Com o crescimento da página e do blogue, começa a haver cada vez mais comentários de pessoas desiludidas com o meu nível humorístico. Temos pena. Não gosto de dar importância a esse tipo de comentários, mas gosto de os aproveitar porque acabam por ser sempre uma boa fonte de inspiração para textos como este. Nem estou a falar do pessoal que se ofende e se indigna com piadas ou opiniões sobre temas mais sensíveis, como por exemplo sushi e gin: estou a falar do pessoal que até gosta do que escrevo, segue regularmente, mas parece que tem o desejo secreto e o prazer mórbido de me ver a deixar de ter piada e, à primeira oportunidade, faz questão de o dizer nos comentários. Não me levem a mal, estão no vosso direito, mas se acham que estão a ser construtivos, enganam-se. Este texto pode parecer que me afectam, mas comentários como esses sempre os tive e, se os levasse a mal, tinha fechado a página ao fim de alguns meses. Tento sempre interagir nos comentários, mesmo quando me ofendem ou até ameaçam de porrada e de morte. Ainda está para chegar o dia que alguém venha até à Buraca para cumprir essas promessas. Mas, devo confessar, que fico um bocadinho desiludido quando leio comentários deste género:
«Estás cada vez com menos piada!»
Parecem aquelas namoradas que passada a magia inicial da novidade se começam a queixar de tudo o que o namorado sempre fez e a tentar mudá-lo. Ao contrário de muita gente, eu escrevo quase todos os dias e sobre os mais variados temas e escrevo para mim e não para agradar os outros. Vão sempre haver melhores e piores piadas. Vão existir muitas piadas ao lado porque sem as más que falham, não há as boas. E, as que falham para uns, são geniais para outros. Cada vez que comentam isto parece que esperam que eu seja o vosso bobo pessoal que tem de escrever para vocês, para vos fazer rir como se fosse a minha obrigação a partir do momento que meteram like na página. Lamento informar-vos mas não vos devo nada. Quando acharem que eu perdi a piada, é favor de irem embora. É tão simples quanto isso. Esta página e este blogue dificilmente vão durar para sempre, por isso, façam como essas namoradas quando percebem que vão ser deixadas: acabam vocês primeiro o relacionamento para se sentirem bem convosco próprios. Vale?
«Já vi isto em qualquer lado!»
Acontece. Principalmente em temas de atualidade é normal que haja pessoas a fazer parecido, é sinal de falta de originalidade minha e dessas pessoas. Até gosto que digam isto e que metam links onde viram parecido, desde que o façam num tom construtivo e de alerta e não por pensarem que ando a copiar piadas. Deve haver pouca gente por aí que produz tanto conteúdo como eu e pensar que ando a copiar é só parvo. Não tenho tempo para ver páginas e outros blogues porque estou ocupado a escrever, trabalhar e com o resto da minha vida. No dia em que me sentir tentado a copiar ou plagiar alguém, é o dia em que fecho a página e quem me conhece sabe perfeitamente disso. Lá por alguns humoristas profissionais fazerem da sua carreia o plágio constante, não quer dizer que os amadores como eu também o façam.
«Andas sem inspiração!»
Acontece. Temos pena. Dizerem isso não ajuda muito. Também não prejudica, é um facto, mas eu também não vou ao vosso trabalho dizer-vos como é que se passa o código de barras no leitor, ou como é que se põe sal nas batatas do McDonalds, pois não? Epá, agora se calhar fui muito bruto e insensível, peço desculpa. Não vos preciso de lembrar que estão desempregados. #bojardadodia.
«Onde é que está a graça da piada?»
Se calhar, quem comenta isto não percebeu a piada. Ou, só se calhar, não teve piada para esta pessoa mas os três mil likes e duzentas partilhas mostram que teve piada para outras pessoas. Eu já fiz piadas que não passaram os 500 like e que continuo a gostar delas e a usá-las quando faço stand up comedy. Não meço o sucesso de uma piada pelo número de likes, mas convenhamos que se tem milhares de likes é porque teve alguma piada para muita gente. «O Hitler também tinha muitos seguidores!» é o contra-argumento das pessoas que, caso eu a minha página não tivesse tantos seguidores, diriam «É por isto que não passas dos 1000 seguidores!». Os trolls têm sempre argumento para tudo o que só mostra o quanto se esforçam para terem atenção.
