31 de maio de 2017

A Maria Vieira casou com o líder do PNR (alegadamente)



Ora bem, por onde é que havemos de começar? Para quem não sabe a Maria Vieira é aquela actriz secundária portuguesa. É aquela senhora pequenina que nos preencheu o imaginário humorístico, contracenando com Herman José em grandes programas de comédia, mas que agora é a protagonista, algo que nunca tinha conseguido ser, de várias polémicas no Facebook. Como a maioria das senhoras da sua idade, diz coisas que não devia nas redes sociais. A maioria destas senhoras fá-lo através de comentários nas fotografias dos filhos ou a partilhar citações em português do Brasil, mas a Maria é diferente: a Maria opta pelo discurso de extrema-direita, disfarçado de patriotismo e preocupação com as vidas humanas. Até aqui, nada de novo, há muita gente da idade da Maria que acha que Portugal estava melhor com um Salazar, no entanto, as pessoas parecem estar estupefactas com tais opiniões que chegam ao ponto de achar que não é ela que escreve no seu Facebook, mas sim o seu marido, porque, aparentemente, as mulheres nunca têm culpa de nada. Percebo a admiração das pessoas: como é que uma pessoa que aparece na televisão pode ter opiniões tão extremadas?

Simples, porque a maioria das pessoas que aparece na televisão é como a maioria das pessoas que não aparece na televisão: é uma merda.

Faz confusão porque é uma senhora de ar simpático que parece uma tia da terra que nos enche  a mesa de comida, ou a senhora do café simpaticíssima que nos deixa pagar na semana seguinte. O que nós, muitas vezes, não sabemos é que essa tia que vemos de tempos a tempos e a senhora do café com quem temos conversas superficiais, são, no fundo, umas bestas e que por trás de toda a sua genuína simpatia, carregam fardos de preconceito.

«Ah, mas ó Guilherme, ando meio distraído e não sei do que falas.», perguntam alguns do vós. Ora bem, aqui fica uma pequena compilação do que ela tem escrito recentemente no Facebook.

Há outra parte em que ela diz o Mourinho ter ganho a Liga Europa devia ter sido notícia de abertura em vez de notícias de terrorismo e que se fosse o Cristiano ou o Salvador já seriam notícia porque Mourinho é frontal não agrada ao poder instituído. Risada. Não estará lembrada quando interromperam a entrevista do Santana Lopes para mostrar a chegada de Mourinho ao aeroporto. Como todas as pessoas de pouca inteligência, a Maria é incoerente. Critica o Salvador por dizer que os ataques terroristas não deviam ter tanto destaque nos media, mas depois diz que o Mourinho é que devia abrir o telejornal e faz post sim, post sim sobre terrorismo. Todo o discurso dela se prende, sobretudo, sobre os refugiados que ela acha que devem ser deixados a morrer que é para se poupar vidas na Europa, porque as vidas do pessoal mais castanho valem menos. Pelo menos foi o que eu percebi do que ela diz. É fervorosa apoiante de Trump e com um piquinho de preconceito contra o Islão. Esta última parte nem acho mal, eu também discrimino o Islão juntamente com todas as outras religiões.

Se fizerem o exercício de ler os comentários e perguntar a alguém se são da Maria Vieira ou do líder do PNR, vão ver que muita gente falha o teste.

Claro que no meio de de tanto cocó que debita, de vez em quando diz umas coisas que até fazem sentido, tal como o maluco da minha rua que uma vez me disse «A vida é uma viagem com bilhete só de ida.», e a seguir gritou «Peidei-me!» e começou a correr e a gritar. Acontece. A questão aqui não são as opiniões dela, tem todo o direito de as expressar. Para mim, o que me faz mais confusão é o facto de as pessoas estarem admiradas. Primeiro, não é por se aparecer na televisão que se é boa pessoa. Penso até que seja mais ao contrário. Segundo, não é por aparecer na televisão que se é inteligente e culto. Terceiro, não é por se ser inteligente e culto que se tem sempre opiniões sensatas, como podemos ver pelo Miguel Sousa Tavares. A Maria Vieira tem todo o direito à sua opinião, mesmo que roce o racismo e a islamofobia. Já aqui disse muitas vezes que a melhor coisa da democracia é permitir o direito à estupidez e que ela esteja a céu aberto para podermos mudar de passeio quando vemos alguém cujos ideais não queremos contrair. Por isso, não é por ter estas opiniões que a Maria é má pessoa. Pode ser só burra e desinformada. As pessoas que a conhecem dizem que não pode ser ela a escrever os textos que publica no seu Facebook porque era o marido que lhe escrevia os livros e porque, segundo dizem, ela não sabe escrever articuladamente. O que parecia um elogio ao início, depressa se torna numa ofensa à fraca intelectualidade da pequena Maria. Até pode ser o marido que escreve, mas estará, certamente, a escrever pelos dois: «Meu Trump, ouve as minhas preces...».

Não tardará a haver teorias da conspiração em que dizem que a Maria já morreu e as fotos que publicam no Facebook são montagens ou que foi substituída por um Ewok depilado.

Não estou aqui a falar com sobranceria como quem diz que quem apoia o Trump é má pessoa e intelectualmente inferior. Acho que não e já escrevi sobre isso. Percebo porque é que o Trump ganhou e acho que a culpa é, em grande parte, dos pseudo liberais do politicamente correcto. Onde é que a coisa começa a cheirar mal? Quando a Maria fala dos refugiados, a desumanizá-los e a reduzi-los à face mais radical da sua religião, e quando ela apelida toda a gente que acha que devemos receber refugiados de «apoiantes de terroristas.». Olha a Mariazinha armada em porta-voz do PNR, hein? A Maria Vieira dava o skin head mais fixe de sempre. Imaginem-na de cabeça rapada, botas de biqueira de aço, taco de basebol e o seu Yorkshire ao colo. Era lindo. Não, Maria, quem é a favor que não se fechem as portas aos refugiados, não apoia o terrorismo. Quem é dessa opinião tem-na porque acha que isso pode, até, ajudar a diminuir o terrorismo porque leu uns livros de história e percebeu que os muros nunca resolveram nada e só pioraram as situações. E, no meu caso, acho que correr o risco de perdermos umas vidas portuguesas com um atentado vale a pena se for para salvar milhares de outras pessoas. Sim, são pessoas, Maria, migrantes ou refugiados, mas, acima de tudo, pessoas.

Não tenho muito mais a dizer. É muito raro fazer textos em que individualizo alguém, mas sendo que o fiz com o Pedro Arroja, parecer-me-ia discriminação se não o fizesse com a Maria Vieira e se eu a discriminasse estava a ser igual a ela. Talvez a Maria esteja só a dar estas opiniões para ter aquilo que nunca teve na vida: destaque. Pumba, vai buscar parrachita. Curiosamente, o maior destaque da carreira da Maria foi quando fez a Gaiola Dourada em que interpretou uma emigrante. Ironias do destino.




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