29 de fevereiro de 2016

Modas parvas - PARTE 2 - Carrapitos, crossfit, sunsets, etc.



A pedido de muitas famílias, decidi fazer a segunda parte do texto sobre as modas mais irritantes. Sendo que na primeira parte fui ameaçado de porrada e ofendido por fazer piadas com sushi e gin, por exemplo, espero com este texto ter o mesmo sucesso e fazer muitos e novos inimigos. Vamos lá então ver quais são as novas dez modas mais parvas que andam por aí.

Carrapito
Uma moda que não parece querer desaparecer. Homens com carrapitos! Uma espécie de crista punk, mas murcha e flácida. Querem ser machos alfa e por isso fazem penteados para parecerem galos que usam elástico. Esta moda surgiu em Portugal com um concorrente da Casa dos Segredos e, depois disso, começou a disseminar-se tal como as doenças venéreas, também apanágio dessa mesma fauna. Mães, namoradas e amigos destes homens que acham que são os samurais da Margem Sul, peço-vos uma coisa: digam-lhes que ficam ridículos com aquela merda no cimo da cabeça! Façam de Dalilas e cortem-lhes o cabelo durante o sono. Não custa nada, é como se estivessem a cortar o cu de uma cebola. «Cada um usa o que gosta!», bem sei que sim, mas fica ridículo. A sério. Principalmente aqueles que ainda vão mais longe e rapam o cabelo de lado e dão uma de Tochas invertido. A diferença é que o Tochas pode porque é palhaço, vocês também parecem, mas no sentido negativo da palavra.

Crossfit
Agora, toda a gente faz crossfit. Ir ao ginásio passou de moda e o que está a dar é enfiarmo-nos num armazém a puxar cordas e trepar barras. Depois da epidemia dos health clubs, que sempre foram mais clubes da pausa para ir desfilar aquele novo equipamento comprado na Sport Zone, chega a pandemia do pessoal que se enfia num parque de estacionamento abandonado para abanar as carnes. Como se isto não bastasse, o pessoal do crossfit age como se estivesse metido numa seita. Tenta convencer toda a gente que o crossfit é melhor do que sexo, que o pessoal é muito porreiro e que temos de experimentar. Devo confessar que sou gajo para me inscrever no crossfit. É triste, mas nem eu estou imune às modas parvas. Não sei é se o meu telemóvel é bom o suficiente para fazer aquela parte do treino de crossfit obrigatória que é a de tirar selfies antes, durante e depois do treino. O número de selfies é, normalmente, inversamente proporcional à quantidade de suor.

Restrições alimentares
E de repente, depois de anos de evolução, o ser humano começou a ser alérgico a tudo. Ao glúten, à lactose. A tudo menos à parvoíce. Sim, há pessoas que são mesmo alérgicas, mas a maioria que entra nesta onda é só porque é moda e é cool ser diferente. É aquele pessoal que mais cedo ou mais tarde deixa de ser convidado para os jantares de aniversário porque perguntam sempre «Mas tem comida para mim?». Nesta altura, reviramos os olhos e dizemos que tem água da torneira e alface. Nisto, a outra pessoa responde com a pergunta «Mas a alface é biológica? E a água é filtrada?». Enfim, eram duas chapadas com um pepino no Entroncamento naquela cara que acabavam-se logo as alergias da moda. Era até lhes sair o fusili integral e glúten-free pelas cavidades.

Sunsets
Uma desculpa para as pessoas se embebedarem antes do jantar sem parecerem alcoólicos. Todo o terraço com vista se tornou num local para fazer sunset parties, porque se lhes chamassem Festas do Pôr do Sol, ninguém aparecia porque pensavam que era um programa de música pimba para a televisão. Aliás, estas sunset parties não são feitas em terraços: são feitas em rooftops. Não deve faltar muito tempo para começar a moda das festas em marquises. Já estou a ver o pessoal com cabelo à playmobil a dizer «O Bernardo quer vir comigo e com a Benedita à sunset white party numa marquise na Buraca? Vai ser o máximo, tem vista para a Cova da Moura. Não há nada mais chique do que beber um aquário de gin enquanto vemos os pobres de um lado para o outro.». Podem pensar que isto não passa de inveja pelo facto de eu ser informático e como qualquer informático não ter oportunidade de ver o pôr-do-sol. Ou o nascer. Ou o sol na sua generalidade.

Barba
Pois é, a moda que veio para ficar. Sim, eu tenho barba, mas já a usava antes de ser moda. Sou uma espécie de hipster que já usa as coisas antes de serem mainstream. Quando digo hipster, estou a dizer sem óculos de massa e camisas de flanela aos quadrados, atenção. Nem tenho iPhone nem computador da Apple por isso mesmo que quisesse ser hipster não teria dinheiro para tal. Não tenho nada contra barbas, só acho é que vieram interferir com a minha imagem de marca. Sempre usei barba porque nunca gostei de a desfazer. Era um sinal de "estou-me a cagar" para o estilo. Agora, com toda a gente que usa barba pensam que também faço parte da moda e lixam-me o estatuto de anti-sistema. Nem vou falar do pessoal que põe oleozinhos na barba, nem dos que vão aparar as pontas ao barbeiro vintage-hipster-chique porque de metrossexualidade machona percebo muito pouco.

