12 de abril de 2018

Como acabaria com a minha vida?



O suicídio é um dos temas mais tabu da nossa sociedade. Encaro-o com naturalidade já que escolher a hora e forma de morrer é um luxo que a maioria de nós não tem. Acho que estar por cá vale a pena, mas percebo quem ache o contrário e prefira ir embora em vez de ficar cá a incomodar os outros. Para efeitos de não me acharem uma besta, se estiverem com pensamentos suicidas, procurem ajudaNão sou gajo para me suicidar, pelo menos nos próximos tempos em que tenho a agenda muito ocupada; no entanto, e como gosto de estar preparado, já pensei várias vezes qual seria o método a utilizar caso decidisse dar por terminada esta minha estadia na Terra.

Enforcar
Acho de mau tom para quem encontra o corpo, pendurado e com uma possível mancha de sémen nas calças, devido à ejaculação que pode acontecer com este método; depois, olhando aqui para a minha casa, onde é que me penduraria? O varão do cortinado não aguenta com este mamutezinho; teria de ir a uma loja de bricolage comprar camarões e usar um berbequim para me conseguir prender ao tecto. Parece-me demasiado trabalhoso para quem anda há um ano para pregar umas molduras e afixar um candeeiro. Já estou a ver a minha namorada a discursar no funeral e a atirar-me à cara que só quando é para mim é que faço as coisas.

Overdose
Pode ser um bom método dado que temos oportunidade de ver dragões a sodomizar unicórnios anões antes de irmos ter com o criador. No entanto, tenho algum receio que o facto de não ser imediato me cause arrependimento. Cenário: ingiro uma caixa de comprimidos e até aquilo bater posso começar a entrar em pânico e a mudar de ideias; vou tentar vomitar, mas já está no sangue e sinto-me a ir embora sem bilhete de volta. Não quero que o meu fim seja vivido com sofrimento e arrependimento, prefiro algo mais rápido, isto sem contar que como hipocondríaco que sou teria paranóia com os efeitos secundários dos medicamentos.

Cortar os pulsos
Nem pensar. Não tenho a vacina do tétano em dia, além de que optar por este método é não respeitar quem encontra o corpo e, especialmente, as empregadas que vão ter de limpar a sujeira toda. Depois, se corre mal, um gajo fica com as marcas para sempre nos pulsos e toda a gente saberá que nem no suicídio somos competentes.

Afogamento
Sou um excelente nadador pelo que seria complicado. Fora de questão conseguir afogar-me numa piscina a não ser que seja com pedras amarradas à cintura. A questão é que não sou rico e não tenho casa com piscina e fazê-lo numa piscina pública parece-me uma má escolha, já que poderia ser resgatado por um nadador salvador que me estragaria os planos e ainda me mamaria da boca. No mar? Podia ser, mas não quero ser o gajo que se suicidou e cujo corpo apareceu todo inchado e nojento numa praia enquanto um pai faz uma amona a um filho. Matar-me tudo bem, traumatizar crianças acho parvo. 

Electrocução
No outro dia, apanhei um choque valente a arranjar o fogão e percebi que não é boa opção. É daqueles métodos cuja probabilidade de correr mal é muito alta e um gajo pode ficar vegetal ou com tiques na cara para o resto da vida. Isto para não falar de que em minha casa um aquecedor e um secador já manda o quadro abaixo.

Sónia Brazão
Por falar em fogões, temos o método Sónia Brazão. É um método estúpido que incomoda os vizinhos com o barulho, além de poder correr mal e funcionar apenas como peeling gratuito.

Beber lixívia
Sou esquisito a comer: não gosto de marisco e não aprecio muito peixe nem couve flor; não consigo beber sumos detox e vou beber lixívia? Se der para misturar com lima e açúcar e fazer uma caipiblanc, talvez pondere, caso contrário acho que não. A morte em si também não deve ser agradável: deve dar dores de barriga e um gajo deve vomitar sangue e, caso nos encontrem ainda vivos, vamos ter de ir para o hospital fazer uma lavagem ao estômago e passar vergonha. Se uma noitada com vinho e cerveja já me deixa ressacado dois dias, imaginem com shots de lixívia.

Veneno
É igual ao anterior, a juntar ao facto de que um bom veneno não se vende assim por dá cá aquela palha. Se desse para comprar um bom cianeto, ainda era de pensar nisso, embora a morte seja bastante agoniante e ninguém queira matar-se da mesma forma que Hitler. É como o bigode dele, até pode ser giro, mas depois dele ninguém o vai usar e só um tipo especial de pessoa é que dá o nome Adolfo aos filhos.

