3 de abril de 2018

Curso de exorcismo do Vaticano



Ora bem, isto parece uma notícia do Inimigo Público, mas é verdade. O Vaticano vai abrir um curso de exorcismo para fazer face ao aumento de casos de possessão demoníaca; só em Itália, há 500 mil casos por ano de pessoas que dizem estar possuídas pelo Capeta em pessoa.

Belzebu anda a possuir mais gente à força do que o violador de Telheiras.

Nem vou estar aqui a constatar o óbvio que é o facto de isto ser ridículo e um passo atrás numa Igreja Católica que parecia começar a evoluir com o Papa Francisco. Tampouco insinuarei que dizer a pessoas com problemas mentais que estão possuídas pelo demo e que um exorcismo é que faz bem e mata o bicho, em vez de procurarem ajuda médica, deveria constituir crime. O mais curioso é que o curso é pago - custa 300€ por pessoa; estranho a Igreja Católica - abastadíssima - não oferecer este curso aos seus sacerdotes para que haja o máximo número de exorcistas capazes de expulsar o demónio do corpo dos filhos de Deus e diminuir o mal na terra. Logo aqui, cheiraria a esturro, não fossem as Igrejas um grande negócio que precisa de muitos client... crentes.

O curso foi criado pela Associação Internacional de Exorcistas (AIE) - apoiada pelo Vaticano - e vai ter a duração de cinco dias. Estranho que nesse curto período de tempo se fique habilitado a lidar com tamanha força do mal como o Diabo! Pensava queria seria, no mínimo, necessária uma licenciatura Bolonha com mestrado integrado; imaginem que para tirar qualquer outra coisa de dentro do vosso corpo, que não o demónio, só era preciso um workshop tirado à pressa: «Tenha calma que eu tiro-lhe o apêndice! Tenho o certificado de cirurgião que tirei numa na semana que estive de férias na praia da Rocha.».

O curso foca-se em duas vertentes:
  • Exorcismo: tem de ser feito por um sacerdote que dá ordens ao demónio para que abandone o corpo da vítima;
  • Oração de libertação: pode ser feita por qualquer pessoa, já que é um pedido de graça feito aos anjos, santos ou à Virgem Maria para que interceda junto de Deus e ajude o possuído.
Mesmo com esta explicação no site, fiquei com algumas dúvidas e resolvi ligar para a AIE; atenderam-me em italiano, disse-lhes "Marco Bellini" e "Fiat Cinquecento" e lá nos entendemos ao ponto de chamarem alguém que falasse inglês. Disse que estava interessado no curso, perguntaram-me se era padre ou sacerdote e respondi negativamente; informaram-me que, sendo leigo, teria de enviar uma carta de intenções e uma recomendação do bispo da minha zona.

Agradeci, dizendo que falaria com o bispo e que a minha intenção era expulsar o Diabo do corpo da minha namorada, pois ressonava de tal forma que só podia estar possuída. Perguntei se só mesmo com exorcismo ou se a oração de libertação era suficiente.

Houve um silêncio estranho e a chamada caiu. Fiquei, por isso, com muitas dúvidas sobre o curso: como será a estrutura? Será só teórico? Terá exercícios práticos? Um gajo precisa de fazer exame final para ficar habilitado a exorcizar ou passam todos só porque pagaram? Dá direito a certificado para colocar no CV? Imagino que o programa seja algo do género:
  • Esquizofrenia, possessão ou birra do sono.
  • Lançamento do terço à cabeça do demo.
  • Taser, spray pimenta ou água benta? As melhores formas de imobilizar o Capeta.
  • Holy Water Break - Networking
  • Espírito bom é o contrário de espírito mau?
  • Contorcionismo ou possessão? Saiba as diferenças.
No final do curso, todos os alunos têm de expulsar o demónio do corpo de uma criança só com o auxílio de uma cruz, da bíblia e da pila. Esta última é opcional. Agora que penso nisso, isto dos exorcismos é uma excelente forma dos padres calarem as crianças: "se contas alguma coisa aos teus pais o Diabo vem e apodera-se do teu corpo" e se a criança não obedecer, dizem aos pais que é o Diabo que a está a obrigar a dizer mentiras. E, lembrei-me agora, se o curso tiver sido criado por um padre que está possuído pelo Diabo e que está a criar uma armadilha em que os alunos, em vez de aprenderem a praticar o exorcismo, estão, na verdade, a aprender de forma dissimulada uma espécie de ritual que vai dar mais poder ao espírito maligno que se apodera do corpo dos possuídos? Pois, nisso ninguém pensou. O Diabo é gajo para ser astucioso a esse ponto, o patife. E se a pessoa que estiver possuída for de uma religião diferente como é que isto funciona? Tem de se chamar um exorcista dessa religião ou estes podem expulsar qualquer diabo? E se em vez de um espírito maligno for um espírito bom e a pessoa não quiser porque é adoradora de Satanás? Há exorcistas ao contrário? E se a vítima for surda será que o Diabo que a possui ouve as ordens e as rezas do sacerdote ou assim não funcionam e acabei de descobrir as vítimas ideais para o Capeta? Tantas perguntas e tão poucas respostas.

INTERLÚDIO CONINHAS GONNA CONATE
(alguns comentários ao último texto que fiz sobre a Páscoa)

Aquece-me a alma metafórica ver que seguem atentamente os ensinamentos de bondade de Cristo. Felizmente, a maioria dos católicos tem sentido de humor e sabe que a sua religião tem incoerências passíveis de serem parodiadas e eles próprios riem com elas. Creiam em Deus se isso vos completa e vos faz melhores pessoas. Creiam em Deus como uma entidade qualquer que está para além da nossa consciência e compreensão humana. Tudo bem, respeito, invejo e não tenho nada contra desde que não tragam a religião para assuntos onde não é chamada, mas acreditar em possessões demoníacas e exorcismos é só sinal de pouca inteligência ou doença mental, ironicamente. Não é por ser mentira, porque até pode ser verdade da mesma forma que pode ser verdade eu estar a escrever este texto possuído pelo espírito da Cleópatra; é só por não haver nenhuma base científica que o sustente e, como diria Tim Minchin, se temos uma mente demasiado aberta, o cérebro corre o risco de cair.




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