5 de fevereiro de 2014

Estranho num funeral



Não sou adepto de funerais. Não puxam por mim. Só fui a dois até hoje, e nenhum deles era de pessoas próximas. As poucas pessoas próximas que morreram optei por não ir. Não concordo com o negócio da morte e o espectáculo triste que se monta à volta. Prefiro ficar com a última imagem da pessoa em vida. Não preciso de um funeral para fechar o assunto, mas compreendo quem precise. Um fui por vontade própria para dar apoio a um amigo meu que tinha perdido o pai. Fui por ele apenas, porque achei que o meu apoio era importante. Outro fui apanhado na curva. Tive que a ir a um funeral do avô de uma ex-namorada minha. Lá tive eu que ir ao funeral do velho que não conhecia de lado nenhum e que reza a lenda só passou a ser boa pessoa depois de morrer.

Ninguém diz "A última vez que vi o António foi no caixão, mesmo antes de enterrar". Ninguém diz isto e era verdade para muita gente. Muita gente diz "ainda a semana passada estive com ele". E então? Que interessa isso? Era suposto que esse facto lhe tivesse curado o cancro? Ou que não viesse um comboio e o colhesse só porque o tinhas visto há 7 dias? Há pessoas egocêntricas.

Ir a um funeral de uma pessoa cuja morte te é indiferente é complicado. É complicado porque não te podes rir. Ninguém vai interpretar o riso de um estranho num funeral de uma forma leve e descontraída como quando um dos familiares próximos se começa a rir de forma incontrolável por descargo de stress ou por outra razão, como tantas vezes acontece. E o pior é que na minha cabeça começam a passar uma vasta panóplia de piadas de mau gosto que não posso contar a ninguém. Mas ficam na minha cabeça e começam a ter cada vez mais piada e eu tenho que me controlar para não rir. Humor "negro" é a minha "praia" ("negro" das capas do traje e "praia" do Meco), e porem-me num funeral de alguém que não conheço é como meterem uma criancinha de fralda tanga à frente de um padre.

A propósito de funerais, a minha namorada trabalha num lar e então tem que ir a vários enterros e velórios e essas coisas giras. Não tem que ir mas fica bem, apesar de ser um cliente que nunca mais se vai fidelizar. E uma vez foi a um errado e começou a achar estranho quando toda a gente a olhava de lado e não via ninguém conhecido. Claramente que estavam a pensar que seria a amante ou uma filha bastarda que estava ali para reclamar a sua parte da herança. Mas segundo ela "oh isso foi só uma vez, já fui a muitos que correram bem".

E pronto é isto que tinha para vos contar hoje. Bem sei que já foram a funerais mais divertidos do que este post mas a inspiração é como o período para quem pratica coito interrompido. Há vezes que não vem.




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