21 de dezembro de 2015

2015: os acontecimentos mais marcantes



Está a chegar ao fim mais um ano deste nosso belo calendário gregoriano. Curioso que se chame gregoriano e que haja muito boa gente que chame o senhor gregório enquanto ouve as doze badaladas. Façamos, então, a retrospectiva do que mais importante se passou em 2015.

O ano começou com um acontecimento que mudou o mundo, ou talvez não. O dia em que vimos mais um ataque em nome de Deus, ou Alá, que feriu a liberdade de expressão. Um acto de terrorismo que atacava o cerne da democracia e que fez com que todos fossem Charlie, por breves instantes. Mudaram-se imagens de perfil, fizeram-se cartoons, textos e o Gustavo Santos disse que foram eles que se meteram a jeito, esquecendo-se que os caricaturas do Charlie Hebdo foram feitas porque o extremismo religioso existe e não o contrário. Janeiro foi, também, o mês em que Cristiano Ronaldo ganhou mais uma bola de ouro. As lágrimas do ano passado deram lugar a um «SIIIIIIIIIIIII» eufórico, mas muitos media, em vez de se celebrarem mais um português a dar cartas no mundo, preferiram falar do facto da Irina não estar presente. Ainda em Janeiro, o Syriza ganhou as eleições na Grécia, dando alguma esperança à Europa de que a austeridade poderia ter os dias contados com este novo paladino do povo.

Em Fevereiro a ameaça terrorista aumentou, que é como quem diz que não se falava de outra coisa fazendo exactamente o que os terroristas querem: falar deles para espalhar o pânico e fazer com que as pessoas vivam as suas vidas com medo. O Daesh publicou vídeos com mortes e destruição de obras de arte, e, um pouco por toda a África e Médio Oriente, foram assassinadas pessoas em nome de um Deus que há muito os esqueceu, ou de quem nunca se lembrou. Apesar de todas estas mortes, Fevereiro teria ainda uma reservada para o fim, Leonard Nimoy, o eterno Spock, morreria aos 83 anos.

Em Março, um milagre da tecnologia e evolução humana quando uma sonda da NASA chegou pela primeira vez a um planeta anão. Ironicamente, por cá, caía o avião da Germanwings matando todos os 150 passageiros a bordo, só porque o piloto estava meio triste e, em vez de se suicidar à homem na linha de comboio, decidiu armar-se em coninhas e levar inocentes com ele. 

Em Abril, dá-se um terramoto que abala o Nepal, matando milhares de pessoas. Eu digo à minha namorada «O Cristiano Ronaldo vai doar 7 milhões para ajudar no Nepal!», ao que ela responde «Mas quem é o Nuno Paulo?». Portugal chora também a morte do realizador mais velho do mundo em actividade, Manoel de Oliveira. Mesmo quem nunca viu um filme dele ou sempre disse mal das suas obras, parece que de repente o idolatrava, já morto, mesmo os que pensam, até hoje, que Aniki Bóbó é um filme da Érica Fontes.

Em Maio, a Irlanda torna-se o primeiro país a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo através de um referendo à população. Sunday Bloody Sunday torna-se agora um hino ao sexo anal com hemorroidal agudo. Ao lado, dá-se o nascimento do bebé do ano, Carlota, a filha de Kate e William que tem muito mais destaque do que a morte de B.B. King nesse mesmo mês. No entanto, o que interessa é que o Benfica se sagrou campeão, por entre festejos que envergonhariam o mundo do futebol e as fardas da polícia. Maio foi também o mês em que Portugal se indignou pelo rapaz dos Ídolos com abanos de fazer inveja ao falecido Spock, numa onda de hipocrisia que seria uma constante em 2015.

