Ontem no curso que escrita de humor que ando a frequentar tive que fazer um texto. A premissa era escrever sobre algo que se odiasse mas sem nunca dizer mal, para treinarmos assim a ironia. Não está grande espingarda mas foi feito em pressão em 10 minutos, por isso foi o que se arranjou. A parte mais difícil foi escolher uma coisa que odiasse, já que sou uma pessoa que odeia bastantes coisas. Mas acabei por eleger os mitras como foco da minha revolta. Aqui fica o que saiu na altura.
Há vários tipos de pessoa pelas quais nutro sentimentos gostosos, mas as que mais me aquecem a alma são os mitras. Adoro tudo neles. Adoro o serviço público que fazem ao andar com o telemóvel a dar música sem auscultadores. Poupo assim imenso espaço no meu MP3. Nada me dá mais prazer do que ir no 50 para a Buraca ao som de uma bela Kizomba ou Mozart, já que sabemos bem que são estes os principais gostos musicais dos mitras. Aprecio também a bolsa de usar à cintura, mas que eles trazem normalmente ao pescoço, quais são bernardos do gueto, sempre prontos a ajudar os que mais precisam de medicamentos não sujeitos a receita médica, mas que em caso de dúvida ou permanência dos sintomas se deve contactar antes o dealer mais próximo e não o farmacêutico, e sabemos bem que há mais traficantes de serviço do que farmácias. Já que falamos de moda, gosto também das calças descaídas a mostrar o boxer. Parece que foram todos 20 kg mais gordos e que ainda usam as mesmas calças e isso dá-me motivação para fazer dieta. E claro que não há nada que me dê mais regozijo do que ver 1 ou 2 regos farfalhudos por dia. Mas quantos mais melhor claro. Como podemos constatar tudo neles é esteticamente apelativo e isso reflecte-se nos seus carros, onde conduzem de forma soberba, calma e ponderada quais idosos com Alzheimer e Parkinson. As alterações que fazem nos seus bólides, tornando-os obras de arte com rodas, faz-me acreditar que o povo português é o mais criativo do mundo. De certeza que já no tempo dos Descobrimentos havia naus com neons fluorescentes e ailerons catitas a marcar a diferença.
E pronto foi isto que saiu. A professora disse que estava fofo, talvez por também não gostar de mitras, ou então estava apenas a ser irónica.
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