28 de abril de 2014

Coisas de um casamento



O fim de semana foi bom? Eu tive um casamento na sexta, dia da liberdade ironicamente, e depois os outros dois dias foram de molho que a idade já pesa. Os casamentos são giros, excepto a parte da Igreja. Como era o casamento de um grande amigo fiz o favor de não ficar à porta. Durou mais de uma hora e só Deus sabe o esforço que fiz para ouvir o padre a falar durante tanto tempo, mesmo que intervalado com músicas do senhor cantadas por rapazes imberbes e raparigas de buço. Estava longe para ver tanto detalhe mas é como os imagino. Ver um padre a dar conselhos sobre o casamento e de como manter uma relação feliz, é equivalente a ver um cego a fazer as crónicas dos mais bem vestidos da passadeira vermelha dos Óscares, enquanto diz qual dos filmes deve receber o prémio para melhores efeitos visuais. Mas a bom ver os padres são casados com Deus e não há gajo mais conflituoso que o Senhor, por isso se calhar até sabe do que fala. 

Iniciou a cerimónia com algo deste género, "Temos aqui a noiva tão bonita e o noivo... com umas flores no bolso", referiu ele num apontamento de quem diz "mariquices na igreja é que não!". Foi também a primeira vez que vi um padre a fazer uma metáfora elaborada sobre sexo: "Tendes que tirar pelo menos 15 minutos todos os dias para namorar", disse ele com um sorriso maroto. Depois de acabar a analogia sexual que durou ela também 15 minutos disse "A noiva agora pode ajoelhar-se". Pensei que fosse algum tipo de dicas mais práticas, mas afinal era outra parte já. Eu estava esperançado que ele terminasse a cerimónia com um "Declaro-vos marido e mulher, de hoje em diante já podeis foder". Mas não. Senti-me desiludido.

Chegada a hora de sair da Igreja, a tradicional atira do arroz. Acho que se devia inovar, está na altura de outro hidrato de carbono receber a mesma atenção. Proponho para a próxima um fusilli integral, uma batata doce, ou até mesmo uns flocos de veia com mel. Eu por acaso tinha cozido esparguete para levar e atirar, só para ver se esta moda pega, literalmente, mas esqueci-me num tupperware em casa. Desperdício de comida com tanta gente a morrer à fome, mas estando nós à porta de um Igreja até é coerente.

E pronto, chegou então a altura de ir para o copo de água, altura de confraternizar, ver o noivo a receber os pêsames de mais de 30  gajos que pensavam que estavam a ser originais e de tirar as fotografias da praxe. Aqui fica o meu bem haja ao fotógrafo que era uma personagem, no melhor sentido da palavra. Pouco chato, o que não é costume e juntava às habilidades fotográficas as de entertainer. E não estou a ser irónico, era mesmo um porreiro. Dizia coisas como "Vá envolvam-se mais" ou um ainda "Tens que sorrir mais para a frente". Muito bom. Posto isto foi hora de ir para dentro e celebrar a união de duas pessoas amigas a comer e beber até o corpo dar sinais de alarme.

Coisas que há em todos os casamentos:
  • A mesa dos bêbedos. Há sempre uma mesa que faz a festa sozinha e que, invariavelmente é a onde eu me encontro. Uma mesa que já trata os empregados por tu, sabe de onde eles são e conhece alguém da terra deles.
  • Aquela família que mesmo separados se percebe que são parentes pela falta de gosto de toda a indumentária. Normalmente o pai parece um talhante de fato, a mulher uma peixeira enrolada num cortinado e os dois filhos, um pouco obesos, saídos de uma série infantil mexicana dos anos 80/90.
  • Mulheres a trocarem os saltos altos por chanatas assim que o pessoal já está bêbedo não repara na elegância das mulheres. Antes disso foram horas de sofrimento, com sapatos de uma altura digna de um acrobata do Circo Chen, enquanto refilam que a calçada não foi  bem feita.
  • Ao fim um grupo de gajos de volta do bar a pedir umas garrafas para facilitar o trabalho ao empregado. Invariavelmente também estou neste grupo.
  • No fim, os noivos com ar cansados e com cara de que não vai haver núpcias para ninguém.
Foi um casamento muito fofo e só espero que o divórcio seja tão ou mais alegre. Um grande viva aos noivos e que estejam juntos e, sobretudo felizes, até que a morte os separe. E que essa morte apanhe trânsito na 2ª circular em hora de ponta e chegue o mais atrasada possível!




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