Está quase. Aproxima-se mais uma passagem de ano, noite responsável por mais mortes na estrada do que o casting dos Morangos com Açucar. Toma e vai buscar! Entrada a pé juntos com uma #bojardadodia. Vá, sejam responsáveis, se conduzirem não bebam. Mas bem, não é disso que vos venho falar, venho falar-vos dos diferentes tipos de passagem de ano. Vamos a isto.
Romântica
«Amorzinho, podíamos passar o ano só os dois e festejar o novo ano bem juntinhos...». Há quem prefira passar o ano apenas na companhia da sua cara metade. Há dois tipos de casais que decidem passar o ano sozinhos. O primeiro tipo são os que começaram a namorar há menos de um mês e que acham que isto é um passo importante na relação. Não moram sozinhos, nem têm carro, e esta é a oportunidade ideal para dizer aos pais que vão passar o ano com amigos, quando, no fundo, estarão a dar as doze badaladas numa caminha de hotel. O outro tipo de casal que passa sozinho é aquele que todos os seus amigos já têm filhos e ninguém alinhou numa festa como deve ser. «Aparece lá em casa um bocado enquanto eu mudo fraldas e tento adormecer a criança» não é um convite válido. Pode, também, dar-se o caso do casal que passa o ano sozinho ser o que conseguiu deixar os filhos pequenos com os avós e decide ficar em casa a descansar. Adormecem sempre antes da meia-noite.
Swing
«Pessoal, o que era giro era fazermos uma passagem de ano só de casais!» diz o xoninhas do grupo. À primeira vista, poderia ser uma festa de swing que iria descambar numa orgia valente com espumante e outros fluídos pelo ar. Mas não. É uma festa que acaba, invariavelmente, com discussão de um dos casais porque o gajo desenhou mal um coelho no jogo do Pictionary. Ele diz «Mas como é que isto não é um coelho? Um focinho com duas orelhas grandes e tu não adivinhas isto? Um esquentador? Por amor de Deus, Carla.» e ela responde a gritar «Um coelho? Mais valia teres feito o símbolo da Playboy, seu porco! Por falar em porco, isso mais depressa seria um porco do que um coelho! Ou então um bulldog francês! Aquele que eu queria ter recebido no Natal e vez do rafeiro que tu me deste!». Nisto, escala uma discussão com factos e acontecimentos que remontam ao Verão de 1987 e fica aquele clima estranho. Vão todos para a cama bem cedo.
Precoce
«Pessoal, hoje é calminho que é para amanhã ninguém estar de ressaca e ser a bombar.» é a frase que se ouve em qualquer passagem de ano deste género. O Réveillon precoce é aquele que acontece no dia anterior. Um grupo de amigos aluga uma casa logo no dia 30 e o resultado é sempre o mesmo: desgraça completa na primeira noite. No dia seguinte acorda tudo depois das três da tarde, com náuseas e dor de cabeça. Há sempre um gajo que ficou sóbrio na noite anterior e que fica lixado com o pessoal «Foda-se! Eu avisei para ser calminho! Hoje já estou a ver que ninguém vai beber!». Acaba ele por beber sozinho enquanto os outros vão bebendo águas das pedras até ser meia-noite, altura em que comem as passas e vão vestir os pijamas.
Automobilística
«Pessoal! Tive uma ideia! Falta meia hora para a meia-noite e podíamos ir ver o fogo de artifício!». Como o pessoal já está tocado pelo álcool, lá os consegue convencer e metem-se nos carros em direcção a algum sítio onde se veja fogo de artifício. Resultado? Apanham trânsito e passam a meia noite dentro dos carros a ver os clarões ao longe mas é dos sinais de luzes que os carros vão fazendo enquanto buzinam uns aos outros e entram no ano novo a refilar uns com os outros.
