O meu irmão quando era pequeno dizia que queria ser Dragão com fogo para assar castanhas. Agora quer ser designer. A criatividade que se perde em menos de 20 anos. O mundo faz-nos isto. Temos sonhos e arrumamo-los na gaveta do fundo juntamente com as recordações de amores passados. Ficam ali, não gostamos de as deitar fora mas também nunca mais lhes vamos mexer.
Vivemos um período estranho. Um período onde dizer mal de quem não consegue alcançar os seus sonhos é considerado discurso motivacional. Não me entendam mal, eu sou dos primeiros a dizer que somos um país de trabalhadores calões, que preferem queixar-se no café do que trabalhar. Mas isso é porque gosto de generalizar e sou parvo, não me levo a sério ao ir falar sobre isso em frente a uma plateia com o intuito de dizer que eu cheguei onde cheguei porque bati punho. Talvez porque ninguém me pague para isso ou porque ainda não tenha chegado a lado nenhum. Mas bati muito punho, principalmente depois de ter internet em casa, ali por volta dos 13 anos, timing perfeito. O pessoal da minha geração é o único que teve o início da puberdade que coincidiu com o início da internet em casa. Ele há com cada conveniência... Mas não era à grande como agora. Antes de mais toda a gente em casa ficava a saber quando se ligava a internet, devido ao canto da sereia que o modem nos oferecia. Depois não era cá vídeos HD com stream em tempo real. Era fotos, má qualidade e com tempos de loading que um gajo tinha que puxar pela imaginação entre cada imagem para não se perder o entusiasmo.
Bem distanciem-me um pouco do tema. Voltando ao bater punho metafórico. Eu acredito na inequação que quem é rico e tem sucesso no que faz, lutou por isso, trabalhou muito mais do que a maioria está disposto. Principalmente os que vieram do nada, porque quem já herda dinheiro é muito mais fácil fazer mais. Agora o contrário não é verdade. Toda a gente que trabalha no duro e arrisca e se empenha tem sucesso. Mentira. A maioria está na miséria porque arriscou demais, ou porque simplesmente era mau a fazer o que tentou fazer. Outros dirão que foi sorte. E foi. Mas a sorte procura-se.
E eu fico inspirado ao ouvir uma palestra do Miguel Gonçalves, do Ricardo Diniz ou do Manuel Forjaz. Faz-me sentir que tudo é possível, que só depende de mim e como eu tenho confiança nas minhas capacidades fico a pensar que vou ter sucesso e ser milionário já amanhã. Mas depois penso melhor e vejo que é tudo uma treta que lhes sai da boca para fora. É giro, é inspirador, são grandes oradores e têm boas histórias e metáforas bonitas para contar. Também fazem falta e gosto de os ouvir. Mas são tretas. Se os ouvirmos sabendo que estão apenas a fazer isso, a contar uma história com uma boa moral não tenho problemas com eles. Tenho problemas quando acham que a receita do seu sucesso pode ser replicada bastando querer. O sucesso deles deve-se a eles mas também se deve aos ingredientes à sua volta. Que muitos, ou a maioria não tem.
E eu fico inspirado ao ouvir uma palestra do Miguel Gonçalves, do Ricardo Diniz ou do Manuel Forjaz. Faz-me sentir que tudo é possível, que só depende de mim e como eu tenho confiança nas minhas capacidades fico a pensar que vou ter sucesso e ser milionário já amanhã. Mas depois penso melhor e vejo que é tudo uma treta que lhes sai da boca para fora. É giro, é inspirador, são grandes oradores e têm boas histórias e metáforas bonitas para contar. Também fazem falta e gosto de os ouvir. Mas são tretas. Se os ouvirmos sabendo que estão apenas a fazer isso, a contar uma história com uma boa moral não tenho problemas com eles. Tenho problemas quando acham que a receita do seu sucesso pode ser replicada bastando querer. O sucesso deles deve-se a eles mas também se deve aos ingredientes à sua volta. Que muitos, ou a maioria não tem.
Ou seja, mete-me nojo gajos que vêm dizer que basta bater punho e vender pipocas para pagar os estudos. Que se uma empresa não te contrata é porque tens um mau CV e a culpa é tua. Que tens que vender o teu produto e se o fizeres o desemprego vai-se embora. Por um lado acho que é o discurso que precisamos de ouvir. Acho que precisamos de ouvir que a culpa é só nossa. Que não adianta culpar os outros. Que se não chegamos a lado nenhum na nossa vida é apenas e só porque não nos esforçámos os suficiente. Se calhar é isso que precisamos ouvir. Mas é mentira. E eu sou a favor da verdade. Mas ganha-se mais dinheiro a dizer mentiras.
É preciso empenho? É. Esforço? Sim. Trabalhar no duro? Claro! Mas não basta. E não basta porque não depende só de nós. Depende primeiro que tudo do sítio e das condições onde nascemos. Se temos boa orientação em casa. Se temos possibilidades para ir para uma boa escola. Se nos damos com os amigos certos. Se descobrimos os que gostamos realmente de fazer. Se o mercado tem espaço para nós. Se ganhámos a lotaria genética e com ela a capacidade de trabalhar 10x mais que a maioria. Se o nosso lado direito do cérebro funciona e nos dá a criatividade para nos destacarmos da maioria. Entre tantos outros constrangimentos que ditam o sucesso ou não de uma pessoa.
A premissa do que se batermos punho todos temos sucesso cai por terra na sua génese, no sentido em que se batêssemos todos punho em conjunto éramos todos geniais e como tal não tínhamos nada de diferente em relação aos outros e que nos fizesse destacar (chamo apenas à atenção que um homem que se prostitui a outros homens é, a meu ver, levar demasiado à letra o mote do Miguel Gonçalves).
Se trabalhar no duro, estudar, arriscar, criar, inovar ajuda a arrombar as portas do sucesso? Claro que sim. Mas pode não chegar, e não há problema nisso, é normal, é a vida. O sonho do meu irmão de ser dragão com fogo para assar castanhas, muito provavelmente não se vai concretizar. E isso é bom. Primeiro porque era parvo e segundo porque temos que continuar a ter sonhos que são e ficam apenas isso. Sonhos. Não interessa o punho que batermos, que nunca vão deixar de ser um sonho molhado. E sonhar é bom. Porque se acharmos que tudo é possível como nos sonhos, provavelmente nunca vamos acordar.
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