Já me conhecem o suficiente para saber que há várias coisas que me irritam e me estragam o dia.
Pessoas que comem de boca aberta
Devia haver uma excepção na lei a legislar que agredir pessoas que mastigam de boca aberta não é crime. Quem nunca foi a jantar de aniversário e ficou sentado em frente a alguém que não conhece bem e que acha que mastigar deve ser uma actividade de grupo? Para estas pessoas o corpo humano tem o defeito de não ter as bochechas transparentes para que todos possamos ver o seu bonito processo de mastigação e deglutição. Para além de mastigarem que nem bodes com sinusite ainda são capazes de falar de boca cheia, normalmente sobre assuntos que não interessam a ninguém. Mesmo à nossa frente, a falar sobre o facto de ter saído uma nova compilação de quizombas e nós só conseguimos pensar que, mais cedo ou mais tarde, aquele bolo alimentar vai sair disparado em perdigotos-morteiro e aterrar-nos no copo de vinho. Há dois tipos de pessoa no mundo: as bem formadas até têm medo de mastigar batata frita de pacote em público por acharem que estão a fazer muito barulho; as nojentas que mastigam de boca aberta e que por cada ruminação devia ser possível dar-lhes uma chapada na nuca para ficarem entravados a comer por uma sonda.
Elevadores
Quantas vezes estamos à espera de um elevador, já com o botão iluminado a assinalar devidamente que já carregámos nele e vem alguém que decide carregar outra vez? Era uma joelhada no baixo ventre, logo ali. Quem é que aquela pessoa pensa que é para duvidar da minha capacidade de chamar elevadores? Pensa que é especial e que o elevador vem mais rápido se for ele a chamá-lo? Que falta de respeito. Quando isto me acontece o que faço é carregar outra vez no botão logo a seguir só para quando o elevador chegar ele não pensar que o mérito é dele. Sou mesquinho, bem sei, mas não gosto de pessoas que se acham superiores a mim no tocante ao chamamento de elevadores. Outra opção é agradecer dizendo «Muito obrigado gentil pessoa, estava aqui à espera desde a semana passada.» e ver a reacção. Depois de entrar no elevador carreguem no botão do piso para o qual desejam ir e digam «Caro guru do chamamento dos elevadores, pode carregar aqui no botão também? Vejo que tem uma relação especial com a máquina.». Depois carreguem no stop, espanquem-no e atirem o corpo pelas escadas abaixo duas vezes.
Velhas no multibanco
Agredir pessoas idosas nunca é aceitável excepto quando temos uma à nossa frente no multibanco, coisa que acontece, sempre, mas sempre, quando estamos com pressa. Vislumbramos o multibanco ao longe e percebemos que está lá um vulto de cabelo grisalho e somos invadidos por uma frustração que antecipa o que nos espera. Vemos os nossos medos confirmados quando o cartão sai e ela volta a colocá-lo. Suspiramos profundamente para ela sentir o nosso desagrado, como se ela se fosse apressar por nossa causa. Se não se apressa por já não ter muitos anos de vida, não será o descontentamento de um jovem a ter esse efeito. Ela olha para trás e nós sorrimos, cinicamente, enquanto pensamos que seria tão fácil eliminá-la com uma leve pancada na coluna devido aos seus ossos já rendilhados. Quando falamos da importância em educar as gerações mais velhas relativamente às novas tecnologias, a principal vantagem não é o seu conforto, mas sim para nunca mais termos de as apanhar no multibanco a fazer pagamentos da água, luz e das prestações do transplante de bacia. Sabemos que a teoria da relatividade de Einstein é real quando o tempo custa menos a passar quando temos de esperar dez minutos com cinco pessoas à nossa frente na fila do que esperar apenas cinco por uma velha. Da última vez que isto me aconteceu foi com um senhor de não mais de cinquenta anos. Tirou e voltou a colocar o cartão, duas vezes, enquanto olhava para trás e via o meu ar de frete. Passados cinco minutos desisti e atravessei a estrada para ir a outra caixa multibanco. Levantei dinheiro, fui ao café, comprei um par de meias a uma cigana, voltei para buscar o carro e o gajo ainda estava lá! Aquele atrasado mental viu que eu estava à espera e não teve a decência de me dizer «Olhe, só para avisar que vou demorar mais de meia hora aqui... se quiser ir a outra caixa para não esperar tanto.». Apeteceu-me chamar-lhe nomes e dar-lhe um calduço surpresa e dizer «Tu sabes porque é que isto foi.».
