30 de março de 2016

Deve uma mulher fingir orgasmos? E um homem?



Devido a motivos ontem não houve consulta mas hoje cá estamos para compensar com mais uma rubrica "Doutor G explica como se faz". 


Caro Dr. G., namorei com uma rapariga à uns anos atrás, na altura eramos muito diferentes nos gostos e mentalidades (ela era mais nova do que eu uns 5 anos). No entanto tinha sentimentos por ela que nunca tivera por outra miúda. O certo é que ela acabou comigo e em forma de retaliação não descansei enquanto não afundei o barco nos mares da melhor amiga dela. Passou quase um ano sem falarmos, mas quando isso aconteceu, apercebi-me que ela ainda me fazia vibrar. Fomo-nos falando mais vezes, saímos e acabei por dar novas sensações ao colchão dela. O certo é que ela depois veio dizer que foi um erro e deveríamos nos afastar um do outro. Eu levei aquilo como uma vingança pelo que tinha feito anteriormente. Fiquei f%#/%, mas então surge uma outra amiga dela que sempre olhou para mim de uma forma um pouco diferente e acabei por dar um novo inquilino à sua gruta. Passaram-se dois anos e voltamo-nos a encontrar. Ela namora o irmão de um amigo meu, e mais uma vez houve uma reaproximação, e ela até acabou com o namorado e tudo. Mas eu estou desconfiado. Não sei deixo as coisas rolar, pois o mais certo é de ter ir atrás de uma nova amiga dela ou se corto o mal pela raiz. O que fazer, pois ela sempre me fez sentir diferente das outras mulheres com quem estive...
Anónimo, 23, Lisboa

Doutor G: Caro Anónimo, vai para aí uma novela digna de horário nobre da TVI. A resposta ao teu caso é muito simples: essa relação nunca vai dar certo. Ponto. Achas que vais ser feliz nessa relação e que vão recordar as histórias passadas durante um jantar à luz das velas «Lembras-te daquela vez em que foste para a cama com duas amigas minhas? Fogo, foi há quê? 10 anos? O tempo passa a correr.». Não vai acontecer e, se tu gostasses realmente dela não terias sentido a necessidade de te vingares dessa forma. Isso faz quem tem sentimento de posse e não amor. Uma adenda final: ela não foi para a cama contigo para depois se afastar por vingança. Normalmente, as vinganças não são agradáveis. Não estou a ver uma mulher congeminar um plano ao género «Bem, agora é que me vou vingar! Vou deixá-lo comer-me toda por trás, fazer-lhe um épico felácio, e depois dizer-lhe que afinal isto foi só sexo sem compromisso! Ele até se vai passar! Vai ser a melhor vingança de sempre!». O que aconteceu foi que o sexo foi fraco, ou ela tinha outro nessa altura. Provavelmente o teu melhor amigo.

PS: *há uns anos atrás. Não dar erros destes vai ajudar-te a arranjar uma mulher mais interessante.


Ai Dr. G. passa-se o seguinte: eu sou uma coninhas. Pronto. Já disse. Sou uma verdadeira coninhas. O problema reside aqui: sou uma coninhas com uma libido do caraças. Do tipo que parece tímida, é tímida, mas só pensa em levar com ele na maior javardice 90% do tempo. Recentemente, a minha conisse faz-me ter um problema com nada mais nada menos que: anal. Eu quero. Acredite. Eu quero. Muito. Mas cada vez que o meu namorado se vira para a porta dos fundos, um dedinho, dois dedinhos, e acabo por começar a pensar demais naquilo e não consigo levar a coisa avante. Lá está, a veia de coninhas a dar o ar da sua graça. Mas quero. E não tenho medo que doa. Nada disso. A dor não me assiste e se assistir, morde-se qualquer coisa até passar. O que me aflige são as minhas entranhas, Sr. doutor. E se, com aquela sensação de preenchimento pelo túnel acima,  as ditas me traem e o moço acaba coberto em badalhoquice? Ai que morria de vergonha.  
S., 26, Braga

Doutor G: Cara S., já reparaste que a letra "S" tem a mesma pronunciação que "Ass"? Acho bastante pertinente tendo em conta a tua dúvida. Sexo anal é uma espécie de investimento de risco em bancos portugueses: pode correr bem, ou podes ficar com os activos tóxicos. Não é comum acontecer, mas é sempre um risco a considerar o facto da perninha de peru dele poder sair de dentro de ti panada a fezes. Formas de evitar que isso aconteça:

  • Aproveitar os dias em que já defecaste duas vezes e era daquele cocó em que passamos o papel e vem limpo que parece que demos à luz uma lontra ninja bebé que não deixou pistas;
  • Após a penetração, não andar a tirar o cão da pradaria da toca e voltar a pôr;
  • Não fazer na posição em que a mulher fica de cócoras.
Quanto terminarem, antes dele tirar o churro do túnel de chocolate, morde um limão verde que é para te contraíres toda, ajudando assim o esfíncter na tarefa da limpeza. No fim, não limpes o rabo de trás para a frente, porque para além das infecções ninguém quer ter de responder à pergunta «Mãe, de onde vêm os bebés?» com a frase «De Paris, numa cegonha, meu filho. Menos tu. Tu viste do rabo.».


Boas, comecemos com uma analepse. Aos 15 decidi aproveitar a vida e fazer de tudo o que me desse na real gana, comecei a sair, a fumar e outras coisas começadas por F com com um número de pessoas incontável (umas vezes à vez, outras à molhada e não me lembro muito bem de nomes). Fiz de tudo, realizei todas as minhas fantasias e fetishes – desde fisting a cordas – e, entretanto, decidi fazer uma pausa. Sinto alguma necessidade de assentar, de controlar o meu lado animalesco e de me tornar um gajo mais racional. Estando eu a entrar na casa dos 20, começo a pensar na vida e o quão bom seria ter alguém a meu lado. E é aqui que começa o meu drama. Primeiro, tenho medo de estar demasiado carente e de me pegar ao primeiro que me aparecer à frente, depois tenho medo de me cruzar com alguém que tenha a filosofia de vida que eu tinha no passado – o que me faz ser desconfiado – por último, receio ter uma recaída da minha fome de pila. Ainda por cima não há por aí muitos gajos com quem me identifique, inteligentes, cultos e de preferência mulatos. Será que há por aí gajos decentes? Mais grave, as pessoas mudam mesmo e posso confiar em mim próprio ou mais tarde ou mais cedo, o que fui, volta ao de cima?
Twink, 19, Lisboa 

Doutor G: Caro Twink, quando vi o teu nome pensei «Que nome mais gay.» e, vai-se a ver, confere. Acho que fizeste muito bem em aproveitar a vida e andares na javardeira como gente grande e só espero que tenhas usado preservativo. Devo confessar que mesmo com toda a minha abertura, me custa perceber o prazer que advém do fisting anal, seja ele gay ou hetero. Acho que as pessoas alinham nisso porque tem nome estrangeiro e querem ser viajadas. «Olha, queres ir a um brunch no Domingo e depois faço-te um fisting? Vai ser top!» é muito mais apelativo do que dizer «Olha, queres ir tomar o pequeno-almoço ao meio dia e depois enfio-te uma mão inteira no cu? Até lambes os dedos!». Era nojento. Tenham juízo, depois queixam-se que quando chegarem a velhos têm soltura intestinal e que vão ao WC e voltam de lá a dizer «Era para ir fazer xixi, mas afinal fiz cocó sem querer.». Quanto à tua dúvida: sim, há gajos decentes por aí; sim, há mulatos inteligentes e cultos e duvidares disso é um bocado racista; sim, vai apetecer-te voltares à vida de um gordo no rodízio, em que está sempre a pedir ao empregado se pode trazer mais salsicha fresca. Moral da história:

  1. Calma! Tens 19 anos, não tens 43;
  2. Às vezes a pessoa que procuras pode estar mesmo ao teu lado mas sendo que às vezes tens muita gente ao lado e atrás ao mesmo tempo, é estar mais atento;
  3. Não metas mãos inteiras no cu. Depois pareces um coveiro sempre com terra debaixo das unhas só que afinal é pior porque é fezes.