Blogues de moda
Os blogues voltaram a ser moda. Toda a gente tem um blogue, especialmente o pessoal famoso que nem sabe escrever uma frase em condições. Até o Quaresma tem um blogue e, claramente, não é ele que o escreve porque quase não tem erros. Não estou a ser preconceituoso contra os ciganos, estou só a ser preconceituoso relativamente aos jogadores de futebol. Ainda assim, a pior moda de todas são os blogues de moda. Milhares de raparigas querem ser a Pipoca Mais Doce e fazer vida de mostrar os seus outfits. Sim, porque as bloguers de moda não têm roupa, têm indumentárias e outfits. Querem ter roupas à borla e ser stylists de profissão para ganharam bom dinheiro para comprar aquela mala Channel. É por causa dessa epidemia que já recebi emails de marcas de roupa a perguntar se queria escrever sobre eles em troca de roupa. Pensam que os bloggers se dedicam todos a futilidades e que se vendem a troco de meia dúzia de trapos. Como se esta moda não fosse má o suficiente, ainda temos o Cromos Ídolos Effect em que raparigas que claramente não nasceram para fazer parte do mundo da moda, insistem em partilhar as fotografias em poses sedutoras como se fossem lindas de morrer. É preciso sabermos as nossas limitações e muitas dessas meninas deviam perceber que só deviam fazer de moda se fosse na rádio. Blogger de moda feia e tronchuda é o mesmo que o Ricardo Salgado ter um blogue de economia ou o Homem Elefante ter um canal de YouTube com dicas de maquilhagem. Ou aquela mãe que matou as filhas em Caxias ter um blogue sobre o facto de mariposa ser o melhor estilo de natação.

Hashtags
Pessoas que partilham fotografias nas redes sociais com 959 hastags. Não existam, por favor. Não vêem que isso só vos faz parecer pessoas com carências e desequilíbrios emocionais? Toda a gente gosta de ter likes nos posts que faz, mas não se esforcem tanto que só vos fica mal. Exemplo:
Notificação: Kátia publicou uma fotografia nova.
Legenda: Me, myself and I na praia.
Fotografia: Dos pés e/ou do decote.
Hashtags: #eunapraia #euzinha #memyselfandi #praia #poderosas #happy #verão #sorriso #partilhem #fazmeumlike #esotubemsozinha #divando #canttouchthis #corpo #quemolharparaasmamaséporco #areianasvirilhas #raboassado #like4like #saidafrenteguedes #pes #fifa #meco #tunas #praxe #vida #100diasfelizesporqueosoutros255estounamerda #ginásio #crossfit #zumba #engulomasnaobeijo #romariadepila #jesusmelhorquephelps #bandidafogosa #fun #photo #arrebentabola #melanoma #cancro #ajudemascrianças #voluntariado #bancoalimentar #gin


Apps
Humanidade, não acham que já começa a ser um exagero? Escovas de dentes que se ligam ao smartphone para ver se lavámos bem os dentes? Sensores com uma aplicação que nos dizem que estamos a apanhar sol em demasia? Mas que palhaçada vem a ser esta? Só falta papel higiénico "smart" que nos diz quantas mais passagens precisamos para limpar aquele cocó que teima em ficar agarrado às paredes. No outro dia vi uma app onde se coloca o que temos no frigorífico e depois à medida que vamos consumindo, vamos reduzindo na app e ela diz-nos quando está a acabar algum alimento. O quê?!?! Mas que palhaçada vem a ser esta? E abrir o frigorífico para ver se faltam ovos? Os smartphones estão a fazer dos humanos cada vez menos smart, ou pelo menos mais preguiçosos.

Street Food e cenas artesanais
Já chega, Portugal. Já chega. Já todos percebemos que somos muito bons a fazer comida de fusão, a fazer cerveja com os pés, e a conduzir roulotes de cachorros gourmet. Agora que já todos sabemos isso, parem lá com isso, se faz favor. Não encham a nova edição do Shark Tank com ideias de criar novas hamburguerias, cachorrarias e croqueterias. Sim, existem croqueterias! Não digam que vão inovar a culinária portuguesa porque meteram uma cozinha badalhoca dentro de uma Ford Transit e vendem comida a um preço inflacionado porque lhe metem o rótulo de artesanal, gourmet e homemade. Entre street food e street fodas, já vi meninas à volta do IST que devem vender hambúrgueres com melhor aspecto e higiene do que algumas carrinhas de comida artesanal. 

Zumba
«Fazes desporto?», «Sim, faço zumba.». E pronto, ficou aquele ambiente estranho na conversa. Não tenho muito a dizer sobre zumba, até porque o que conheço é daquelas reportagens que vi na TV e que, invariavelmente, mostra senhoras de meia idade a abanar as peles quais orelhas de dumbo a sair pelos elásticos das calças. Senhoras do Zumba: não é boa publicidade. Quando vão aparecer na TV, metam as raparigas de rabos torneados na mira da câmara. Mas também, quem é que espera que vocês percebam de marketing quando têm uma dança que usa uma palavra do título de uma música da Tonicha.

Politicamente correcto
Para o fim, a moda mais parva de todas: a moda do politicamente correcto. Temos assistido nestes últimos tempos a uma vaga alarmante de pessoas que acham que todos devemos ser politicamente correctos. Pessoas que acham que a honestidade deve ser substituída por paninhos quentes para não ferirmos susceptibilidades. Vivemos tempos estranhos, em que as redes sociais são utilizadas pelos cruzados da moralidade e dos bons costumes e, tal como nas cruzadas, acham que quem não pensa como eles deveria falecer empalado por dois Angolanos, porque dizer "pretos" não é politicamente correcto. Normalmente, quem tem medo de usar estas palavras é quem na verdade discrimina. Quem trato todos por igual não precisa de eufemismos para apaziguar a sua consciência. Por isso, a todos os defensores da moralidade, voltem lá para as vossas Igrejas e não fodam o juízo a quem não é hipócrita.


E é isto. Façam o que vos apetecer, se quiserem entrar em modas parvas é convosco. Cá vou estar para vos achincalhar, porque escrever textos a dizer mal de tudo também é uma moda irritante e eu adoro paradoxos.




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