Em Junho, volta o terror com um atentado terrorista na Tunísia que vitimaria uma portuguesa. No entanto, o acontecimento mais marcante e que mais lágrimas trouxe aos olhos dos portugueses, foi a inacreditável troca no mundo do futebol: Jorge Jesus era agora treinador do maior rival de Lisboa, o Sporting. Nem o ouro da benfiquista Telma Monteiro, no Europeu de Judo, conseguiu tirar da depressão os cerca de 14 milhões de portugueses. Sim, 14, porque até os mortos deram voltas no caixão. Era o mês em que o mundo louvava a coragem de Caitlyn Jenner, mesmo os que sempre chamaram aberração a José Castelo Branco. O mês terminaria com as fotografias de perfil do Facebook a serem alteradas novamente, mas em vez de Je Suis Charlie, ficariam virais os filtros com as bandeiras do arco-íris a assinalar a nova lei do casamento gay nos Estados Unidos da América.

Em Julho, no calor do Verão, Cuba e Estados Unidos reataram relações quais ex-namorados que, depois de ouvirem a música da Adele, resolveram ligar um ao outro a combinar um café. Syriza, o outrora paladino do povo, deu o rabo à Europa e tudo continuou na mesma. Tsipras continuaria no poder mas o carismático ministro das finanças, Varoufakis, iria fazer a sua vida para outro lado.

Começara a silly season em Agosto e não há grandes notícias que tenham ficado na memória. Foram encontrados os destroços do avião da Malaysia Airlines, desaparecido desde Março de 2014.


Houve atentados terroristas em vários países, mas as principais notícias foram aquelas em que se mostram as celebridades de biquíni na praia.

Setembro trouxe-nos de volta ao mundo real. Rebentou o escândalo Volkswagen, percebendo-se que andava há anos a fazer batota quanto à emissão de gases poluentes dos seus automóveis. Sócrates é libertado da prisão preventiva e ficámos a saber que, para além dos seus gostos requintados em Paris, também gosta de pizza com extra-queijo e pepperoni. Setembro foi também o mês em que a NASA anuncia ter encontrado água em Marte, enquanto a falta de água potável continua a ser uma das maiores causas de morte neste nosso belo pálido ponto azul à deriva no espaço. Quem também encontrou água, em demasia, foram os refugiados que deram à costa afogados, com uma fotografia de uma criança a correr o mundo e a servir como bandeira a todos os que só agora percebiam que o mundo é um local de merda para a maioria das pessoas. Depois da onda de solidariedade, veio a onda de xenofobia quando as pessoas perceberam que era preciso fazer mais do que colocar likes em fotos e partilhar crianças mortas no Facebook. Perceberam que era preciso abrir as portas dos seus países para acolher quem foge da morte e de repente, toda a gente estava muito preocupada com os nossos sem-abrigo.

Em Outubro, enquanto as folhas começavam a cair das árvores, caiu também um avião abatido pelo Daesh, que voava entre Egipto e a Rússia. Por cá, foram as belas eleições legislativas de onde a coligação PSD-CDS parecia sair vencedora, mostrando que há muitos portugueses que até gostaram dos últimos quatro anos.

Em Novembro, de forma mais precoce do que um adolescente a perder a virgindade, cai o Governo. António Costa é indigitado primeiro ministro com um Governo viabilizado por todos os partidos de de esquerda. Há quem diga que este volte-face é um hino à democracia, enquanto outros dizem ser a antítese disso mesmo. Para já, parece que estamos na mesma, mais uma vez. Paris volta a ser o palco de atentados terroristas e, de repente, todos queriam rezar por eles, sem perceberem que foi a religião que nos meteu nesta alhada. É também o mês onde é lançado o melhor livro do ano (quiçá, de sempre), Por Falar Noutra Coisa.

Chega o mês de Dezembro, onde nunca acontece nada a não ser notícias sobre o quão solidários são os seres humanos, tentando fazer-nos esquecer a quantidade de atrocidades às quais fomos espectadores impávidos, durante o todo o ano. Estreou o novo filme do Star Wars, mas ai de quem diga mal da saga! Com assuntos sérios não se brinca e, parecendo que não, já está a fazer um ano em que fomos todos Charlies durante uma semana.

Agora, venha o bacalhau, o vinho e os presentes. Venham as passas, o champanhe e o virar do ano. Que os desejos se cumpram e que as resoluções, das televisões e dos ecrãs dos smartphones, sejam cada vez mais realistas para nos fazerem esquecer que o mundo real é em 4D e que o tempo não volta atrás. Boas festas.




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