Caro Doutor G, existe esta pessoa do sexo masculino que conheço há cerca de 3 anos, somos da mesma faculdade, temos o mesmo grupo de amigos e sempre nos demos extremamente bem! Sempre o encarei apenas como amigo, nunca senti nenhuma atração, apenas um grande carinho e amizade. Contudo há uns tempos atrás passámos um dia juntos, abraçados, a falar e do nada.. BAM! De um momento para o outro foi como se tivesse uma rave dentro do crânio e as hormonas fossem cocktails para os meus neurónios que, pobres coitados já pareciam epilépticos, tremelicavam-se todos! Sendo uma pessoa apologista da frontalidade contei ao respectivo o que se passava ao que ele me responde que não se sente preparado, que acompanhou a minha ex relação (acabámos há +/- 6 meses) de perto e que não é correcto e que embora queira estar comigo e eu tenha tudo o que ele procura no sexo oposto, há algo que o deixa reticente e pouco à vontade. O moço é, como o caro Doutor costuma dizer, um verdadeiro xoninhas, contudo, de vez em quando, mostra um certo interesse, mas sempre com medo que eu lhe arranque um pedacinho! A verdade é que estou a começar a gostar do querido, mas não sei o que pensar. Qual o seu diagnóstico Doutor?
Helena, 22, Coimbra

Doutor G: Cara Helena, não me digas que os mitos que se ouvem sobre homens na friendzone que deram o ombro para uma amiga chorar por outro gajo, a ver se pingava alguma coisa, e que depois conseguiram sair dessa zona cinzenta são realmente verdade? Para mim, isto é uma descoberta maior do que ver o Big Foot sem estar desfocado! Havia casos documentados, mas só aqueles em que o gajo ficou rico! Não sei o que está a fazer com que ele esteja reticente, mas avanço algumas hipóteses:

  • O teu ex é amigo dele e decidiste omitir-me esse detalhe;
  • Contaste-lhe demasiados detalhes porcos da tua relação passada, com foco no tamanho assustador do trombinhas do teu ex e do quanto prazer ele te dava, o que está a fazer com que o xoninhas não se sinta à altura e esteja a dar uma de careta;
  • Ele sabe que tu ainda tens sentimentos pelo teu ex e tem medo que o uses apenas para rebound sex.
Se por acaso a última opção for a correcta, sugiro que te afastes do teu amigo porque um homem que recusa ser o objecto de rebound sex é caso para chamar a polícia.


Caro Dr. G,sou aluno do 4 ano de engenharia informática da UNL (mar da testosterona). Sempre me dediquei aos estudos e orgulho-me de nunca ter chumbado a nenhuma cadeira. Porém este sucesso académico é o oposto do meu sucesso amoroso, nunca tendo conseguido ter algum tipo de relacionamento. Já tentei conhecer raparigas nas discotecas mas não gosto do ambiente e no meu dia-a-dia não convivo com raparigas. O que é que o doutor sugere?  
Anónimo, 22, Lisboa

Doutor G: Caro Anónimo, podes estar orgulhoso de nunca ter chumbado a nenhuma cadeira, mas o teu trombinhas está bastante desgostoso com esse caminho que escolheste para a tua vida. Mas tu achas que algum homem gosta do ambiente de uma discoteca? Achas que os homens iriam a discotecas não havendo lá pipi seminu? Existem discotecas dessas: as discotecas gay. Há que fazer sacrifícios! Leva uns livros de programação avançada e senta-te num canto da discoteca a estudar. Vai ser só mulherio à tua volta! Até vão ter de chamar as empregadas para colocarem aquelas placas a dizer «Cuidado, chão escorregadio», tal vai ser a baba de caracol que elas vão espalhar ao verem a tua sensualidade nerd. Claro que depois vão aparecer uns senhores vestidos de branco para te levar, mas com sorte consegues safar uma psiquiatra. Bem, não sendo as discotecas uma opção ficam algumas sugestões:
  • Tinder
  • Mercearia, na zona dos tomates cherry
  • Elefante Branco
Deixa-te ir e vive a vida. Faz por conhecer novas pessoas e uma rapariga que te queira vai aparecer. Ou não. Talvez não, mas preocupares-te com isso não vai fazer com que apareça.


Caríssimo Doutor G, namoro há 3 anos com um rapaz incrível, admiro-o muito e temos montes de coisas em comum, no entanto quando praticamos o coito eu tenho sempre de pôr as mãozinhas no pipi para estimular o clitóris caso contrário não atinjo o orgasmo, eu já tentei várias vezes não o fazer porque ele disse-me que isso o deixava desconfortável e sentia-se mal por não me consegui presentear com o dito cujo, eu entendo isso porque ele pode pensar que não me deixa excitada, o que não é verdade. O que faço? Cometo o crime de fingir o orgasmo? 
Anónima, 18, Porto 

Doutor G: Cara Anónima, mas que tipo de homem não gosta de ver a namorada a tocar no pipi? Raio dos homens inseguros! Primeiro, é perfeitamente normal uma mulher apenas conseguir atingir o clímax através da estimulação na campainha de satã. Pelo menos é o que dizem os estudos, provavelmente feitos por homens que não sabem fazer a coisa bem feita. Simular o orgasmo não é solução, pois só te vais prejudicar a ti e ele não irá fazer por melhorar. Opções? Ele que te estimule o narizinho da tartaruga. Olha que merda de namorado, hein? Não quer que tu te toques porque lhe afecta o ego e não vai lá ele tocar um solo dedilhado enquanto te preenche a boca do corpo com o oboé? Há 3 anos nisso? Enfim, a juventude está perdida. Acho que devias simular um grande orgasmo só com penetração, um orgasmo mesmo à Meryl Streep, com um acting digno de um óscar e no fim, quando ele estivesse com aquele sorrisinho idiota na cara de quem conseguiu finalmente subir ao cume do Evereste, dizias «Quase que parecia real, não era? Não foi. Agora vou ao WC satisfazer-me com a escova elétrica que é aconselhada pelos melhores dentistas e ginecologistas.». Sendo esta opção demasiado bruta, tenho outra: compra um vibrador tamanho XXL e diz-lhe «Ou é deixares-te de merdas e deixares-me brincar com o pipi para aumentar o prazer de ambos, ou vou começar a usar este caralhão metálico e chamar-lhe Wilson.»


Está feito. Até para a semana e continuem a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com e tentem não ser aquelas velhas que contam os detalhes todos que não interessam para nada.


Partilhem e façam muito amor à bruta, que de guerras o mundo já está cheio.

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27 de março de 2016

As provas que Jesus Cristo não morreu (nem ressuscitou)



Sempre me pareceu que a história de Jesus ter morrido e ressuscitado três dias depois era ficção. Aqui ficam as provas do que realmente aconteceu naquele fim-de-semana que ficou para sempre marcado na nossa história.


Bem sei que esta história pode ter algumas incoerências mas, no fundo, tem as mesmas bases científicas do que as que vêm na Bíblia. Uma boa Páscoa a todos e, já agora, podem partilhar porque isto deu mais trabalho do que fazer uma crucificação com pregos tortos e um martelo do São João.
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25 de março de 2016

Ana Malhoa - Je Suis Tropical Urbano



Naquilo que já se tornou uma rubrica de culto neste espaço vou mais uma vez fazer a review do novo vídeo da Ana Malhoa. Desta vez nem era para fazer isto porque me parece que o vídeo não tem o mesmo potencial humorístico, mas dadas as dezenas de mensagens que recebi ontem à noite a pedir, cedi à pressão e aqui está. Este vídeo está pior e, no caso da Ana Malhoa, pior significa que não está tão repleto de detalhes sublimes de mau gosto. Tem muitos, atenção! Tem classe duvidosa! Muita! Mas não está tão escorregadio. Quem ainda não teve a oportunidade de ver aqui fica e, em seguida, irei analisar o vídeo com o detalhe e profissionalismo ao qual vos tenho habituado.