Faltar água quente
Hoje é coisa que já não me acontece, mas lembro-me de quando o gás em minha casa ainda era com botija e quando a meio de um relaxante banho de água quente, quase a queimar o escalpe, em pleno inverno, o gás acabava e começava a vir água fria. Apoderava-se em mim uma espécie de ataque de raiva e começava a gritar «ACABOU O GÁS!!!» para que os meus pais me acudissem e trocassem a botija. Ainda assim, acho que é pior quando alguém começa a usar água na cozinha, fazendo com que, de repente, um jacto de água fria nos congele a alma e nos faça passar de uma uma pessoa civilizada, que cantarola alegremente durante o duche ,para um demónio possuído por Belzebu capaz de assassinar com requintes de malvadez quem nos fez tamanha maldade. Depois de gritos e insultos lá conseguimos terminar o banho, mas, muitas vezes, a situação ainda piora quando percebemos que a toalha ainda está húmida. Enfim, problemas graves do primeiro mundo sobre os quais ninguém fala. Esperemos que com o Guterres na ONU isto seja uma prioridade.
Internet lenta
Um dos grandes flagelos contemporâneos. Já muita gente disse que ter Internet lenta é pior do que não ter Internet e que se queres conhecer a verdadeira personalidade de alguém, então dá-lhe uma ligação de Internet fraca e vê como ela reage. Sou do tempo em que para sacar uma música era preciso investir mais de cinco horas em Internet paga por impulsos telefónicos e rezar a nossa senhora das telecomunicações para aquilo não ir abaixo e para a nossa mãe não se lembrar de ligar à nossa tia para lhe perguntar se está melhor dos joanetes. Hoje, num tempo em que tudo tem de ser medido em gigas e teras, quando apanhamos uma Internet mais lenta sentimos uma espécie de aperto no peito. Muitas vezes é uma ligação pública e de borla e quando não está protegida por password já sabemos que é uma merda. Tentamos na mesma. Liga e cai e volta a ligar e a cair. Não conseguimos sequer actualizar o feed do Facebook e pensamos na sorte que as crianças africanas têm de terem tanta fome que nem se preocupam com a lentidão da Internet na barraca.
Ressonar
As pessoas que ressonam e nos privam do sono fazem com que as odiemos sem elas terem culpa. Lembro-me de quando era puto e, às vezes, durante as férias em que tinha de dormir no mesmo quarto dos meus pais, ouvir o meu pai a ressonar qual javali com tuberculose. Lembro-me de me deitar e entrar numa corrida de contra-relógio em que tinha de adormecer primeiro do que ele, caso contrário, ia ser uma noite de sofrimento e de tortura do sono. Para piorar a situação, o meu pai é daquelas pessoas que mete nojo a pessoas como eu que têm dificuldade em adormecer e, passados dez segundos de colocar a cabeça na almofada, começavam as obras sem alvará. Respirava fundo e tentava abstrair-me do som e concentrar-me na minha respiração, mas nada. Levantava-me e mandava-lhe com uma almofada mesmo na cabeça e deitava-me rápido. Ele acordava em sobressalto e voltava a dormir. Havia ali uma janela de oportunidade de um a dois minutos de paz em que tinha de conseguir adormecer. Normalmente, não conseguia e o meu desespero era tão grande que quando o meu pai parava de respirar devido à apneia do sono que tinha, eu ficava a pensar que se ele morresse ali nem tudo seria mau. Agora, sempre que vou de viagem e fico em hostel de quarto partilhado os meus melhores amigos são os tampões para os ouvidos. Isso e uma almofada na cara dessas pessoas até deixarem de respirar. Se o Ted Bundy, famoso psicopata americano, utilizasse como defesa aquando do julgamento por matar dezenas de prostitutas o argumento: «Senhor juiz, matei sim, mas elas não paravam de ressonar!» eu compreendia-o.