«Cheguei ao meu limite. Antes tinhas piada mas agora vou deixar de seguir a página!»
É legítimo. Quem deixa de gostar tira o like e continuamos amigos como antes. Só demonstra inteligência da vossa parte saberem com o que vale ou não a pena perder tempo do vosso dia. Mas sentirem necessidade de o anunciar ao mundo? É só de quem é mal fodido e precisa de atenção. Estas pessoas sentem a necessidade de me dizer porque sabem que eu nem daria conta. Todos os dias saem dezenas de pessoas da página mas, até agora, têm chegado sempre mais. Este texto, por exemplo, vai fazer com que muita gente me ache arrogante e que saia da página mas, mais uma vez, se isso me impedisse de escrever o que bem me apetece, era muito mau sinal.
«Mas isto é uma crítica construtiva! Não aceitas as críticas?»
Diz muitas vezes isto quem levou uma resposta depois de me criticar mostrando que afinal não aceitam que eu critique a crítica deles. Irónico. Se eu não aceitasse as críticas nem lhes respondia porque assim ficariam com menos destaque nos comentários ou, simplesmente, apagava como muito boa gente faz. Uma crítica construtiva implica alguma coisa nela que me ajude a melhorar. Adicionem camadas à piada, digam-me como é que ficava melhor ou porque é que não gostam. É a construção? O tema? Não é original? É demasiado inteligente e acham que vos ofende por eu não fazer piadas mais fáceis para toda a gente as poder apanhar? Adicionem esse tipo de comentários e aí sim, podem dizer que são construtivos. Caso contrário é só palermice.
Até acredito que muitos deste tipo de comentários venham de um bom fundo e que sejam uma tentativa de me motivar a fazer melhor da próxima, de mostrarem que eu elevei muito a fasquia e que agora tenho de a manter. Mas, sinceramente, esse tipo de comentários só me tiram a vontade de escrever porque me lembro que estou a fazer isto sem pedir nada em troca, por gosto, e que há muita gente ingrata por aí que pensa que me pode exigir alguma coisa. Não sejam essas pessoas, não vale a pena o esforço. Encarem os comentários como uma conversa de café onde nos acabámos de conhecer. Se eu fizesse uma piada ou comentário ao vivo, vocês iam dizer do outro lado da mesa «Não tiveste piada!»? Claro que não. Apenas não riam. Até podiam pensar isso mas ficavam calados porque não era educado da vossa parte. Na Internet também há regras da boa educação e eu não vou para os vossos perfis pessoais escrever «Estás cada vez mais feio!».
Ninguém vai gostar de tudo e eu até duvido do bom gosto de alguém que diz que sempre gostou de tudo o que eu escrevi porque até eu, com o tempo, leio coisas para trás que não gosto e nem acho piada. Faz parte. Só têm de meter o que gostam e o que não gostam nos pratos de uma balança: se pender para o lado que gostam, continuam a seguir; caso contrário, a porta da rua é serventia da casa e escusam de me dizer porque eu estou, sinceramente, a cagar-me para quem não gosta, nunca gostou, ou deixou de gostar. Quem não gosta mas não consegue fazer uma crítica construtiva, aqui tem uma ajuda sobre como lidar com aquele sentimento que vos leva, ao invés de continuar a fazer scroll no feed do Facebook e ignorar, a comentar qualquer coisa só para ter atenção.
Sim, isto foi a minha egotrip. Um gajo da Buraca que não é rapper também tem direito. É Domingo e estou de mau humor. Já agora, aproveito para dizer que a todos os que têm feito comentários destes que podem comprar o meu livro, clicando aqui. Assim, no final de o lerem já podem refilar a dizer «Dei 15€ por esta merda e não tem piada nenhuma! Quero o meu dinheiro de volta!». Obviamente que não vos vou devolver nada, mas ao menos ficam com um bocadinho mais de legitimidade para criticar. Pumba! Marketing digital assim à bruta! Afinal os vossos comentários de crítica gratuita e do bota-abaixo a tentarem desmotivar-me até servem para alguma coisa. Esqueçam lá o que eu disse e continuem, por favor.
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