Desde logo fico desiludido com a maior parte da música ser cantada em castelhano, ou melhor, barraquelhano que isto é mais música das barracas do que de castelos. Percebo que a Ana queira apostar na internacionalização até porque será certamente mais valorizada lá fora em países mais evoluídos como a Nicarágua e a Guatemala. Cá, as pessoas não percebem este tipo de arte e tendem a ridicularizar o tropical urbano como se de simples pimba se tratasse. Enfim, somos um povo culturalmente ainda muito atrás das maiores potências tropicais. É o que dá haver poucos subsídios para a cultura neste país.

O vídeo começa e vemos Ana na estação do Oriente, vestida com aquelas películas que se usa para manter as vítimas de atentados terroristas quentes para não entrarem em choque. A meu ver faz todo o sentido porque entre bombas que explodem em estações de metro e Ana Malhoa a cantar na estação dos comboios, venha o diabo e escolha.


Je Suis Tropical Urbano! #PrayForOrienteStation

Aos 10 segundos fiquei logo mais descansado por ver que este vídeo é uma película do Jorge Jedi que todos sabemos que é garantia de qualidade duvidosa. O cenário é poético, com a estação vazia, algo que foi fácil garantir porque fugiu tudo para não aparecer no vídeo. Toda a gente prefere ver um vídeo íntimo publicado na internet do que aparecer num vídeo assinado pelo Jorge Jedi. Aos 20 segundos a Miss Malhoa começa a descer as escadas com a graciosidade de uma morsa bêbeda. Há quem diga que é dos sapatos de stripper que não dão bom andar, mas eu acho que é devido às calças estarem tão apertadas e ela ter ficado com as pernas dormentes. Aquele andar é muito parecido com o meu quando me levanto da sanita depois de ter estado agarrado ao telemóvel meia hora e ter ficado com as pernas com formigueiro. No plano seguinte, vemos a Ana num elevador mostrando que é uma mulher inteligente e aprendeu a lição e não voltou a usar a escadas vestida e calçada daquela forma como quem vai para o casamento do Toy. Quando ela sai do elevador vemos lá em baixo várias bancas com livros, uma espécie de feira que está ali diariamente na estação do Oriente, e esta foi a primeira vez que alguns fãs da Ana Malhoa viram livros.

Começamos então a ver o marido da Ana Malhoa deitado e só de cueca e corrente ao pescoço que, para quem não sabe, é o pijama do bairro social. As avós de Chelas oferecem trusses e uma corrente para os netos dormirem pausados. O marido da nossa musa é igual ao Tom Hardy! E embora não seja a minha especialidade calculo que isto seja um elogio. Ali está ele, todo sensualão com o seu piercing no mamilo para abrir a imperial e fazer macramé com aquele que a Ana tem no lábio a fingir de melanoma. Vemos que o esposo dela tem frases tatuadas no bícepe esquerdo e só espero que não seja parte de uma letra de uma música da Ana Malhoa. Isso é que seria amor verdadeiro! Tatuar o nome da namorada ou mulher já é corajoso/estúpido que chegue, agora tatuar «Não, eu nunca apoiaria a guerra. A guerra não é vencedora. Sou uma máquina sim, la makina de fiesta! Sigue reggaeton!» é uma prova de amor que ninguém consegue superar.

Por falar em letra, ainda nem falei da poesia presente nesta canção. Quando começa a parte em português podemos ouvir «Eu já não sei como sucedeu…». Sucedeu? Tenho duas hipóteses para a escolha deste verbo:
  • Quiseram dar uma de cultos e foram ao Google pesquisar “Sinónimos de aconteceu”;
  • A letra é plagiada de um tema espanhol. Porquê? Reparem:
Sou muita ninja! Qual Jorge Jedi, qual carapuça! Guilherme Ninja é que é!

O vídeo continua e ao minuto e quinze vemos a nossa Van Dama no duche a exibir um bração de fazer inveja a muito homem! E pronto, a música entra em ciclo infinito a repetir a letra enquanto alterna entre imagens da Ana seminua no banho e na cama. Na cama ainda percebo, também gosto que a minha namorada esteja na cama de lingerie sexy e saltos altos, agora no banho não faz sentido ir-se vestido. Gente vestida no banho só se forem os bêbedos para ver se acalmam e aproveita-se para limpar o vomitado da roupa. 

O mais grave disto tudo não são os mamilos estrábicos que espreitam pela camisola de alças, nem a cueca lucky star dos ciganos. O mais grave disto tudo é o aquecimento global ser cada vez mais uma ameaça e esta menina estar a dançar no banho como se isto fosse tudo dela. É gente que não teve educação em casa! Na minha, quando eu demorava mais de cinco minutos no duche os meus pais desligavam o gás e se eu quisesse continuar a masturbar-me tinha de ter atenção para o bicho não recolher com a água fria. Agora imaginem os meus pais gritarem que eu estava a demorar-me no banho e eu responder «Só mais 10 minutos porque estou aqui a dançar tropical urbano que nem uma bomba latina!». Punham-me fora de casa e com muita razão porque há muita gente que não tem água potável para beber.

Voltando à letra, há uns versos que não consigo mesmo perceber o que ela diz! Vejam lá se me ajudam:

Eu gosto de ti,
Tu gostas de mim
I belong to you,
You belong to me

Ar de mais crescido
Vou ficar bem louca
Vou ficar ?????

Não consigo decifrar, mas juro que parece «Vou ficar com sífilis.» Espero genuinamente que a Ana não fique com sífilis até porque o sífilis não afeta as cordas vocais.

E pronto, não se chegam a ver os mamilos, mas quase, e percebe-se que a Ana Malhoa tem um corpo de fazer inveja a muito pessoal que vai comer donuts ao bar do ginásio e depois queixa-se que o treino não está a dar resultado porque o metabolismo deles é muito lento e têm problemas hormonais. Não há muito mais a dizer sobre este vídeo a não ser que, goste-se ou não, a Ana Malhoa é melhor no marketing do que a maioria dos artistas portugueses. Não acho que seja pior do que muita da música estrangeira de discoteca que chega cá e que as pessoas papam como se fossem torradas com manteiga. (in)felizmente para a Ana Malhoa, o azeite português é o melhor do mundo e por isso, percebemos logo que é o ingrediente principal da receita.

Despeço-me com a frase de assinatura destas reviews: Acho, sinceramente que ela é uma excelente artista dentro do género. O género é que é uma merda.
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23 de março de 2016

5 formas de acabar com o terrorismo



Numa altura em que surgem especialistas em terrorismo que nem cogumelos em todos os canais de televisão e redes sociais vou, também, dar a minha visão sobre os atentados em Bruxelas e sobre o terrorismo no geral. Isto são tudo ideias fora da caixa por isso é normal que ao princípio pareçam estranhas e não exequíveis, mas temos de manter um espírito aberto, pois como dizia William de Ockham, frade franciscano, filósofo e teólogo: de entre várias hipóteses concorrentes a solução escolhida deve ser aquela sobre a qual temos menos suposições.

