- Lá na escola do meu Sayid é ao contrário. Sempre que alguém leva uma mochila grande e pesada todos desconfiam que é uma bomba.
- Credo, porquê?
- Porque normalmente é uma bomba. O último foi o Ahmed. Tinha sido o pai arranjar-lhe o lanche.
- Realmente, isso das bombas parece chato, mas nem me faça falar do chão da zona dos escorregas e dos baloiços que é almofadado com aquele material que se um miúdo raspa ainda se queima.
- Pois, lá também se queimaram uns quantos.
- Foi das bombas, já sei...
- Foi... Napalm.

Há quem diga que a comparação não faz sentido. E não faz. Mas é gira. Vá, agora vão lá preparar a mochila dos vossos filhos e não se esqueçam das barras de ouro e de um tupperware com dois quilos de feijoada.





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