É dia de S. Valentim, dia dos namorados, de juras de amor para uns, de gritos de independência para outros. Para além daqueles casais que vão jantar fora e está cada um no seu smartphone, sem dizerem uma palavra, há vários tipos de pessoa que encaram este dia de forma diferente.
O casal que começou a namorar há pouco tempo
O mundo é perfeito para estas pessoas. São capazes de jurar que a égua que viram a pastar na estrada nacional era um unicórnio que defecava arco-íris e espirrava purpurinas. Anseiam pelo seu primeiro dia de S. Valentim com a mesma excitação que uma criança de seis anos, filha de pais ricos, espera pela chegada do Pai Natal. Jantar romântico marcado com três meses de antecedência num restaurante de comida chique que é como quem diz de pequenas porções a preço inflaccionado. Vinho sem ser da casa, desta vez. Prendas caras: para ela jóias, flores e um ursinho de peluche; pare ele um relógio, uns ténis e uma camisa porque ela ainda tem esperança de mudar o estilo dele para que fique ao seu gosto. Cartões com corações e bonequinhos foram comprados, escritos e assinados com juras de amor eterno. No fundo, tudo o que ela quer é um amor de contos de fada para fazer inveja às amigas e tudo o que ele quer é que ela finalmente faça anal.
A encalhada
A que diz cinquenta vezes, neste dia e só durante a parte da manhã, que não liga ao dia dos namorados. Diz que está bem sozinha e que é independente. Diz que prefere gatos e que os cães são mais fiéis do que homens. Diz isto tudo para mascarar o facto de ver que está nos trinta e continua sem ninguém que lhe pegue. Sente os ovários a secar e o útero a encarquilhar. Cria um grupo no WhatsApp com o nome "As poderosas" para marcar um jantar com todas as amigas também encalhadas. É o mais próximo que estarão de celebrar a própria despedida de solteira. Enquanto jantam vão dizendo mal de todos os casais nas mesas à volta. Riem-se das demonstrações de afecto enquanto brindam para esquecer que não as têm. Quando ainda está sóbria, vai rejeitando os poucos homens que vêm meter conversa com ela na noite «Hoje é noite com as amigas.» diz, mas, mal começa a ficar inebriada, começa a dar tudo na pista de dança para atrair qualquer macho que, tal como qualquer leão, consegue detectar desespero a 100 km com o seu poderoso olfacto. A noite acaba numa de duas maneiras para estes espécimes: a curtir sem critério com um qualquer gajo na discoteca com mangas à cava, ou a comer um caldo verde e um pão com chouriço enquanto chora e vai fazendo swipes no Tinder a tudo o que aparece.
O encalhado
Ao contrário das mulheres, o homem encalhado vê o dia dos namorados como uma oportunidade. A sociedade foi mais branda com ele e nunca o pressionou a arranjar uma parceira o quanto antes. Sabe que ter trinta e ser solteiro, para um homem, pode ser um elogio aos olhos dos outros. Está a entrar nos anos de ouro dos solteiros em que o seu leque de opções é enorme e tanto há raparigas de 18 anos embriagadas e carentes que lhe podem querer saltar para cima, como há quarentonas divorciadas em busca de chicha nova. Sai com os outros amigos encalhados em busca de presas fáceis. Sempre que vêem um casal fazem piadas sobre o dinheiro que pouparam em prendas neste dia, «Mais fica para beber e ir às putas!», gritam quais mosqueteiros. Nesse grupo de encalhados, há os que são vividos e que conseguem parceiras com facilidade e que, realmente, estão contentes por serem solteiros. No entanto, há também aquele amigo que nunca namorou e ainda é virgem. Esse tenta entrar na onda e celebrar a independência, mas tudo o que ele queria era uma mulher que lhe fizesse um felácio e, acima de tudo, lhe fizesse o jantar como a mãe lhe faz. Os amigos prometeram que ia ser uma saída de homens, mas acabam todos de boca alapada a raparigas com bafo de álcool, enquanto ele joga Angry Birds no canto do bar.