Usar novas tecnologias
Já há algum tempo que advogo a técnica do holograma para terminar com o extremismo religioso, seja ele de que fé for. Com a tecnologia que dispomos enquanto espécie humana é de estranhar que isto ainda não tenha sido tentado. Imaginem um holograma de Alá, com 10 metros de altura, a surgir sobre o monte Hira. Ficava ali, impávido e sereno durante uns dias até atrair a atenção de todos os media e de todos os povos do mundo. Nisto, de repente e sem dar aviso, começava a discursar, tanto para os fiéis como infiéis. Posso até adiantar já um guião que poderia ser utilizado:
«Meus filhos! Andais parvos? Meter bombas atadas ao lombo e rebentarem-se? Mas que merda vem a ser esta? Dizeis que é porque vem nas escrituras sagradas e que ser mártires vos abrirá as portas do paraíso com direito a uma vida eterna de regalias e 42 virgens bem boas! Mentira. Tudo mentira! Essas escrituras foram produzidas por homens só vos querem manipular e usar o meu nome em vão! Primeiro, não há stock de virgens que aguente tanto mártir. Segundo, quem matar pessoas, sejam elas de que fé forem, não vai para o céu. Vai para um T0 no Barreiro onde terá de dividir casa com a Alexandra Solnado que para além de não ser virgem é maluca dos cornos e vai-vos obrigar a ouvir os relatos das conversas que ela tem com Jesus. A sério. Juro por mim! Não se matem. Não se rebentem. Vivam em paz e harmonia com toda a gente! Nunca matem em meu nome porque isso é o mesmo que levar no rabo em nome da Madre Teresa. Não faz sentido. Já agora, podem comer porco. Bacon é do caraças!»
Isto bem feito ia demover muito boa gente de se juntar a grupos terroristas. Ia criar revolta nos vegans, mas tambem não podemos agradar a todos.

Ignorar
A segunda solução passa por ignorar o terrorismo. «Como é que se pode ignorar algo tão bárbaro?» perguntam alguns. Bem sei que pode parecer difícil, mas reparem: nós como espécie estamos mais do que habituados a ignorar as barbáries à nossa volta. Passamos por sem-abrigos enquanto comemos um Big Mac; não pensamos que enquanto estamos no rodízio brasileiro morre uma criança de fome, em África, a cada 30 segundos; entre tantas outras calamidades que para bem da nossa sanidade (e conforto), tendemos a não fazer notícia. O principal objetivo dos terroristas é, como está inerente no seu nome, espalhar o terror, e o terror só se espalha se lhe dermos importância. Bem sei que é difícil, mas imaginem um mundo em que após um atentado terrorista não havia nem uma única notícia de jornal, nenhum share de Facebook, nenhum tweet, nada. Ninguém falava disso. Ninguém. Nós nem chegávamos a saber que tinha acontecido. Agora imaginem que são terroristas, que estão meses a planear um atentado e que depois de rebentar uma bomba que mata centenas, ou despenhar um avião numas torre que mata milhares, depois desse planeamento de meses, com aquele friozinho na barriga e ansiedade que um gordo sente quando chega a Páscoa, imaginem não haver nenhuma notícia sobre o vosso feito maquiavélico! Estão bem a ver a desilusão dos terroristas! Ali, a percorrer o mural do Facebook, a fazer zapping, e a fazer refresh na página do Correio da Manhã, e nada! Nem uma menção! Ainda tentavam lançar eles a notícia, mas o pessoal pensava que eram sites com vírus e da teoria da conspiração e ninguém dava importância. Isto funcionava, juro. Ao início podia piorar as coisas, tal como quando ignoramos as namoradas que estão de trombas e nós sabemos que estão chateadas mas resolvemos agir como se tudo estivesse bem. Elas começam a fazer por mostrar cada vez mais que estão chateadas, mas se ignorarmos o tempo suficiente, a neura acaba por passar-lhes e volta tudo ao normal.

Fatura com NIF
Outra ideia que podia ajudar ao fim do terrorismo era obrigar todos os fabricantes de armas a passar fatura com NIF sempre que vendessem armas. Sim, porque não conheço grupos terroristas que saibam fazer armas e os fabricantes bélicos são umas prostitutas que dão o que têm a quem mostrar a nota. «Sim, senhor. Quer 1000 kalashnikovs? Faturinha, amigo? Ah, esqueça, agora tenho mesmo de passar, diga-me lá o NIF.» Assim, o fluxo de venda de armas ficava bem traçado e toda a gente sabia onde elas andavam e quem é que tinha vendido o quê a quem. Hoje também sabemos, mas preferimos fechar os olhos. Já sei que estão a pensar que os terroristas não iam dar o NIF certo mas eu também pensei nisso e tenho uma solução: a Fatura da Sorte Terrorista! Todas as semanas era sorteado um tanque blindado! Está feito, os terroristas não são diferentes dos portugueses, assim que lhes cheirar a coisas de borla começam logo a cumprir o seu dever cívico.

Mudar a nomenclatura
As palavras têm um poder incrível e, por vezes, basta mudarmos a nomenclatura das coisas para dar, ou retirar, glamour. Tal como se deixou de chamar secretária para chamar técnica administrativa, proponho deixarmos de utilizar o termo «terrorista» e substitui-lo pela expressão «Ursinho Carinhoso». É que ser terrorista é de homem! Mete respeito e orgulha qualquer família! Já, ser ursinho carinhoso é um bocado ridículo. Para terminar este novo acordo ortográfico, a palavra «bomba» devia substituir-se por «corações», a palavra cadáveres por «miminhos», e Estado Islâmico passa para «Teletubbies.» Agora, imaginem uma capa do CM a letras cor-de-rosa a dizer «Dois ursinhos carinhosos explodiram-se no aeroporto de Bruxelas! Traziam corações amarrados à cintura e deixaram um rasto de miminhos por onde passaram! Os Teletubbies já reivindicaram o acontecimento!» Acham mesmo que alguém se queria sujeitar a este ridículo? Claro que não, ainda por cima toda a gente sabe que os ursinhos carinhosos são maricas e que os maricas não entram no céu, seja o céu da religião que for. Se há coisa em que as religiões do mundo estão de acordo é que maricas são para arder no inferno!

Usar outras armas
Se com isto tudo o terrorismo não começar a perder terreno e tivermos mesmo que recorrer à guerra, acho que temos de mudar de tática já que é impossível derrotar um inimigo que não tem medo da morte com bombas e as balas. Estas não servem para nada e só geram mais violência, mortes de inocentes e dão dinheiro a quem lucra com o negócio bilionário da guerra que interessa a tanta gente. O que sugiro? Catapultas que lançam bochecha de porco em vinha de alho! Carne de porco e bebidas alcoólicas numa só arma letal! Só para aumentar ainda mais a guerra psicológica, pirateavam-se todos os computadores e ecrãs das cidades ocupadas pelos Teletubbies onde se colocava uma mulher seminua a dar a meteorologia: «Hoje, durante a manhã o clima esteve agradável, mas a partir deste momento esperam-se fortes chuvadas! Vai chover bochecha de porco da tasca do Sr. Manel!» E, nisto, começa a chover bochecha duma maneira que vocês nem imaginam! Bochecha daquela que até faz salivar os leitões filhos do porco a quem pertenciam as bochechas! Vai gerar-se o pânico, com os ursinhos carinhosos a esconderem-se onde podem a tentar resistir à tentação de provar uma bochechinha de suíno. Se o tempero e o tempo de cozedura estiverem no ponto, mais cedo ou mais tarde, o aroma vai começar a fazer as primeiras vítimas. Aos poucos, começam a provar a bochecha, a senti-la desfazer-se na boca enquanto os sucos vão calcorreando todas as papilas gustativas. O resultado é o fim do terrorismo! Como? Os mais extremistas vão suicidar-se na hora com o sentimento de culpa, enquanto os restantes vão perceber que a religião levada ao extremo só os está a privar dos melhores prazeres da vida e que se calhar não faz assim tanto sentido.

