1 de março de 2018

Como resolver a crise na Síria



Parece que na Síria está, novamente, em alvoroço. Como tinham deixado de aparecer vídeos no nosso feed de Facebook, pensámos que já estava tudo a dançar à volta de uma fogueira e a comer cupcakes, não foi? Parece que não e só na última semana, 500 mortos, entre os quais 120 crianças. Sinto que não há grande vontade da comunidade e das grandes potências internacionais para acabar com este conflito e que partilhar vídeos chocantes não é suficiente. Por isso, achei que faria sentido dar algumas dicas práticas na esperança que cheguem aos altos cargos da ONU e se resolva a crise de uma vez por todas.

Enviar gurus motivacionais
Depois de ver um vídeo em que uma criança chorava e se lamentava por estarem num abrigo subterrâneo, sem água nem comida, e sem poderem ir lá fora buscar uma almofada para dormir mais confortáveis, dado o risco elevado de levarem com uma bomba, pensei numa solução brilhante: enviar gurus motivacionais e especialistas em coaching para as ajudarem com as seguintes frases:
  • «Estão fora da vossa zona de conforto e isso é bom!»
  • «Pedras no vosso caminho? Apanhem todas porque nunca sabem quando é que vão ter de se defender de metralhadoras.»
  • «Vocês preocupam-se demasiado com o futuro sem usufruir do presente. Há coisas que não podemos controlar, especialmente as balas perdidas.»
  • «Vivam cada dia como se fosse o último porque um dia vão acertar e esse dia será, provavelmente, ainda hoje.»

Mudar a geografia da Terra
O grande problema da Síria é que está lá longe. Nem com o mundo cada vez mais aldeia global são tratados como vizinhos e toda a gente sabe que a o nível de indignação e de tragédia depende da proximidade e do pantone do tom de pele. Exemplo: rebenta uma bombinha chinesa no nosso prédio ou um maluco anda com uma faca na mão para cortar queijos na nossa rua e gritamos "terrorismo"; rebenta uma bomba que mata dezenas de crianças inocentes do outro lado do mundo e afinal parece que é um "conflito militar". É natural, porque quando é ao pé de casa, lembra-nos que podíamos ter sido nós, já quando é lá longe, um gajo nem pensa muito nisso. Por isso, proponho que o mundo volte a ser uma Pangeia, onde todos os continentes estão ligados por terra e mais aconchegados. É agarrar em meia dúzia de barcos rebocadores e trazer a Síria ali para junto os Estados Unidos que a coisa resolve-se, isto se não construírem um muro.

Enviar negociadores a sério
A ONU perdeu tempo a negociar um cessar fogo de 30 dias. O facto de se negociarem paragens na guerra, é sinal que a guerra não é assim tão importante. Nem num jogo online um gajo faz pausa, por mais que a nossa mãe nos chame para jantar! Por isso, só imagino que uma guerra destas seja menos importante do que uma ronda de Call of Duty, o que leva a crer que podia ser evitada e só existe devido a interesses externos. No entanto, já que o pessoal das bombas está aberto a negociar, sugiro que enviem os senhores que vendem flores e óculos escuros nas ruas. Ninguém negoceia melhor do que eles e convence as pessoas a comprar coisas que nunca querem, achando que fizeram um bom negócio quando eles ficam sempre ganhar. Facilmente, lhes vendiam armas que só iriam funcionar durante um dia, tal como aquelas bugigangas com luzinhas que lhes compramos quando estamos com os copos. Ainda lhes venderiam chapéus e tiaras de princesa e guerra perderia toda a credibilidade.

Holograma de Deus
Já escrevi, anteriormente, que a melhor forma de acabar com este tipo de conflitos que têm por base a religião era criar um holograma realista de Deus. Seja que Deus for, era recriá-lo digitalmente e projectar nas nuvens ou em cima de uma bananeira. Perdoem-me a incorrecção caso não haja bananeiras na Síria, mas o meu conhecimento sobre a flora local é diminuto. Deus apareceria a dizer que não aprovava aquela guerra e que quem quisesse ir para o céu tinha de agarrar na própria arma e estourar os miolos a si mesmo. Quem não o fizesse, ficava provado que estava na guerra por questões políticas e económicas e deixava de poder usar a carta de Deus para manipular o povo. Isso e talvez a população deixasse de acreditar que Deus está a olhar por elas, mesmo quando vêem os irmãos serem mortos à sua frente e isso ajudasse a que não se resignassem e ficassem à espera de uma ajuda que nunca virá, seja divina ou de países com interesses financeiros em manter uma guerra perpétua.

Matar toda a gente
Esta solução é um bocado radical, mas do ponto de vista prático talvez fosse a única 100% fiável. A morte só é chata se ficar cá alguém para chorar, caso contrário não faz mossa a ninguém. Por isso, o que tinha de se fazer era matar toda a gente daquela região, familiares e amigos incluídos, para que ninguém que ficasse órfão ou perdesse entes queridos ficasse vivo e a sofrer com a perda. Bastava ir ao Linkedin de todas as crianças sírias e matar todas as conexões até dois ou três graus acima na hierarquia. Assim, o conflito acabava rápido e o mundo sempre era mais honesto em admitir que, no fundo, se está a borrifar para as mortes de pessoas na Síria. Como bónus, ficava-se com um terreno livre para depois fazer campos de golf ou, juntando esta ideia à da Pangeia, trazia-se a Síria para perto da Linha de Sintra e aumentavam-se os subúrbios de Lisboa para quem não tem renda para pagar casa no centro. Em termos de paisagem, a Síria destruída não iria destoar muito do Cacém, Massamá ou da Buraca.

Ensiná-los a falar inglês perfeito
Acho que isto podia mudar muita coisa. Ver e ouvir crianças a sofrer em árabe nunca tem o mesmo impacto. Primeiro, porque é uma língua que se associa logo a terrorismo, depois porque um gajo nunca sabe se não foi o tradutor que se enganou e as crianças não estão ali só a queixar-se de não ter a nova casa da Barbie ou um fidget spinner novo. Garanto-vos que se os vídeos que andam a circular fossem com uma menina síria sem o hijab e a falar um inglês perfeito, a repercussão seria muito maior e toda a gente pensava «Opá, afinal eles são humanos como nós, se calhar é melhor ajudar.» 

Enviar a Super Nanny
Tendo em conta o passado recente, penso que a Super Nanny na Síria podia ajudar a que toda a gente se revoltasse, chocada com tamanha violação dos direitos básicos das crianças. Uma coisa é levar com bombas, ver os pais e os irmãos desfeitos no que parece um móvel do IKEA sem instruções de montagem, outra coisa é serem mandados para o banquinho das pausas e depois serem gozados na escola. Com uma Super Nanny, o mundo unir-se-ia para defender os interesses das crianças! Como consequência, a guerra terminaria num instante ou, pelo menos, deixaria de ser transmitida na televisão e já não nos estragava a hora de jantar porque não há nada pior no mundo que estar a comer magret de pato com redução de vinho do Porto e estar uma criança na TV a dizer que não tem nada para comer, fazendo-nos sentir mal. Pior do que isso só se o pato estiver demasiado bem passado.

São só ideias, lembrem-se que não há ideias estúpidas num brainstorming. Sintam-se à vontade de adicionar valor e novas ideias nos comentários.

PS: Quem ficar ofendido com este texto por não perceber ironia ou por ser burro no geral, em vez de perderem tempo a comentar, podem fazer algo mais útil e ajudar neste link.




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