Mólhada
«Pessoal!!! Baza ao Terreiro do Paço?!» é com esta frase que começa uma noite da qual todos vão arrepender-se mais tarde. É o caos para estacionar, é o caos para avançar dez metros, a pedir licença de dois em dois segundos, a dar encontrões em velhas e pedir desculpa. Para beber são horas de fila e tudo isto por segundos de gratificação ao ver o fogo de artifício. Quando a multidão mais velha dispersa, ainda piora. Parece um cenário pós-apocalíptico, com mais lixo no chão do que uma casa de coleccionadores com Parkinson e problemas de coluna. De repente, Lisboa é invadida por todos os mitras dos bairros periféricos e eu sei isto porque já muitos vizinhos meus da Buraca me disseram que lá vão sempre passar o ano. Há porrada de bêbados, garrafas a voar e gajos a mandar piropos às namoradas dos outros. Sorte a nossa que agora já é crime.
Largada dos solteiros
«Vamos lá poderosas! Hoje é que vai ser! Deixar as piriguetes roídas de inveja! Hashtag beijinho no ombro! Uhhhhhh!» diz o grupo de solteiras enquanto se preparam para a batalha e fazem pinturas de guerra, vulgo maquilhagem. Nas passagens de ano, as discotecas enchem-se de grupos de encalhados e encalhadas em busca do primeiro funaná pelado do ano. Para muitos, será o primeiro do ano que acaba. Se na noite e com o álcool as decisões nem sempre são as mais ajuizadas e torneadas de bom senso, na noite da passagem de ano ainda piora. Há muitos aniversários em Setembro... agora pensem nisso.
Temática
«Podíamos fazer uma festa temática!!!» diz uma gaja solteira que quer aproveitar a oportunidade da passagem de ano para se vestir à porca. Às vezes é um gajo a sugerir festa temática porque já sabe que vai haver muitas gajas vestidas de forma de quem quer ir passar o ano de castigo. É tema de piratas, James Bond, anos 80, 60 e glamour dos anos 20. É festa indiana e grega. Dou-vos uma boa sugestão para festa temática este ano: tema jihadista! Raparigas de burka e gajos vestidos à terrorista! Vão todos para o quintal lançar fogo de artifício e deixem a magia acontecer.
Solitária
«É na boa, a sério. Até me apetece passar o ano sozinho para pensar na vida e tal», é o que diz aquele gajo que deixa para o fim a marcação de planos. Recusa alguns convites, ou porque são caros, ou porque são longe, ou porque tem coisas para fazer no dia seguinte. Acaba por se ver na situação de estar sozinho em casa, coisa que já me aconteceu há uns 10 anos. Passei o ano em casa a ver filmes, apenas na companhia do meu cão. Até abri uma garrafa de espumante para festejar a meia noite e tudo. Foi impecável. Barata, sem chatice e sem ressaca. Foi entrar no novo ano com uma perspectiva diferente. Estou a mentir, passei a meia-noite no banho a chorar em posição fetal por ninguém gostar de mim.
Casa alugada
«Estou sim, era para saber o preço para alugar a casa para a passagem de ano. Sim, somos oito, quatro casais. Sim, não se preocupe, somos todos calmos e vamos ficar a jogar às cartas e assim...» e, com isto, enganam a velha que decidiu alugar a casa de fim-de-semana sem saber que vai ser ocupada por 47 gandins, movidos a álcool. O dinheiro da caução nunca vai chegar para os estragos, nem a entrada que ela deu para a casa chegaria para pagar a quantidade de loiça partida, sofás rasgados e carpetes com vómito ressequido e topping de passas regurgitadas.
Vinte pessoas num T2
«Os meus pais têm uma casa na Pampilhosa da Serra e não vai estar lá ninguém...» diz um pobre coitado ao ver que não se vai conseguir alugar casa, seja porque se adiou ao máximo ou porque ninguém concordava com o local, ou preço. Quando o grupo percebe que afinal não vai conseguir alugar casa, há sempre um gajo, normalmente novo no grupo, que se oferece como mártir. «Não te preocupes que arrumamos tudo!», dizem os amigos enquanto agradecem a coragem. O resto da história não preciso de vos contar.
Haverá muitos outros tipos, mas deixo esse trabalho para quem quiser comentar. Do fundo do meu coração de pedra, desejo-vos umas soberbas entradas em 2016. Que os vossos desejos se concretizem menos aquele de ganhar o Euromilhões. Vão mas é trabalhar. Vá, muita saúde, especialmente aos fins-de-semana e feriados.
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