Embora não se tenha notado, não sou mesmo especialista em terrorismo nem política internacional, por isso não garanto que isto resolva o problema. O meu bom-senso diz-me é que a resposta não é histeria colectiva, xenofobia, e votar em Frentes Nacionais e Trumps. Esse caminho já foi feito e ficou um rasto de miminhos até aos dias de hoje.
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22 de março de 2016

Namorados ciumentos e compatibilidade sexual



Vamos lá despachar isto que eu não tenho a vossa vida. Vamos a mais uma consulta "Doutor G explica como se faz". 


Caro Dr G, não tenho propriamente a idade das duvidas, pois por aqui jà se festejaram as 40 primaveras. Sou casada pela segunda vez, hà cerca de 5 anos e em termos sexuais as coisas nao funcionam. Sei que ele ve pornografia quase diariamente, no entanto, a vontade de ter sexo comigo é quase nula. Por mim faria sexo praticamente todos os dias, pois tal acto faz-me sentir muito mais descontraida e bem disposta. Diz-me constantemente que me ama mas que o sexo já nao é importante. Que essa fase jà passou. Existe amor sem desejo sexual? Pessoas incompativeis sexualmente terão futuro juntas?    
Anónima, 40, Aveiro

Doutor G: Cara Anónima, só existe amor sem desejo se for de pai para filha, e, mesmo assim, temos o caso do Woody Allen e do Trump. Também existe amor sem desejo quando se tem noventa anos e se olha para o corpo da outra pessoa e se sente um certo nojinho ao pensar em fazer amor com um shar-pei. Posto isto, se o teu marido vê pornografia é porque tem desejo sexual porque todos sabemos que ninguém vê porno para apreciar os cenários e o enredo, mas sim para tocar um solo de oboé e dedilhar a campainha de satã. Ele já não tem é desejo por ti e são várias as opções:
  • Ele tem uma amante que lhe anda a deixar a sacola dos girinos mais seca do que o rabo de uma velha com psoríase;
  • Ele já não gosta assim tanto de ti;
  • Acomodaste-te e desleixaste-te mais do que a Bernardina.
Seja como for, pessoas incompatíveis sexualmente só ficam juntas para sempre se alguma delas se resignar e suprimir os seus desejos. É como aqueles gajos que para engatar uma vegana dizem que também já estavam a pensar em deixar de comer carne e peixe: casam e só há soja e tofu lá em casa mas toda a gente sabe que, mais cedo ou mais tarde, eles vão comer um bife do lombo num jantar de aniversário de um amigo.


Caro Doutor G, há cerca de um mês fui sair à noite e um amigo meu apresentou o nosso grupo a um grupo de amigas. Falei com duas delas (rapariga A e B) e uma chegou a dar-me o número (rapariga A). Passadas duas semanas, os dois grupos saíram juntos outra vez, mas a rapariga A não pareceu tão interessada como no início. Numa última investida convidei-a para um café uns dias depois, ao que ela recusou. Sem ressentimentos, percebi que com ela nada haveria. Agora, passadas duas semanas desde o convite, pensei em falar com a outra rapariga (B). O problema aqui é que elas são amigas e as raparigas falam umas com as outras. A minha pergunta é a seguinte: Será que vou passar má imagem à rapariga B por falar com ela depois de há uns tempos ter falado com a amiga? Ou não há problema, já que a A recusou? Espero mais uns tempos para não parecer tão mal? Ou esqueço estas duas amigas?  
Anónimo, 22, Lisboa

Doutor G: Caro Anónimo, elas são mulheres e tu és homem, logo elas já partem do princípio que tu és um porco que quer comer tudo o que não rasteja e tem pipi. É aproveitar essa fama que os homens têm para investires com força já que na pior das hipóteses ficas como estás. Aqui fica um fluxograma para ilustrar o que pode acontecer:
Tem em atenção que o mais provável é mesmo não engatares nenhuma, mas não custa tentar.


Caro Doutor G, eu e o meu marido mudámos de casa recentemente e como somos casados fazemos sexo várias vezes, porque não é pecado. Acontece que sempre que fazemos sexo, os nossos vizinhos fazem logo de seguida também. Eu não sei se é coincidência, ou se somos nós que despertamos a vontade deles, eu acho que nem somos assim tão barulhentos. Isto acontece sempre que fazemos no quarto e à noite, se fizermos noutras divisões da casa e noutro horário não temos esse problema. Já ponderei em mudar de casa outra vez, mas o contrato é de um ano e ainda falta até acabar. Não fazer sexo à noite e na cama limita-nos muito a vida, só íamos conseguir fazer aos fins de semana e nenhum de nós se contenta só com isso. Há duas semanas, o meu marido esteve fora em trabalho. Escusado será dizer que nessa semana não ouvi os vizinhos a praticarem o coito. Cruzei-me com o meu vizinho no elevador no final dessa semana que o meu marido esteve fora e ele perguntou-me pelo meu marido e se estava tudo bem connosco com um sorriso maroto. O que é que eu faço, Doutor? Por um lado está-se a tornar uma rotina muito constrangedora, por outro também não queria ser responsável pela infelicidade sexual dos meus vizinhos.
Catarina, 26, Porto

Doutor G: Cara Catarina, mas há problema em eles fazerem depois? Façam com a alma e se eles vos seguirem o rasto metam uns tampões nos ouvidos e vão dormir. Simples. Nos dias em que não fizerem, sejam vizinhos prestáveis e metam um filme porno, em alto e bom som, só para ver se é qualquer tipo de gemidos que os excita ou se são só os vossos. Se lhes querem tirar a vontade, sugiro fazerem sexo e irem gritando algumas destas frases:
  • «A passarinha da vizinha não é melhor do que a minha!»
  • «Quem quer mal ao vizinho, o seu vem-se pelo caminho!»
  • «A cabra da minha vizinha dá mais leite do que a minha!»
  • «Por acaso não tem um raminho de salsa que me dispense? Só me lembrei agora e já estou a bater os ovos!»
  • «Dia 27 há reunião de condomínio e eu ouvi dizer que vocês estão a dever 500€ desde aquela vez da infiltração!»
Se isto não resultar, da próxima vez que te cruzares com o vizinho no elevador só tens de perguntar «Então ontem de manhã é que foi pinar a bem pinar, hein? Nunca tinha ouvido a sua mulher a ganir daquela forma! Parecia uma porca a pisar pioneses!». Tens é de acertar numa altura em que ele não estava em casa que é para haver discussão e eles separarem-se e vocês voltarem a ter descanso. Génio. Sou um génio.


Caro Doutor G, vim para a faculdade este ano e conheci um rapaz . Fomos cultivando a nossa amizade até que rolou algo mais. Primeiro um beijinho e depois, quando tivemos oportunidade dormimos juntos, mas ele adormeceu enquanto eu lhe acariciava o dito cujo... Fomos de férias depois disso e ele arranjou uma namorada. Gostava de conseguir estar com ele outra vez para compensar o que aconteceu, mas assim não sei o que fazer .  
Anónima, 19, Lisboa

Doutor G: Cara Anónima, mas para que é que queres compensar seja o que for com um gajo que adormece enquanto lhe estás a escamar a enguia trapalhona? É para teres a certeza que a culpa não foi da tua falta de jeito e mostrares a ti mesma que consegues manter um homem acordado por via da massagem caralhítica? Deixa-te disso, a culpa não foi tua e se ele agora tem namorada para quê meteres-te em filmes? Só há dois tipos de carícias no pénis para os homens: as que estão a doer e as que estão saber bem. Qualquer uma delas impede que adormeçamos, por isso, se ele começou a roncar foi porque estava bêbedo ou tem narcolepsia. Ou tem um narso tão grande que para para o erigir tem uma síncope devido à falta de sangue no cérebro. É efectuar a fornicação a fazer o pino e está resolvido. Seja como for, lembra-te do ditado de um grande sábio que dizia «Se o dono da serpente adormecer, a culpa não é da encantadora que estava a bater.»


