O Aeroporto Internacional da Madeira mudou o nome para Aeroporto Cristiano Ronaldo. «E então?», perguntam vocês. Respondo «Exacto, e então?». Parece que há uma polémica e muita gente não concorda com a mudança do nome. Há, até, uma petição a correr para impedir a mudança do nome. A meu ver, são pseudo-intelectuais que consideram o futebol um desporto menor do que o golfe, bilhar e o berlinde. Também não sou fanático por futebol, mas sei reconhecer a importância que tem, para o bem e para o mal. Quer queiram, quer não, o Ronaldo é o português mais conhecido de sempre em todo o mundo e, quer gostem ou não, ajudou a meter Portugal no mapa. Sim, dá uns chutos numa bola, ok. No entanto, esses chutos emocionam mais pessoas do que muitas instalações da Joana Vasconcelos. Sim, cada finta apela ao nosso cérebro macacoide e não ao nosso apurado sentido artístico cognitivamente evoluído, tudo bem, ainda assim, aprecio mais um livre marcado pelo Ronaldo do que uma ida ao Museu Berardo ver quadros em branco na companhia de hipsters.
O que tem o futebol a ver com a aviação? Nada. É uma homenagem. O que é certo é que muito turista vai à Madeira porque passou a conhecê-la através do Ronaldo. Vai atrair mais turismo pelo aeroporto ser CR7? Não sei, é possível, nem que seja porque será notícia lá fora. O que sei é que iria lá menos gente se se chamasse Aeroporto Alberto João Jardim. Depois, se pensarmos bem, baptizar um aeroporto com o nome Cristiano Ronaldo nem é assim tão descabido. Vejamos: primeiro, o Cristiano tem um avião, ok? Pronto. Não é um drone ou um avião telecomandado montado às peças em fascículos da Planeta Agostini. É um jacto privado que custou uns 20 milhões de euros. Logo aí, Ronaldo já está a ganhar a muita gente. Depois, ele está mais do que habituado a manusear aviões: seja a Irina ou a Nereida. Sim, começou por baixo, com a Merche, a tirar o brevet numa espécie de avioneta que para passar na inspecção só pagando pela porta do cavalo. Todos temos de começar por algum lado e é mais do que sabido que o Ronaldo veio de baixo e não nasceu em berço de ouro. Terceiro, e último, os livres do Ronaldo chamam-se Tomahawk que são mísseis que, tal como os aviões, voam. Fora o facto de ele ter uma grande capacidade de impulsão.
Como já escrevi, tenho medo de andar de avião, e, por isso, o nome do aeroporto onde vou levantar ou aterrar, dentro de uma caixa de metal com asas, conduzida por um taxista bem vestido, é-me um pouco indiferente. Tenho mais coisas em que pensar. Quero lembrar-vos que o aeroporto do Porto se chama "Aeroporto Sá Carneiro". Isto sim, é um nome parvo para um aeroporto. Um gajo que morreu num desastre de avião dá o nome a um aeroporto? Acho ofensivo. Já não basta eu panicar só porque sim, ainda me fazem lembrar que o senhor que dá nome ao aeroporto faleceu devido a um avião.
Haver um aeroporto chamado Sá Carneiro é o mesmo que haver um autódromo chamado Angélico.
Já para não falar em hospitais com nomes de santos. O Hospital de Santa Maria devia ser uma marquesa na igreja onde o padre faz umas rezas. Se vou ao hospital não é para ser salvo por santos a não ser que o médico que me vai operar os joanetes tenha "dos santos" como apelido. Faz tanto sentido como haver um Hospital José Carlos Pereira em homenagem ao eterno estudante de medicina cujos cuidados de saúde são conhecidos por todos. Já agora, deixo algumas sugestões para homenagear outros atletas e celebridades portuguesas e que, a meu ver, fariam todo o sentido:
- Loja do Cidadão Nelson Évora - Onde tem de se andar a saltar de balcão em balcáo até encontrarmos alguém que nos saiba ajudar.
- Associação Patrícia Mamona - ONG que ajuda doentes com cancro da mama.
- Túnel Ricardo Salgado - Um túnel sem saída que, no fundo, é apenas um buraco horizontal.
- Universidade Miguel Relvas - Privada e por correspondência.
Por mim, a Madeira até se podia chamar ilha Cristiano Ronaldo e todas as ruas serem Rua Cristiano Ronaldo I, II e por aí fora. «Isso é porque não és da Madeira!!!» espumam alguns de vós. Tudo bem, mas também mudaram Buraca para Águas Livres e não me viram a refilar. Para mim continuará a ser sempre Buraca, da mesma forma que as pessoas vão continuar a dizer aeroporto da Madeira ou do Funchal e ninguém se vai chatear com isso daqui a uns anos. Daqui a uns dias, vá, quando houver outra polémica mais suculenta.
Há quem diga que a mudança de nome não faz sentido porque Ronaldo ainda está vivo e pode, no futuro, cometer erros e ter comportamentos maliciosos que ficarão, assim, associados ao aeroporto. Epá, muda-se o nome depois e faz-se outra festa! A ponte 25 de Abril também se chamava ponte Salazar e não é por aí que não continua a ser uma ponte que cumpre o seu nobre objectivo de unir margens. Por mim, até se tinha mantido como Ponte Salazar porque acho que a história não deve ser apagada a ver se não nos esquecemos o que o senhor fez e a ironia de ter o seu nome numa ponte em vez de num muro ou, por exemplo, na prisão de Caxias.
Percebo o argumento, mas prefiro homenagear em vida até porque não se tem a certeza se o sinal de wi-fi é bom no além.
Querem que as nossas obras tenham nomes de cientistas ou artistas famosos? Então comecem a ver mais teatro e a dar mais valor à ciência em vez de ver futebol. Simples. Os jogadores ganham obscenidades porque há público e dinheiro para isso. Têm a projecção que lhes dão e, por isso, é merecida. No dia em os jornais mais vendidos e os sites mais visitados em Portugal não sejam os de futebol, a gente conversa. Até lá, as nossas bandeiras vão ser jogadores de futebol que "só" sabem dar uns toques na bola. Antes isso do que o Aeroporto Fanny ou a Praça do Toiros do Zé Maria. Por isso, aceitem que o Ronaldo vai baptizar muitas obras em Portugal e percebam que quem é contra é gente que nunca vai ver o seu nome em nada a não ser na fatura com NIF do Pingo Doce.
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