Pessoas a conduzir encostadas a mim
Só queria ter um carro com a traseira reforçada e travar a fundo sempre que isto acontece. Se vou na esquerda a ultrapassar, por vezes já um pouco acima do limite de velocidade, e vem um anormal que se encosta a mim a dar-me sinais de luzes, desculpem, mas vou ignorar. Vou, até, abrandar a marcha e, se me apetecer, vou acender as luzes de nevoeiro traseiras para ele pensar que estou a travar e se assustar. Não, meu palhaço, não me vou desviar para a direita só para tu me passares e ganhares 100 metros para chegares mais rápido trinta segundos ao café. Temos pena. Estrebucha à vontade. Gesticula qual intérprete de língua gestual com tourette. Faz os sinais de luzes todos que quiseres. Daqui só saio quando me apetecer ou deixar de haver carros à minha direita. Se te armares em campeão e tentares ultrapassar-me pela direita sou menino para acelerar só para não te deixar passar. Isto agora tornou-se pessoal e vou fazer do objectivo do meu dia irritar-te ao máximo. Estimo que te espetes num poste e faleças. A sério que sim. Ia rir-me.
Pessoas que falam alto ao telemóvel
Uma das grandes desvantagens dos transportes públicos é o facto de estarem cheios de pessoas. O mau odor corporal não é nada ao pé de pessoas que acham que toda a gente está interessada nas conversas deles. As pessoas estão longe, mas não precisas de gritar para que te oiçam. Chama-se tecnologia. Claro que são sempre conversas de merda ditas por labregos e labregas com alma de peixeira. Nunca vão ouvir alguém a falar alto ao telemóvel a dizer «SIM, MAS ESSA TEORIA JÁ FOI COMPROVADA POR DARWIN! ESTOU-TE A DIZER QUE SIM! JÁ MUITOS FILÓSOFOS TINHAM TEORIZADO SOBRE ISSO ANTES!» Claro que não, normalmente são conversas sobre se o facto da Kátia ser uma porca que comeu o Sandro, namorado da Sheila. Para além desta gente que o único propósito no mundo é a poluição sonora, ainda temos as que ouvem música com o telemóvel sem auscultadores. Era obrigá-los a ouvir a Maria Leal a cantar no duche durante dez horas, dentro de um poliban, nus e encostados a ela, também nua. Imagino sempre uma narração do National Geographic quando vejo um destes primatas a entrar no autocarro: «lá vem um mitra, espécie autóctone da Amadora, com o seu andar característico de quem foi mordido na canela por um crocodilo. Em homenagem, pavoneia-se com um boné branco com logótipo da fera que o lesionou. Nas orelhas, traz brincos com brilhantes para ofuscar os predadores e o pica. Saiu à rua de fato de treino porque está sempre pronto para fugir da merda que faz. Para além da bolsa de cintura que tem ao pescoço, qual são bernardo do gueto, carrega um telemóvel no qual toca as suas músicas preferidas. Essas músicas nunca são Led Zeppelin ou Queen, são sempre músicas de merda que ele acha que as outras pessoas devem ser obrigadas a ouvir. O mitra, infelizmente, não é uma espécie em vias de extinção.» Era espancá-los com um pau de selfie com um Nokia 3310.
É isto, já desabafei. Se sentem as mesmas dores não deixem de partilhar e de deixar nos comentários outras coisas que vos estragam o dia.
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