Estimado Dr. G, namorei 2 anos com um rapaz e ele pediu-me em casamento. Eu aceitei. A relação tinha tudo para dar certo até que ele me começou a ver como uma propriedade e ficou cada vez mais possessivo. Provavelmente os sinais já estavam lá, mas eu confundi-os com ciúme. As agressões psicológicas começaram a ser uma constante. Ir ao café com as amigas era motivo de discussão, demorar 10 minutos a responder a uma SMS também. Começou a ir ter comigo ao meu local de trabalho e a obrigar-me a sair da empresa só para ele ver que eu tinha mesmo ido trabalhar. Se eu não cedesse ele fazia um escândalo à porta da empresa. Tive 2 conversas sérias com ele até que decidi que à terceira era de vez. Terminei tudo ao fim de algumas semanas. Entretanto já se passou 1 ano e ele continua a perseguir-me e a dizer que não consegue viver sem mim. Já apresentei várias queixas na polícia mas acaba sempre tudo arquivado. Como fazer com que ele me deixe em paz sem ter que pedir ajuda aos amigos do Dr. G que vivem na Buraca? 
Carolina, 28, Coimbra 

Doutor G: Cara Carolina, o caso que relatas é bastante sério já que só no ano passado morreram mais de 50 mulheres às mãos dos companheiros ou ex-companheiros. Primeiro que tudo tens de arranjar um namorado da Cova da Moura, se for preto ainda melhor. Ninguém se vai meter com a namorada de um preto da Cova da Moura. Como vejo que és de Coimbra e talvez não te dê muito jeito vir à Amadora, sugiro que te especializes em Photoshop para começares a colocar fotografias no Facebook e Instagram sempre acompanhada de um negão musculado. À partida, isso fará com que ele se acalme. Outra hipótese é contratares uma prostituta de luxo, daquelas mesmo de luxo em que o preço até parece que compensa, e dizeres para ela se fazer ao teu ex. Se ela fizer bem o trabalho, ele vai deixar de pensar em ti. Se ainda assim ele não te largar, embora tenhas perdido umas centenas de euros, tens um grande ego boost já que ele mesmo com uma gaja capa de revista a fazer-se a ele não te consegue esquecer. De resto, se a polícia não faz nada, não há muito a fazer a não ser esperar que ele se suicide e não te queira levar com ele. É andar atenta e se a coisa começar a escalar, é falar com pessoas que se prontifiquem a acertar o passo a homens covardes. Sim, na Buraca há quem faça esses serviços, mas irias ter de pagar o transporte e isto é meninos que só viajam em alfa, 1ª classe.


Olá Dr. eu e a minha parceira conhecemo-nos em Outubro pelo tinder. Conversa puxa conversa, skype e afins e acabámos por nos encontrar num hotel em Lisboa para consumar o acto como manda a Lei. Foi incrível, como se tivéssemos sido concebidos para aquele momento. Ela vive no Reino Unido e eu na Madeira, pelo que nos voltámos a encontrar numa ida dela à Ilha para mais umas cambalhotas malucas à moda do Rocco Siffredi. Estou no Uk mas temos um problema: rapidinhas não é connosco e temos uma vida sexual bastante preenchida um com o outro. É que sempre que passamos por casa antes de algum compromisso, acabamos por nos atrasar como o diabo porque em vez de uma rapidinha é uma autêntica maratona sexual. Não me interpretes mal, claro que consigo me vir mais rápido mas não há motivo para querer fazê-lo. Alguma dica?
Anónimo, 24, Madeira

Doutor G: Caro Anónimo, assim é que é: primeiro encontro num hotel! Toca a impulsionar a economia! É por estas que Portugal não avança, o pessoal vai gastar dinheiro para o UK. Vais desculpar-me, mas a tua dúvida é estúpida. Porquê? Porque queres dicas para não chegar atrasado a compromissos, mas depois dizes que te consegues vir mais rápido só que não há motivo para isso. Percebes a contradição da tua questão e que me leva a ficar arreliado por me que estares aqui a fazer perder tempo quando há tanta gente a precisar de ajuda neste consultório? Isto a juntar ao facto de admitires à boca cheia que não és um gajo pontual. Se há pessoas que me irritam são as que não conseguem chegar a horas a lado nenhum. «Antes uma rapidinha ou orgasmo para amanhã adiado, do que deixar pessoas à espera no local combinado.» - provérbio chinês do século X, em que X é uma variável de 1 a 21.


Caro DR. G, tenho 20 anos e ainda não iniciei a minha vida sexual. Acho que tudo se deve ao facto de ainda não ter encontrado a pessoa certa... Mas nunca pensei muito nisso. Sou uma pessoa sem tabus, com a mente aberta, e até trabalho numa Sex Shop. Só ultimamente é que tenho pensado mais sobre isso. Ao ponto de pensar em ir para a cama com o primeiro que me aparecer. Achas que faço mal?  
Anónima, 20, Porto 

Doutor G: Cara Anónima, a discriminação da nossa sociedade ainda se faz sentir em dúvidas como a tua, que têm sido recorrentes ao longo de vários consultórios e sempre vindas de mulheres. Nunca nenhum homem enviou uma mensagem a perguntar se achava bem que ele perdesse a virgindade com a primeira que aparecesse. As mulheres ainda são "ensinadas" a que a virgindade é uma coisa sagrada e que deve ser apenas perdida com alguém que se ame verdadeiramente. Faz com quem quiseres mas só se tiveres mesmo a certeza que é isso que queres e, para me estares a enviar mensagem, é porque não estás assim tão certa. Mas, já agora, não faças com o primeiro que te aparecer porque dado que trabalhas numa sex-shop, será um destes tipos:
  • Um gajo que tem namorada/mulher e foi comprar um brinquedo para apimentar a vida sexual;
  • Um gajo solteiro que foi comprar um pipi de plástico.
E, digo eu que não sou gaja, que não queres perder a virgindade com um gajo comprometido e muito menos com um que compra pipi enlatado porque não tem quem lhe pegue.


Está feito. Aproveitem bem a Páscoa para se redimirem dos vossos pecados e, nem é preciso dizer-vos, que a melhor posição para a absolvição é de joelhos. Até para a semana e podem continuar a enviar as vossas dúvidas para porfalarnoutracoisa@gmail.com. 


Partilhem e façam muito amor à bruta, que de guerras o mundo já está cheio.

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18 de março de 2016

17 sinais de que já estás nos trintas



Hoje faço 32 anos. Sei que ninguém me dá mais de 31, mas é mesmo verdade. Somar um à idade não é algo agradável quando já se passou os trinta. É lembrarmo-nos que o melhor terço da vida já passou, e estou a ser optimista porque não cuido de mim o suficiente para chegar aos 90. Para além dos cabelos que caem se transformarem em gramas de gordura na barriga, são vários os sinais que nos fazem lembrar que já somos trintões ou trintonas:

  1. É perceber que se fossemos futebolistas já estaríamos em final de carreira, mas assim ainda temos de trabalhar mais uns trinta anos.

  2. É ter a famosa ressaca que dura dois dias. Aliás, é começarmos a sofrer por antecipação enquanto estamos numa noite de sábado a beber e a pensar que se calhar é melhor parar porque temos de trabalhar na segunda e mesmo que durmamos domingo inteiro é capaz de não chegar para desaparecer a moinha da cabeça.

  3. É levar uma bolsa de medicamentos para várias maleitas sempre que se vai de férias. Transformamos a nossa bolsa da higiene pessoal num estojo de primeiros socorros com um termómetro, medicamentos para as dores de cabeça, dores de garganta, constipação, diarreia, prisão de ventre, e para a azia. Estar nos trinta é beber muita água com gás e tomar remédios para azia. 