Coma alcoólico
Apesar de não ser das piores formas de morrer, já que dá para aproveitar uma bonita bebedeira antes de bater as botas, tenho algum receio de que as minhas últimas palavras fossem "Não, eu estou bem, a sério. Estou alegrezito, vá.".

Tiro
Conheço um senhor que tentou rebentar a cabeça com uma caçadeira, apontando o cano de baixo para cima, na zona do queixo, mas com o coice da arma acabou por não morrer e cometeu apenas a proeza de ficar sem cara. Dois anos volvidos em operações plásticas de reconstrução facial, quando já se voltava a assemelhar ligeiramente a um ser da espécie humana, decidiu mandar-se da ponte. Escusava de ter andado a gastar dinheiro do SNS, mas pronto, ao menos conseguiu suicidar-se e não passar pela humilhação de falhar duas vezes.

Injectar ar na veia
Há pessoal que se tenta suicidar assim, pretendendo provocar uma embolia. Pode dar certo ou não acontecer nada, dependendo dos vasos sanguíneos para onde vai o ar. Pode ficar-se só vegetal. Demasiadas variáveis, numa espécie de roleta russa dos pobres. Sim, é giro em termos de deixar um mistério por resolver, sendo que te encontram com uma seringa no braço, partem do princípio de que foi overdose, mas não encontram nada na autópsia e ficam todos confusos. É engraçado morrer e deixar cá um desafio, mas acho que o risco de ficar courgette babona não compensa.

Acidente de carro
Lá está, mais uma vez, pode correr mal. Já vi acidentes de carro em que estes ficaram desfeitos e as pessoas, quase de forma milagrosa, safaram-se. O que me garante que espetar o meu Clio de 2002 contra um muro me mata? As pessoas ficam sem saber se foi acidente ou propositado e pensam que não sabes conduzir e ficas com má fama.

Mandar para a frente do comboio
Funciona que é uma maravilha, é certo, mas só o faria para chatear as pessoas que vão chegar atrasadas ao trabalho por minha causa. Depois, tem de vir o pessoal do INEM recolher os bocados e montar-me qual móvel do IKEA e não gosto de dar trabalho a quem tem vidas para salvar. Como seria o funeral? Em vez de um caixão seria uma tigela com papa? Era um ambiente estranho, acho que um gajo pode matar-se e pensar na família ao mesmo tempo.

Monóxido de carbono
Vi nos filmes, não sei se é muito usada. Ligar um tubo desde o escape do carro até à janela, fechar tudo e meter o carro a trabalhar para ir desmaiando, lentamente, até morrer. Tem nota artística, mostrando engenhosidade, mas é preciso ter em conta que funciona melhor nos carros antigos que deitam fumo preto e que não podem ir para o centro de Lisboa. Se um gajo tiver um carro eléctrico está tramado, claro, e penso que o instinto de sobrevivência entra em acção e faz-nos abrir a porta ou janela do carro e ficamos só com tosse durante uma semana.

Viagra
Lembrei-me desta e acho que pode ser inovadora. Contratar umas profissionais do chavascal e tomar uma caixa inteira de Viagra. Depois, era festa até o coração dar o berro. Pagaria antes às senhoras porque não gosto de ficar a dever a ninguém e, caso não funcionasse, era uma noite bem passada e talvez me passasse a vontade de me suicidar.

Saltar para a morte
Esta é a minha favorita. Das várias vezes que me debruço sobre este assunto, chego sempre à conclusão que a melhor forma de me suicidar seria atirar-me de um sítio alto. Não custa dinheiro e é 100% fiável se feita de uma altura generosa - não é como aquele pessoal burro que se atira do primeiro andar - é subir ao Cristo Rei, apreciar a vista para Lisboa e saltar com um mortal encarpado à retaguarda. Esta técnica dá para deixar uma boa história: saltar vestido de Deus, por exemplo, é uma bonita mensagem e metáfora que fica; saltar vestido de super-homem, também, deixando as pessoas na dúvida se te querias matar ou voar; mascarado com roupa futurista e com uma montagem de um jornal de 2050 também é capaz de ser giro, deixando milhares a acreditar que tinhas vindo do futuro, mas falhaste as coordenadas e materializaste-te no ar. As possibilidades são muitas, é puxarem pela cabeça.

Já agora, como nota final, fiquem a saber que o suicídio é ilegal em muitos países como no Chipre ou na Papua Nova Guiné, algo que pode parecer estranho, mas que é capaz de ser o melhor incentivo ao suicídio: quem tentar e não conseguir pode ir preso. Querem melhor forma de garantir que toda a gente se esforça ao máximo para acertar à primeira? Quem diz "Já me tentei suicidar cinco vezes" tem um problema maior na vida do que a depressão e esse problema é falta de empenho.




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