O que tem duas namoradas
Este é aquele dia em que os gajos que têm duas namoradas, que não sabem da existência uma da outra, menos anseiam durante o ano inteiro. Preferem celebrar o funeral da própria mãe do que o Dia dos Namorados. É nesta altura que eles percebem que o que fazem não é certo e que deviam começar a ser honestos: ambas vão querer ir jantar e comemorar o seu amor e ele vai ter de arranjar uma desculpa. Perde mais tempo a planear este dia do que um interrail de dois meses. Tem de pensar em todas as variáveis. Fica doente? Muito arriscado já que elas podem decidir ir a casa dele fazer-lhe uma surpresa para cuidar dele. Vai em viagem de trabalho? E se elas querem ir despedir-se dele ao aeroporto? Para além de que vai ter de ir ao Google buscar fotografias amadoras de Londres para ir alimentando o Instagram. Um amigo terminou com a namorada e precisa de apoio? Demasiado clássica. Morreu-lhe a mãe? E se a mãe morrer mesmo... pensa. Todas as hipóteses lhe passam pela cabeça enquanto tenta prever todos os acontecimentos. Fica fechado em casa e tem mini ataques de pânico de cada vez que alguém toca à campainha. Mesmo com tudo isto, o que o faz pensar que é uma estupidez ter duas namoradas é o facto de ter de comprar duas prendas.
O forreta
O forreta é aquele tipo de pessoa que arranja um pretexto para terminar o namoro uma semana antes do dia dos namorados, só para não ter de gastar dinheiro em prendas. Este tipo é normalmente do sexo masculino e é no dia dos namorados que mete em marcha a estratégia de reaproximação. Envia uma mensagem por volta das 22h, quando já não há tempo para gastar dinheiro em jantar, a dizer «Sinto a tua falta.». A rapariga ou está em casa a chorar ou num jantar de amigas encalhadas de onde volta para ele a correr, deixando-as penduradas porque afinal aquela treta de estar bem solteira não era assim tão verdade.
O na corda bamba
Este é um tipo de casal que já anda para acabar há algum tempo. Discutem por tudo e por nada e só o respirar da outra pessoa os irrita. Fantasiam formas de cometer homicídio sem serem descobertos e pesquisam na Internet a melhor forma de ocultar cadáveres. No entanto, vão adiando o fim. Primeiro, porque parece mal acabar em vésperas de dia de São Valentim, segundo porque pode sempre calhar-lhes uma prenda jeitosa. Este casal usa o S. Valentim como aqueles casais à beira do divórcio usam a ovulação para tentar remendar o casamento. Não funciona. Vão acabar por discutir no restaurante porque ele sorriu para a empregada, ou porque ela recebeu uma mensagem que a fez rir e não quer dizer de quem foi porque ele tem de confiar nela, mas vai-se a ver e foi o Zé que se anda a fazer a ela lá no trabalho.
Os pindéricos
Este tipo de pessoa é aquele que aproveita a desculpa do dia dos namorados para soltar tudo o que de mais foleiro tem dentro de si. Este tipo de pessoa é facilmente identificável pelas publicações no Facebook, seja com textos lamechas, com frases feitas, ou com, valha-nos Deus, montagens com corações e letras de todas as cores. Normalmente, num casal pindérico, há um elemento que é o pindérico e o outro que é o muito pindérico. O primeiro é o que manda na relação, o que torna o segundo ainda mais pindérico em busca da aprovação e, muitas vezes, de se desculpar por ter feito alguma coisa de errado. Pensem que por detrás de cada post lamechas com declarações de amor, há um gajo, ou uma gaja, que fez merda da grossa e tem de ser rebaixar para ser perdoado/a. Festejam o dia dos namorados com um pequeno almoço de panquecas recortadas em coração, com molho de morango porque é cor-de-rosa, embora nenhum deles goste de morango. É só para a foto.
O casal que está junto há 10 anos
- Então amanhã vamos jantar?
- Porquê?
- É dia dos namorados.
- Deve estar uma confusão... vamos antes no sábado.
- Ok.
Ela fica a ver a novela e ele a escrever um texto no seu blogue.
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