  4. É só apanhar moedas do chão se forem mais de vinte cêntimos. As outras não compensam o esforço.

  5. É ter dores no corpo só porque sim: «Olha, hoje dói-me um pulso, está giro. Não me lembro de ter dado nenhum jeito.»; «Olha, hoje doem-me as costas e aqui um músculo que nem sabia que existia!» e depois lembramo-nos que é no mesmo sítio em que daquela vez no recreio da escola primária demos com a bacia num lance escadas. Aos 30, as lesões antigas começam a querer reatar laços para serem nossas amigas até que a morte nos separe.

  6. É ver o mural do Facebook cheio de bebés dos nossos amigos e ex-colegas da escola, a maioria feios mas com comentários a dizer «Que lindo! É a cara do pai!». A segunda parte às vezes é verdade. Como andei nas escolas da Buraca e da Damaia, o meu caso é menos grave porque a maioria dos meus ex-colegas está na prisão.

  7. É pesquisar esses ex-colegas e perceber que a maioria, claramente, já desistiu da vida. Sobe-nos sempre o ego, especialmente quando vemos que os outrora populares são os que estão piores e mais acabados que um aborto feito num vão de escada em Alfornelos.

  8. É irmos a discotecas como o Jamaica e o Plateau só para nos sentirmos novos porque no Urban e no Main parecemos os pais que foram buscar os filhos à escola e parece mal mamar da boca em pessoas que ainda há pouco tempo tinham dentes de leite.

  9. É ter quarentonas e cinquentonas a olhar para nós, já não como os filhos que gostariam de ter, mas como o rapaz que limpa a piscina e já agora dá um jeitinho no resto das zonas molhadas lá de casa.

  10. É olharmos para raparigas de 18 anos e acharmos que sim senhor e depois sentirmo-nos velhos rebarbados, mas saber que quando tivermos 60 vai ser igual.

  11. É sentir uma facada no peito quando alguém de vinte e poucos anos nos trata por você ou, valha-nos Deus, «senhor».

  12. É começar a achar que a juventude está perdida. Que não há respeito pelos mais velhos e que não sabem o que custa a vida porque agora é tudo com apps e tecnologia. É achar que quem diz SWAG e YOLO e ouve Justin Bieber e D.A.M.A. devia levar com uma Bimby na moleirinha. Sim, porque ter trinta é começar a achar que se calhar uma Bimby até vale aquele dinheiro todo só porque faz sopas muito boas. Sim, ter trinta é, também, começar a comer sopa, especialmente no inverno que é para aquecer.

  13. É ter de responder àquela pergunta «Então e filhos?» em todas as festas de família e olharem para nós como se fossemos belzebu em pessoa quando dizemos que se calhar não vamos ter filhos, mas estamos a pensar em adoptar um cão. As tias velhas até se benzem.

  14. É ser convidado para uma festa de aniversário, chegar lá e estar a família toda do aniversariante com filhos e primos incluídos. Há aquela impacto de «Oh que caral... então agora não posso enfrascar-me!», mas depois até nos sentimos bem quando vamos para casa sem estarmos bêbedos por saber que vamos acordar sem ressaca de dois dias.

  15. É começar a pensar que certas coisas até têm algum apelo como por exemplo: cruzeiros, planos poupança e reforma, jogging, e levantar cedo ao sábado para aproveitar o dia. Ao domingo também, mas é para limpar a casa.

  16. É o digestivo de eleição deixar de ser uma cerveja ou um shot de absinto e passar a ser chá de cidreira.

  17. É ter jantares com amigos em que os temas de conversa são doenças, taxas de juro e móveis do IKEA. Vai-se alternando esses temas com histórias passadas que incluem sempre estas frases:
    - Isso já foi há dez anos! - diz um.
    - Dez? Foi há 15! - diz outro.
    - Txiii, pois foi… estamos velhos.
    - Pois estamos.

Como prenda de aniversário à minha pessoa, agora vocês partilham este texto. Ah, e se por acaso me virem amanhã na noite, embriagado, por favor digam-me «Tem cuidado, olha a ressaca! Já tens 32!» que eu às vezes esqueço-me.
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16 de março de 2016

Crónica de uma noite no Algarve



Durante muitos anos passei férias em Lagos. Lagos no Algarve, não na capital da Nigéria porque isso era só parvo e, sendo eu da Buraca, quando vou de férias gosto de mudar de ares. Há quase 10 anos, quanto lá passava duas semanas de férias, certa noite, conheci uma das personagens mais caricatas com quem já tive o prazer de partilhar o tempo: o Wilson. O Wilson, que não é o nome real dele, estava a distribuir flyers de um bar naquela praga típica que se apodera das ruas algarvias durante Agosto: promessas de ofertas de shots da casa que depois vamos a provar e é só sumo; promessas de que o bar tem mais gajas que um concerto do Tony Carreira, embora mais novas e com os dentes todos, e depois chegamos lá e afinal só lá estão mais 20 gajos que olham ao redor enquanto percebem que também foram enganados. Resta beber o shot de sumo e uma cerveja só para não dar ar de pelintra, e ir embora. Foi durante este triste ritual que o Wilson nos abordou, a mim e um amigo, Tiago, na rua, por volta das 23h:

- De onde é que vocês são? – pergunta ele de sorriso rasgado.
- Damaia e Buraca. – respondemos.
- Damaia e Buraca! Primos!!! - grita ele enquanto nos abraça - É como se fossemos família, ya!?
- Ya… - respondemos em uníssono.
- Olha, é assim, tenho aqui estes flyers para aquele bar. Venham comigo que eu trato bem dos meus primos.

O Wilson era preto, tinha 33 anos, embora não aparentasse mais de vinte e poucos. Usava boné e tinha um dente da frente partido a meio. Tinha olhos grandes que ficavam ainda maiores quando ele os esbugalhava em concordância com algo que havia sido dito «Ya... Podes crer, primo!» ao mesmo tempo que a voz dele ficava aguda quando se entusiasmava com algo, sempre acompanhada daquele sotaque Angolano que lhe melodiava a voz.

Fomos com ele até porque era mesmo o bar para onde nos estávamos a dirigir antes de ele nos convidar. Chegamos, pedimos um jarro de Kamikaze que é uma mistura de sumo com vodka e que vamos bebendo em copos de shot. Normalmente é mais sumo do que outra coisa, mas como já lá ia há alguns anos, e agora com alguém da casa, acabou por ser um jarro que tinha uma garrafa de vodka inteira, sem gelo porque isso é para meninos, e um fundinho de sumo de limão que é para matar o escorbuto.

Começámos a beber e percebemos logo que se bebêssemos aquilo tudo sozinhos ia dar disparate.

- Wilson, isto está muita forte. Anda aqui beber connosco.
- Não posso, primos. Tenho de ir entregar flyers ainda para depois ter dinheiro para ir sair.
- Se beberes disto connosco já ficas aviado e não precisas de gastar tanto dinheiro depois.
- Ya… podes crer, primo! Então vou só buscar o dinheiro dos flyers que já entreguei.

Lá voltou, com três imperiais na mão:

- Fiz 35€, porra! Tomem aí cerveja para tirar o sabor do vodka. Um gajo tem é de ser profissional a beber e saber os truques.

Bebemos e fomos conversando, não me lembro bem sobre o quê, mas sei que passou por hip-hop, racismo e mulheres, ou damas, mais propriamente. Como se já fosse um amigo de longa data, não fossemos nós primos, calcorreámos mais bares, bebemos, conversámos com várias pessoas, sempre divertidos e enquanto partilhávamos peripécias passadas. E foi nesta partilha, já com visão turva e riso embargado, que me foi oferecido um pedaço de história contada que guardarei no meu coração para todo o sempre. A escrita não fará jus às expressões que ele ia fazendo com os olhos arregalados e os agudos da voz que eram transformados em sussurros nos momentos de suspense, mas garanto-vos que a história era esta, tal e qual: 

«Primos, hoje até estava a pensar que não ia sair porque estava mesmo cansado. A noite de ontem foi uma loucura. Vou-vos contar mas não é para sair daqui… Estava ali num bar e comecei a meter-me com três americanas. Estive lá, na conversa, e depois elas convidaram-me para ir lá para casa. Eu fui, né? Claro. Cheguei a casa, fui no quarto duma delas, mas ela já estava a dizer que queria dormir que estava lá muito cansada e quê, mas para eu dormir lá que de manhã ela me “recompensava”. Não pode ser, primos. Ela deitou-se de lado e eu meti o jarbas de fora e comecei a dar assim de leve no cu dela, tás a ver? Perdeu logo o sono. Fodi ela. Fodi. Fodi até ela adormecer. Levantei-me para ir embora, fui à sala e vi lá a outra a dormir no sofá… dei-lhe uns beijos para ela acordar, ela acordou e… meti o jarbas de fora. Fodi ela. Fodi até ela adormecer. Nisto vou para vir embora e vem a outra a dizer «Ah fodeste as minhas duas amigas e não fodes-me a mim?» … Meti o jarbas de fora outra vez e fodi ela também. Fodi até ela ficar a dormir no quarto. Quando vou a sair, vi uma mala perto da porta e abri só naquela para ver. Tinha lá 200€! Tirei e vim embora.»

Quando ele acaba a história rimo-nos até às lágrimas! Posso estar enganado mas a minha intuição diz-me que aquela história era 100% real, tal foram os detalhes e a convicção com que ele a foi contando. No fundo estávamo-nos a rir também de um furto, mas 200€ para quem tinha feito um serviço a três estrangeiras era pouco se comparado com que os taxistas costumam roubar.

Disse-lhe para ir ao médico e ver se o jarbas dele tinha soníferos, já que ficaram as três a dormir. «Yaaaaa…. Podes crer priiiimo!» foi a resposta dele.

Dos bares fomos para uma discoteca, a única do centro de Lagos que todos os anos muda de nome a ver se se livra da má fama que a persegue, qual herpes crónico e incurável, tal como aquele que lá é passado de boca em boca e não só. «Qual má fama, Guilherme?», perguntam vocês muito pertinentemente: a fama de ser o último reduto dos bêbedos porque é o único sítio aberto depois das quatro da manhã e que tem como característica o chão mais pegajoso do que as salas de cinema aquando da estreia das 50 Sombras de Gray. Não estamos é a falar do mesmo tipo de fluidos, estamos a falar de uma consistência gelatinosa e aderente conferida por álcool despejado dos copos e regurgitado dos estômagos. Há porrada, invariavelmente, todas as noites e esta não foi exceção. Estamos lá, tranquilos, de cerveja na mão a pensar como é que caímos no erro de voltar a entrar naquele antro, a observar a fauna local que se resume a: 90% de homens, ingleses bêbedos, vermelhos do álcool e do princípio de melanoma que levam do Algarve; 10% de mulheres, inglesas bêbedas que gostavam de ter sido strippers mas não tiveram dinheiro para acabar os estudos. Nisto, surge confusão e há um copo lançado pelo ar, bala perdida, do qual o Tiago se desvia a fazer lembrar uma espécie de Neo da Damaia. O copo bate com estrondo na parede e somos atingidos pelos estilhaços, mas sem haver ferimentos. Vemos os seguranças a levar o Wilson em braços, e achámos que era a nossa deixa para ir embora já que ali já não se aprendia nada. Ao sairmos, vemos o Wilson num canto a rir-se:

- Viram, primos?! Mandei glass nele! - diz entusiasmado.
- Quase que me acertavas! – responde o Tiago.
- Desculpa aí, primo. O gajo meteu-se com a dama que eu estava a dar dica e armou-se em parvo a chamar os amigos. Foi logo glass nele.

Fomos comer qualquer coisa às roulottes e batizámos o cachorrão de jarbas e, talvez por isso, comemos um hambúrguer. Despedimo-nos sem saber se nos voltaríamos a ver mas com a certeza que tinha sido uma noite para recordar e contar aos netos.

Voltámos a encontrá-lo duas outras vezes nessas férias: no dia seguinte em que mal nos viu veio aos gritos na nossa direção «Priiiiimoooos!!! Fogo ontem a ontem é que foi! Porra, foi mesmo engraçado! Vamos sair hoje outra vez?». Fomos; e uma última vez, no último dia de férias, no terminar de uma confusão entre mim, o Tiago, e quatro gajos nos queriam bater só porque ele pediu lume a uma rapariga que era namorada de um deles. Homens machos, não é? Foi quando já estava tudo calmo que apareceu o Wilson:

- Primos! Como é que é?
- Nem sabes o que se passou, acabaram de sair daqui quatro gajos que queriam andar à porrada connosco.
- Onde é que eles estão? – diz ele enquanto saca algo do bolso – Vamos lá que eu dou-lhes com o meu chicote!

Não, não era o jarbas! 

Era um pequeno chicote com uma esfera de metal na ponta que pelos vistos andava sempre com ele no bolso. Agradecemos a disponibilidade para abrir crânios em nossa defesa, mas dissemos que não valia a pena.

No ano seguinte voltei a Lagos, também com o Tiago, e encontrámos novamente o Wilson. Mal o vimos fomos logo cumprimentá-lo e, apesar de se lembrar de nós, mostrou-se pouco ou nada entusiasmado. Estava estranho e percebemos logo isso. Disse-nos:

- Hoje não sou boa companhia, é melhor vocês irem embora.
- Então? O que é que se passou?
- É assim, vieram cá uns amigos meus aí de Portimão e quiseram dar na heroína e sabem como é que é, primos.
- Como é que é?
- Não podia dar de careta, né? Então tive de dar nela e agora não estou boa companhia.

Só me lembrei de sábias palavras de um drogado da Damaia «É a vida c'um sócio escolheu.». Ficámos com ele na mesma a tentar animá-lo e a recordar-lhe a história do jarbas. Ele riu-se e nós também, outra vez até às lágrimas. Ficámos a conversar um bocado e ele foi desabafando connosco. Tinha estado preso uns tempos, não nos disse porquê, embora fosse óbvio que teria sido tráfico ou assalto. Podia também ter sido por mandar alguém para o hospital com ferimentos do seu chicote, ou do jarbas. Falou-nos da vida na prisão com arrependimento no olhar, afirmando que preferia morrer do que voltar para lá e que foram os piores meses da vida dele. Falou-nos da vida complicada que teve em pequeno e não havia nada que pudéssemos fazer por ele a não ser dizer «Pois, é complicado. É preciso é levantar a cabeça e seguir em frente.» e todos esses clichés que o pessoal que não tem noção que faz parte do grupo dos privilegiados costuma dizer. Passado uma hora, na qual ele foi alternando entre o alegre e o depressivo e quase agressivo, despedimo-nos dele antes que houvesse males maiores. Antes de nos irmos embora, arregalou-nos os olhos que brilhavam, tanto a anunciar lágrimas que não queriam sair como as drogas duras que tinha no sangue:

- Queria agradecer-vos primos.
- Então?
- Eu hoje não estava mesmo boa companhia e fizeram-me bem. Se não fossem vocês aqui a conversar comigo hoje não sei o que teria feito. A vossa companhia salvou-me.

Já voltei a Lagos muitas vezes e nunca mais o vi. Não sei qual foi a vida que o sócio Wilson escolheu, mas sei que a escolha dele já estava condicionada à partida e nunca pode ter sido livre e com as mesmas oportunidades que as minhas.
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